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Eurocéticos festejam Brexit e pedem mais referendos na UE

Jean-Philip Struck24 de junho de 2016

Da França à Itália, populistas pedem que população seja ouvida sobre a permanência no bloco. Perspectiva de novas consultas, porém, é remota, e apoio à UE é grande em outros países.

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Marine Le Pen
Foto: Getty Images/AFP/P. Guyot

Políticos eurocéticos celebraram nesta sexta-feira (24/6) o resultado do referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia (UE). Os partidários da saída, ou Brexit, venceram com 51,9% dos votos, lançando temores de que movimentos similares se espalhem por outros países do bloco.

"Vitória da liberdade! Como eu tenho pedido há anos, é preciso que seja realizado o mesmo referendo na França e nos demais países da UE", declarou Marine Le Pen, presidente do partido de extrema direita francês Frente Nacional (FN), em sua conta no Twitter.

Já o deputado holandês Geert Wilders disse que "a elite eurófila foi derrotada, os britânicos mostram à Europa o caminho para o futuro e a libertação". Ele também pediu um "referendo sobre um 'Nexit', uma saída holandesa da UE". Em abril, os holandeses já haviam sacudido as estruturas da UE quando rejeitaram – em referendo – o ingresso da Ucrânia no bloco.

Na Itália, Matteo Salvini, líder do partido eurocético e anti-imigração Liga do Norte, festejou o resultado e disse "obrigado, Reino Unido, agora é a nossa vez".

O Partido Popular dinamarquês, outra sigla eurocética que exige um referendo sobre uma renegociação dos termos do acordo do seu país com a UE, declarou em comunicado que "é ótimo que os autores desta campanha de intimidação tenham sofrido um retrocesso".

Geert Wilders
Para Geert Wilders, "elite eurófila foi derrotada"Foto: Reuters/L. Balogh

Na Alemanha, Frauke Petry, chefe do partido populista de direita AfD, afirmou querer "uma Europa de pátrias". "Se a UE não desistir (...) de sua experiência quase socialista de integração, os povos europeus vão recuperar a sua soberania à maneira britânica", disse.

Falta de capital político

Apesar das celebrações dos eurocéticos, não há previsão de que referendos no modelo britânico sejam organizados em outros países-membros nos próximos meses. Os políticos que celebraram o resultado também não têm capital político para convocarem consultas – ao menos por enquanto.

O partido de Le Pen, por exemplo, só conta com dois deputados na Assembleia Nacional francesa. A sigla de Wilders tem apenas 12 dos 150 deputados na Câmara holandesa. O mesmo ocorre na Dinamarca e na Itália (onde a Liga do Norte e o partido Cinco Estrelas, de tendência eurocética mais suave, não têm maioria).

No momento, nenhum dos líderes que ocupam a chefia de governo ou de Estado de outros países-membros se manifestou favor de referendos. As consultas também podem esbarrar na legislação local. No caso holandês, por exemplo, o jornal alemão Süddeutsche Zeitung afirma que eles só podem ser usados no país para consultar a população sobre tratados que ainda não foram ratificados. Já na República Tcheca, uma tentativa em maio do partido de direita Úsvit de organizar um referendo fracassou no Parlamento.

Apenas a Hungria está preparando um referendo. Porém, o tema não é a permanência do país na UE, mas se os húngaros aceitam o plano de redistribuição de refugiados entre os países-membros, um programa fortemente contestado por Budapeste. A data da votação ainda não foi confirmada, mas ela deve ocorrer ainda em 2016.

Infografik EU-Referendum UK Brexit BRAS

Apoio à UE

Uma pesquisa realizada em abril pelo instituto Ipsos Mori mostrou que, apesar de alguns números indicarem haver apoio popular para a realização de outros referendos sobre permanência, não existe uma maioria clara pela saída em outros países da UE.

Na Alemanha, por exemplo, 40% da população apoia a realização de um referendo, mas só 34% afirmaram que votariam pela saída do país da UE. Na França, 55% afirmaram que gostariam de uma consulta sobre o tema, mas apenas 41% disseram ser favoráveis a uma saída. Na Itália, 58% querem um referendo, mas só 48% gostariam de ver o país fora da UE. Na Polônia, apenas 22% querem que o país deixe o bloco. Números similares foram observados na Espanha, na Hungria, na Bélgica e na Suécia.

Uma pesquisa encomendada pela Comissão Europeia no fim do ano passado também mostrou que apoio à UE persiste entre os habitantes do bloco. A visão positiva do bloco passa de 50% em países como Polônia, Romênia, Irlanda e Lituânia, enquanto a maioria nos outros países oscila entre o olhar positivo ou neutro. Sentimentos negativos só são mais expressivos na Áustria, na Grécia e no Chipre.