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Exposição sobre Revolta de Varsóvia resgata capítulo da Segunda Guerra

Kay-Alexander Scholz (av)30 de julho de 2014

Outros episódios do conflito fazem ação da resistência polonesa contra os nazistas em 1944 ser às vezes deixada de lado. No entanto, ela é essencial para compreender o país e agora é tema de mostra em Berlim.

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Ao lado de um veterano da rebelião de 1944, presidentes Joachim Gauck (c) e Bronisław Komorowski (d)Foto: picture-alliance/dpa

Juntamente com veteranos da rebelião, os presidentes da Alemanha, Joachim Gauck, e da Polônia, Bronisław Komorowski, abriram nesta quarta-feira (30/07), em Berlim, uma exposição dedicada à Revolta de Varsóvia de 1944. A mostra, no museu histórico Topografia do Terror, revela numerosos fatos inéditos sobre um capítulo da Segunda Guerra Mundial insuficientemente conhecido.

O exército de resistência polonês começou o levante contra os ocupadores alemães em 1º de agosto de 1944, visando libertar sua capital, símbolo da independência nacional. Até a capitulação dos revoltosos, três semanas mais tarde, 15 mil deles haviam morrido nos combates, assim como pelo menos 150 mil civis.

Logo após o início do movimento, Adolf Hitler decretara em Berlim "sentença de morte para Varsóvia": todos os seus habitantes deveriam ser mortos, e a cidade, arrasada.

Na Polônia, critica-se que a rebelião teria sido irresponsável e pouco inteligente, um suicídio coletivo. Porém, como observou o presidente alemão na inauguração da mostra, para muitos poloneses ter vencido a impotência foi mais significativo do que a derrota militar.

Deste modo, também depois de 1945, durante o regime soviético – ou o "tempo da não liberdade", como o denominou Gauck – a Revolta de Varsóvia teria sido um "importante ponto de referência para os poloneses oposicionistas" e, por fim, para a vitória do movimento Solidarność (Solidariedade), em 1989.

Gauck afirmou que é "uma virtude lutar, mesmo quando o sucesso é altamente incerto". Pois, em suas palavras, a liberdade é preciosa ao ponto de, se necessário, ser defendida com a própria vida. E essa é a mensagem da Polônia para seus vizinhos europeus, comentou.

O chefe de Estado recordou, ainda, suas próprias vivências: como oposicionista do regime comunista da antiga Alemanha Oriental (RDA), o exemplo polonês de 1989 ajudou-lhe a "encarar um risco, embora o desfecho pacífico do nosso movimento não fosse previsível".

Warschauer Aufstand 1944
Soldado da resistência polonesaFoto: Museum Warschauer Aufstand 1944 in Warschau

Resgate de fatos esquecidos

O polonês Museu da Revolta de Varsóvia organizou a exposição em conjunto com a fundação Topografia do Terror. A pouca distância da Praça de Potsdam, onde ficavam as sedes da Gestapo e da organização paramilitar SS, mais de 60 murais e meia dúzia de cabines multimídia contam a sofrida história recente de Varsóvia.

A história vai de uma metrópole pulsante no começo do século 20, uma cidade sitiada na Segunda Guerra, passando pelos 63 dias do levante e a subsequente destruição, até a reconstrução depois de 1989, quando se tornou uma cidade moderna, com impressionante perfil arquitetônico.

Na opinião de Gauck, "estava mais do que na hora" de uma mostra assim. Pois, primeiramente, na Alemanha o registro dos mais de cinco anos de ocupação da Polônia pelos nazistas costuma ser suplantado por outros eventos.

Em segundo lugar, vê-se em Berlim é uma perspectiva especificamente polonesa, ajudando a entender o papel especial que a rebelião representa naquela sociedade, e por que, para muitos poloneses, liberdade e independência são "tão essenciais, até hoje".

Ânsia de liberdade como herança

Em seu discurso, Joachim Gauck também mencionou o fato de quase não ter havido ajuda de fora, durante a Revolta de Varsóvia. Seu homólogo polonês foi ainda mais explícito: o Exército Vermelho da Rússia e os nazistas alemães foram "aliados em destruir o sonho polonês".

Bronisław Komorowski classificou a mostra em Berlim como "um sinal de honra para os revoltosos". Pois se tratou de uma rebelião de homens livres, e não de um movimento espontâneo, disse. Apesar do terror quotidiano, agia um exército clandestino, o mais forte da Europa, na época, que contava com "a legitimação do povo".

Os sonhos de liberdade da revolta de Varsóvia contra o autoritarismo marcaram as próximas gerações, e esses sonhos foram transmitidos dentro das famílias, afirmou o chefe de Estado, que é parente de um dos líderes do levante, o general Bór-Komorowski. Uma lição tirada desses acontecimentos, prosseguiu, foi a renúncia total à violência pelo movimento Solidarność, em sua luta pela liberdade.

Warschauer Aufstand 1944
Varsóvia em ruínas, após a rebeliãoFoto: Museum Warschauer Aufstand 1944 in Warschau

Reconciliação quase milagrosa

Joachim Gauck não deixou de enfatizar que "a persecução penal dos principais responsáveis foi hesitante ou totalmente ausente, na jovem República Federal Alemã". Assim, para ele, é quase um milagre que os dois povos agora sejam "não apenas vizinhos, mas amigos que se gostam".

O político alemão revelou-se comovido por os poloneses terem conseguido perdoar os alemães quando estes mostraram penitência, e que tenham superado o "ódio, ira e desconfiança", quando eles reconheceram sua "culpa e vergonha".

Segundo Komorowski, a Alemanha e a Polônia escrevem, hoje, um novo capítulo de uma "comunidade de destino" positiva. Ele acentuou as relações muito especiais existentes – por exemplo, entre as duas capitais, Varsóvia e Berlim, que "ressuscitaram, ambas, das cinzas, como a Fênix". O presidente polonês disse desejar que o rastro deixado pela atual exposição se eternize.