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Fim do kirchnerismo

29 de junho de 2009

A nítida derrota do kirchnerismo nas eleições legislativas argentinas deixa muitas interrogações. O governo de Cristina Fernández terá que compartilhar o poder e mudar de rumo.

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Cristina Fernández de Kirchner terá que encontrar formas de governar sem maioria na Câmara dos DeputadosFoto: AP

O resultado das eleições legislativas do último domingo (28/06) na Argentina representa uma derrota para o governo de Cristina Fernández de Kirchner e para os políticos peronistas atuantes no governo.

O governo provavelmente perderá 22 cadeiras – e com elas a maioria absoluta – na Câmara dos Deputados, além de quatro mandatos no Senado. Embora os números ainda não sejam definitivos, não se espera uma grande alteração deste resultado ao término das apurações.

Sem o apoio do Congresso, a presidente terá dificuldade de implementar seus planos econômicos até o final de seu mandato, em 2011, a não ser que entre em acordo com a oposição.

Movimento peronista racha

Quase 28 milhões de argentinos foram às urnas para expressar sua vontade de mudança, castigando com seus votos a política dos Kirchner. O governo de Cristina Fernández antecipou para 28 de junho as eleições legislativas, inicialmente previstas para outubro deste ano, a fim de sondar a intenção de voto dos argentinos para as eleições presidenciais de 2011.

Ao longo da campanha, veio à tona a grande cisão interna do judicialismo (movimento peronista), uma das duas principais correntes políticas do país, ao lado do radicalismo. Um cenário político com novos partidos e alianças torna difícil prever as consequências desse pleito para a Argentina.

A nova constelação política no Congresso argentino lança questões sobre o que acontecerá nos próximos anos, até a realização das eleições presidenciais.

A DW-WORLD.DE conversou sobre isso com a politóloga argentina Mariana Llanos, do Instituto de Estudos Latino-Americanos GIGA, de Hamburgo. "Nessas eleições legislativas não havia tantas cadeiras em jogo, mas o governo perdeu a maioria absoluta nas duas câmaras. Espera-se que agora ele adote uma atitude mais conciliadora, voltando atrás em alguns de seus projetos, como a Lei de Radiodifusão", comentou Llanos.

Já que essas eleições representaram um plebiscito sobre a política oficial, não se sabe se os deputados da bancada kirchnerista vão respaldar as decisões governamentais até dezembro. O bloco deve começar a se realinhar nesta semana.

Rumo da política econômica em aberto

Quanto à possibilidade de grandes mudanças econômicas, Mariana Llanos acha que "neste contexto não seria prudente planejar nada de controverso, como mais estatizações". Na opinião da especialista, o mais provável é que o status quo se mantenha.

Dificilmente pode-se prever em que resultará a atitude conciliadora do ex-presidente Kirchner, afirma Llanos. "Pode ser que ele adote políticas menos agressivas ou dê sinais de que o governo não levará adiante certos projetos. Ou então tentará fazer alianças políticas, dando algum ministério à oposição", cogita a politóloga.

"Mesmo assim, é impossível imaginar como o kirchnerismo continuará governando sem maioria no Congresso. No ano passado, devido aos conflitos com o setor agrícola, esperava-se que eles tomassem uma atitude diferente, mas isso não chegou a acontecer. Com tais antecedentes, por que isso haveria de ocorrer agora?", questiona Llanos.

Diante da mudança dentro do Congresso, o futuro quadro econômico da Argentina implicaria cultivar relações com órgãos internacionais de crédito e talvez um pouco mais de sensibilidade quanto aos protestos dos trabalhadores e empresários do setor agropecuário. Neste ponto, opina Mariana Llanos, seria urgente ponderar bem os passos a serem dados em um futuro próximo.


Autora: Cristina Papaleo

Revisão: Roselaine Wandscheer