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Eleições no Haiti

29 de novembro de 2010

Para observadora internacional que acompanhou as eleições, a comunidade internacional poderia ter prevenido desorganização. Denúncias de fraude circundam a contagem de votos no Haiti.

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Longas filas na hora de votar foram observadas em todo o paísFoto: picture-alliance/dpa

Um dia depois das eleições presidenciais e legislativas no Haiti, há um clima de frustração entre muitos eleitores. Sob o trauma de um terremoto catastrófico e dos efeitos arrasadores da epidemia de cólera, os haitianos colecionam mais um episódio triste.

"Era um desastre previsível. Era preciso muito mais tempo de preparo para que essas eleições fossem realizadas com sucesso", sentencia Brian Con­can­non Junior, diretor do Instituto para Justiça e Democracia no Haiti (Institute for Justice & Democracy in Haiti), baseado em Boston.

Relatos de observadores internacionais que acompanharam a votação dizem que muitos eleitores, mesmo com o cartão de identificação necessário em mãos, não conseguiram chegar às urnas porque não encontravam seus nomes nas listas que indicavam os locais de votação. Estima-se que cerca de 10% dos haitianos não tenham sequer conseguido retirar a identificação nacional exigida para votar.

"O Conselho Eleitoral tinha a obrigação de providenciar toda a infraestrutura para que isso acontecesse, assim como a Organização dos Estados Americanos, a União Europeia e todas as organizações internacionais que participaram e tentaram assegurar que essas eleições fossem democráticas", disse por telefone à Deutsche Welle Nicole Phillips, que está no Haiti.

A advogada norte-americana fez parte do time de mais de dois mil observadores internacionais que acompanhou as eleições no Haiti neste domingo (28/11). E decreta, sem medo de ser injusta: "Eu não acho que o fato de essas eleições terem fracassado se deva ao terremoto que arrasou o país. Foi uma falha da comunidade internacional, que tinha que assegurar que o Haiti tivesse eleições livres e democráticas."

Motivação para protestos

Diante do cenário tumultuado, Brian Con­can­non Junior não arrisca se o resultado das eleições, independentemente de qual seja o vencedor, será aceito pelas Nações Unidas e pela comunidade internacional. Até a tarde desta segunda-feira, não havia sinais de que as eleições seriam canceladas.

Os protestos que tomaram as ruas da capital Porto Príncipe antes da votação, motivados pela epidemia de cólera e pela presença da Minustah, a missão de paz das Nações Unidas, podem voltar a acontecer.

"Há um clima geral de frustração. Eu conversei com muitos observadores e haitianos sobre isso. Há as pessoas que não conseguiram votar, as que denunciaram as corrupções nos pleitos, enfim, há muitos motivos para as pessoas continuarem as manifestações nas ruas", avalia Nicole Phillips.

Ocupação estrangeira

Para as forças da Minustah, responsáveis pela segurança no Haiti, a situação pode ficar mais problemática, segundo a avaliação da observadora. "A presença deles aqui é vista, agora, mais como uma ocupação estrangeira. É uma presença provocadora, que mais provoca do que previne a violência.".

De Boston, o diretor do Instituto para Justiça e Democracia no Haiti aponta ainda outras críticas: "Há muito descontentamento com a presença da missão da ONU. Em parte, porque os 6 milhões de dólares que estão sendo gastos por ano poderiam, por exemplo, ir para outras áreas importantes, como saneamento, saúde e educação no Haiti."

O porta-voz do batalhão brasileiro no Haiti, coronel Valdir Campelo, tem uma opinião diferente: "Esses episódios são muito recentes para saber se haverá uma mudança na recepção dos haitianos. Não houve um enfrentamento com a tropa e não acredito que esse cenário mude. A receptividade aos soldados brasileiros sempre foi muito boa."

Em época eleitoral, os ânimos ficam mais exaltados, ressalta Campelo, acrescentando: "Diferentemente do Brasil, onde sabemos quem é o vencedor no mesmo dia, aqui no Haiti esse resultado só deverá sair em 6 de dezembro."

O coronel Maurício Cruz, porta-voz da Minustah, diz que o trabalho de recolhimento das urnas segue sem problemas nesta segunda-feira e que, até o momento, a população parece estar satisfeita com o trabalho da missão, principalmente na atuação de combate à epidemia de cólera.

Autora: Nádia Pontes
Revisão: Simone Lopes