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Falta de solidariedade ou tendências anti-semitas?

(sv)4 de maio de 2005

Historiador afirma: comparação feita por social-democrata entre investidores financeiros e "gafanhotos" remete à ideologia nazista. Debate sobre capitalismo na Alemanha é "antigo" em outros países, dizem especialistas.

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Em cartaz: Marx, Engels, Lenin e MünteferingFoto: AP/SO

As críticas da cúpula do Partido Social Democrata (SPD) – a facção do chanceler federal Gerhad Schröder – ao capitalismo e à "falta de solidariedade" do empresariado do país causaram nas duas últimas semanas uma série de polêmicas no país.

A mais forte delas foi provocada pelo pronunciamento do historiador Michael Wolffsohn na última terça-feira (3/5), afirmando que Müntefering teria se servido da ideologia nazista ao comparar "determinados investidores do sistema financeiro" a gafanhotos, que "baixam nas empresas, devastam tudo e seguem em frente".

"Extermínio de pragas" – Segundo Wolffsohn, que é professor de História da Universidade das Forças Armadas, em Munique, o político social-democrata teria se apropriado de uma comparação anti-semita freqüente entre os nazistas, ao comparar humanos a animais. Em ensaio publicado originariamente no diário Rheinische Post, o historiador nascido em Israel, filho de uma família alemã de origem judia, ressaltou que 60 anos após o Holocausto "as pessoas continuam sendo equiparadas a animais, que – implicitamente – devem ser exterminadas como uma praga".

Tais paralelos, de acordo com Wolffsohn, fizeram parte do repertório nazista. "Essa 'praga' chama-se hoje de gafanhotos; antes eram 'ratos' ou 'judeus porcos'", dispara o historiador. E as denúncias não param por aí. De acordo com Wolffsohn, o governo social-democrata teria uma "lista negra" de investidores financeiros, supostamente defensores de um capitalismo exacerbado, da qual fazem parte pelo menos duas empresas com nomes judeus.

Michael Wolffsohn
Michael WolffsohnFoto: dpa

Outsider – Michael Wolffsohn, segundo o Financial Times Deutschland, não é o tipo de personalidade que se encaixa em categorias fixas. "Muito à direita para os de esquerda, muito judeu para os de direita, defensor em demasia do nacionalismo alemão para os judeus e sionista em excesso para os defensores de um nacionalismo alemão", resume o jornal. Um professor universitário e autor de diversos livros, cuja presença na mídia não é de todo incomum.

Em maio do último ano, Wolffsohn defendeu em pleno programa de entrevistas na TV alemã "a legitimidade da tortura na campanha antiterror". Acusações de anti-semitismo, no entanto, não costumam fazer parte de seu repertório de polêmicas, que já foram até mesmo provocadas por acusações de que representantes judeus estariam dando peso excessivo ao passado nazista do país.

Quatro pontos – Entre as fileiras do SPD, as declarações de Wolffsohn desencadearam uma enorme polêmica. Os comentários vão de "inaceitável" e "absurdo" até a frase "este homem não bate bem", pronunciada pelo deputado Rainer Wend. O próprio Müntefering revidou a acusação e apelou para um acirramento do debate em torno do que chama das diretrizes que devem guiar o Partido Social Democrata nos próximos 25 anos.

Para reafirmar sua crítica ao capitalismo, o político defende um "plano de quatro pontos" para a política econômica do país. Deste fazem parte a criação de salários mínimos para todos os setores da Economia, a publicação dos salários de executivos, a redução dos juros cobrados em empréstimos a pequenas e médias empresas e o estabelecimento de taxas tributárias comuns na Europa.

Outros países – Os franceses, por exemplo, "convivem com o assunto há mais tempo que os alemães", afirma Henrik Uterwedde, vice-diretor do Instituto Franco-Alemão, voltado para a discussão de questões sobre o capitalismo e a globalização na França. No país, no entanto, debates envolvendo o neoliberalismo baseiam-se em terreno mais sólido, através do papel desempenhado, entre outros, por parte dos sindicatos e pelas organizações antiglobalização como Attac e o Partido Comunista.

Além disso, os franceses já têm, segundo Uterwedde, uma experiência mais larga em relação às demissões em massa. "Nas 40 empresas mais importantes do país, 40% do capital está nas mãos de acionistas estrangeiros". Uma lista negra dos "piores capitalistas", no entanto, não existe na França, segundo o especialista. "Quando um debate é levado a cabo já há muitas décadas, ele se torna mais maduro", completa.

Menor temor – Em outros países europeus, como na Escandinávia ou na Holanda, por exemplo, reformas sociais já foram realizadas há mais tempo e o temor frente à globalização é sensivelmente menor. O Reino Unido, por sua vez, já iniciou as reformas nos anos 80. "Agora é o país com o menor número de oscilações em termos de crescimento", diz Joachim Volz, do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica.

Mesmo assim, a Alemanha não está sozinha na discussão sobre a necessidade ou não de frear o capitalismo. Na Itália, debate-se no momento sobre a situação de trabalhadores obrigados a receber parcos salários e a engolir a falta de quaisquer proteções sociais. Também os salários dos executivos são um ponto de discórdia em vários países.