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EUA e Rússia debatem segurança aérea na Síria

Spencer Kimball, de Chicago (fc)15 de outubro de 2015

Um caça russo e um americano estiveram separados por apenas alguns quilômetros. Mas, para especialista, ambos os lados têm interesse em exagerar os riscos, e o verdadeiro perigo está na invasão do espaço aéreo turco.

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Caças F-15 dos EUA no espaço aéreo iraquiano, após realizarem ataques na SíriaFoto: picture alliance/dpa/Matthew Bruch

O ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, está preocupado. Aviões da Rússia e dos Estados Unidos operam numa zona de guerra ativa e, por vezes, muito próximos uns dos outros. No entanto os dois países não fazem parte da mesma coalizão e, em muitos aspectos, seus objetivos são conflitantes.

"Precisamos urgentemente alertar a Rússia e os EUA para não realizarem suas ações militares de forma a desencadear um conflito entre Moscou e Washington", comentou Steinmeier nesta quarta-feira (14/10).

No último final de semana, um avião russo e um americano estiveram separados por apenas alguns quilômetros de distância na Síria. De acordo com o porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia, Igor Konashenkov, o piloto russo estava tentando identificar o avião americano, e a manobra realizada não teve finalidade de ameaça. Konashenkov assegurou que esse não foi o primeiro incidente do gênero.

Por sua vez, o coronel Steven Warren, porta-voz da aliança militar internacional liderada pelos EUA para combater o "Estado Islâmico" (EI), afirmou que, sob as circunstâncias dadas, os dois pilotos se comportaram "de forma adequada". Mesmo assim, expressou preocupação com o potencial de conflito.

"É perigoso dois aviões entrarem no mesmo espaço aéreo sem protocolos muito claros, estipulados para a segurança de todos os envolvidos. Por isso, nós nos sentamos com os russos para estabelecer alguns protocolos de segurança", disse Warren.

Nesta quarta-feira, autoridades russas e americanas realizaram uma terceira rodada de conversações com o fim de estabelecer normas para as operações no espaço aéreo sírio. Segundo a agência de notícias AFP, que ouviu um participante da reunião, um acordo deve ser alcançado nos próximos dias.

Desentendimentos russos

O especialista em Rússia e segurança nacional da Universidade de Nova York Mark Galeotti avalia que o risco de caças dos EUA e da Rússia entrarem em choque é exagerado. Afinal, a Força Aérea do regime do presidente sírio, Bashar al-Assad, também tem realizado operações nas proximidades de aviões americanos, sem qualquer tentativa de coordenação das manobras, e até agora não houve nenhum incidente grave.

"Isso é algo que ambos os lados têm interesse em exagerar", avalia Galeotti. "Os russos porque estão tentando garantir que os americanos se comuniquem com eles. E os americanos para deixar claro como os russos têm brincado com fogo."

Para o especialista, os perigos são outros. Já por duas vezes caças russos violaram o espaço aéreo turco. No primeiro incidente, Moscou culpou as más condições atmosféricas na região. Ancara advertiu que responderá a violações de seu espaço aéreo. Como país-membro da Otan, a Turquia está coberta pela cláusula de defesa coletiva da organização.

"Eles deviam estar voando muito próximo do espaço aéreo turco e se desviaram da rota", comenta Galeotti. "Os americanos têm um alto nível de restrição, comando e controle. Mas, com os turcos, não é tão claro se eles refletiriam com cuidado antes de fazer algo."

O jornal Sunday Times noticiou no fim de semana que pilotos da Força Aérea britânica teriam recebido permissão para abater aviões russos em caso de ameaça. Em reação, Moscou convocou o adido de defesa da embaixada britânica. Londres afirma que a notícia é imprecisa.

Aviões britânicos participam da coalizão liderada pelos EUA contra a milícia terrorista do EI, realizando ofensivas aéreas no Iraque, mas não na Síria. A Rússia, por sua vez, opera no espaço aéreo sírio, mas não no iraquiano.

Duas guerras, um campo de batalha

Segundo Galeotti, embora haja tensão entre a Rússia e os EUA na Síria, ambos ainda não estão se confrontando diretamente. Moscou tem como alvo principal os rebeldes contrários ao governo sírio, inclusive os apoiados pelos EUA. Washington, porém, se concentrou mais na luta contra o "Estado Islâmico" do que em derrubar regime de Assad ou em resgatar os rebeldes que contam com apoio americano.

"De certa forma, esta é uma situação perversa em que, na verdade, há duas guerras distintas sendo travadas num mesmo espaço de batalha", analisa Galeotti. "Isso é algo absolutamente novo."

O presidente russo, Vladimir Putin, não está satisfeito com a realização de conversas que tenham por finalidade apenas evitar colisões nos céus sírios. Ele quer que Washington coordene os ataques aéreos juntamente com Moscou e unifique as duas guerras numa só.

"Eles querem táticas, fontes e métodos de inteligência, informação, e isso é algo que simplesmente não vai acontecer", aponta Stephen Blank, especialista em Rússia do Conselho Americano de Política Externa, em entrevista à DW. "As autoridades americanas não têm nenhuma razão para confiar em Moscou depois de tudo o que já aconteceu. Elas não vão dar à Rússia o tipo de informação que o país quer para atingir os aliados dos EUA."