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Festa de rua paulistana em turnê europeia

Marco Sanchez8 de junho de 2015

Em extensa turnê pela Europa, a Selvagem mostra por que se tornou uma das festas mais badaladas de São Paulo. Com agenda lotada, DJs Trepanado e Millos Kaiser percorrerão oito países em 50 dias de shows.

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Selvagem
Foto: Hick Duarte

Criada em 2011 pelos DJs Trepanado e Millos Kaiser, a Selvagem se tornou uma das mais bem sucedidas festas da noite paulistana pelo seu caráter involuntariamente subversivo.

Horário alternativo, utilização do espaço público, diversidade absoluta de frequentadores e o renascimento de diversos gêneros da música brasileira misturado com disco, house e world music são alguns dos motivos do sucesso da festa semanal, que se espalhou pelo mundo e agora chega a clubes e festivais europeus.

Depois de apresentações nos Estados Unidos e uma turnê europeia em 2014 – que durou 10 dias, 4 festas e passou por 3 países – a dupla de DJs volta para uma extensa turnê no velho continente. Só que dessa vez serão mais de 50 dias tocando em festivais e clubes de Lisboa a Moscou, passando por Istambul, Córsega e Londres.

A DW Brasil conversou com o DJ Trepanado (Augusto Olivani) sobre a origem da festa, seu sucesso, música e a turnê europeia.

Deutsche Welle: Como começou o a Selvagem?

DJ Trepanado: Conheci o Millos em 2011, através de um amigo em comum. Ele vivia dizendo que tínhamos que nos conhecer pela nossa afinidade musical. Eu tive uma festa alguns anos antes em São Paulo, mas só tocava por hobby. Começamos a Selvagem em dezembro daquele ano, sem muita expectativa. O espaço era bacana e encontramos uma galera que procurava algo novo na noite paulistana. Nosso timing foi muito bom.

Selvagem
DJs Millos Kaiser (e) e Trepanado (d)Foto: Eduardo Magalhães

Vocês criaram o formato da festa?

O pessoal da Voodoohop foi o pioneiro, mas eles têm um espírito mais cigano. Eles tinham esse espaço no Paribar [no centro de São Paulo], mas não estavam dando conta. Nessa época, eles começaram a se fragmentar, e pessoas ligadas ao coletivo começaram a fazer outras festas, como a Calefação Tropical, Mamba Negra, Venga Venga. Fizemos um teste e pegou.

A cena dos clubes estava um pouco caída na época. Eu venho dessa cultura, mas alguns estilos estavam desgastados. Começamos a fazer festas com estilos musicais diferentes, e as pessoas começaram a orbitar. Fizemos um trabalho para mudar a referência das pessoas. Pensamos na identidade visual, sonora, no público, no espírito. De repente, tínhamos uma coisa muito saudável em mãos. Foi incrível. A festa sempre funcionou como uma zona autônoma temporária, onde todo mundo é bem vindo, pode ser o que é, na luz do dia, sem qualquer julgamento.

Quais foram as inspirações para a Selvagem?

Tínhamos todo um histórico de festas de rua, do começo do hip hop, do funk e até mesmo do carnaval. As festas de Ibiza do final dos anos 1980, uma coisa mais viajante e a The Loft em Nova York. Foram conceitos que fomos retrabalhando. Víamos o que funcionava. Depois de um tempo começamos a misturar música brasileira. Não tocamos uma coisa só. Qualquer coisa está valendo.

Houve preconceito em relação à musica brasileira?

Escolhemos um nicho que ninguém estava ligando: a discoteca e o boogie do começo dos anos 1980, Sandra de Sá, Lincoln Olivetti. Começamos com isso, mas estamos expandindo, pesquisando artistas brasileiros do pós-punk, tocando Arrigo Barnabé na velocidade errada, começamos a ter outro recorte. Queremos ter um espírito internacional com um sotaque brasileiro. Eu fui reticente com vários desses artistas, não cresci ouvindo Caetano, Chico Buarque, Gal e Leila Pinheiro. Aos poucos fomos trazendo isso para os nossos sets. Hoje misturamos música brasileira com techno da Indonésia.

Vocês também estão produzindo música?

Sim. As produções foram outro passo. Lançar discos fora do Brasil é outra maneira de colocar as coisas em movimento. Você é mais visto no mercado internacional. Lançamos alguns singles de edit e versões de obscuras faixas brasileiras. Estamos procurando uma gravadora para lançar uma nova música que fizemos com o pessoal do Carrot Green.

Como são os sets da Selvagem fora do Brasil?

Algumas vezes tocamos mais música brasileira, mas sempre misturamos para dar um sotaque mais exótico. Não conseguimos competir com a velocidade que as pessoas consomem música na Europa. Essa mistura de música brasileira, do mundo e disco americana não é algo que as pessoas vêem por aqui. Estamos trabalhando esse espectro.