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Estação em Berlim usa música atonal contra usuários de droga

21 de agosto de 2018

Música clássica já foi empregada em espaços públicos para abrandar comportamentos antissociais. Agora a companhia ferroviária alemã visa o contrário: "música atonal" para espantar os narcodependentes de suas estações.

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Estação Hermannstrasse: ponto de drogas conhecido em Berlim
Estação Hermannstrasse: ponto de drogas conhecido em BerlimFoto: DW/B. Knight

A estação de S-Bahn (trens urbanos) Hermannstrasse é conhecida como ponto de consumo de entorpecentes em Berlim. Após considerar diferentes estratégias para combater o fenômeno, a companhia ferroviária da Alemanha, a Deutsche Bahn (DB) saiu-se com uma solução inusitada: usar a música como arma no combate às drogas.

Segundo o jornal Tagesspiegel, antes do fim de 2018 a empresa pretende passar a irradiar pelos alto-falantes "música atonal", "porque ela mina completamente os hábitos auditivos tradicionais". "Poucos acham que seja bonita, muitos a percebem como algo de que se deve sair correndo", comentou ao diário o diretor regional Friedemann Kessler, responsável por cerca de 550 estações ferroviárias em Berlim.

Historicamente, o termo "atonal" se refere a um estilo desenvolvido pelas vanguardas europeias no começo do século 20. Considerando esgotados os recursos que até então davam a sensação de harmonia e coerência ao discurso musical, os compositores passaram a dar preferência a combinações e sequências de notas inusitadas, dissonantes. Ela foi uma das tendências execradas pelos nazistas como "degeneradas". O festival Berlin Atonal, por exemplo, se inspira nessa vertente artística modernista.

A ideia de usar a música para confrontar problemas sociais não é inédita. Em 2010, a BVG, companhia de transportes urbanos de Berlim, experimentou usar música clássica para afastar usuários do drogas de uma de suas estações. Em Hamburgo e Londres, as autoridades igualmente irradiaram repertório clássico em estações ferroviárias – embora nesse caso a ideia fosse que ela talvez ajudasse a reduzir o comportamento antissocial.

Diversas estações de metrô são frequentadas por narcodependentes berlinenses
Diversas estações de metrô são frequentadas por narcodependentes berlinensesFoto: DW/B. Knight

No último domingo (19/08), a DW entrevistou usuários dos trens urbanos na Hermannstrasse (não havia qualquer sinal de consumo público de drogas), a respeito da iniciativa da Deutsche Bahn para antagonizar um grupo de frequentadores com música atonal. A recepção foi ambivalente.

"Bem, se eles acham que vai ajudar", disse um dos entrevistados, dando de ombros, antes de lembrar que logo abaixo está uma estação de metrô, e que há muito tempo elas têm fama de ser centro de dependentes de drogas em Berlim.

"Não acho que essa música vai afastar os viciados. Este é um ponto de encontro para eles, mas eles têm um monte de lugares onde se esconder", opinou Janine, usuária regular do S-Bahn. "Você vê eles, sim, e por mim, eu tento passar pela da estação o mais depressa possível."

A moradora Rebecca Habicht revira os olhos com ceticismo. "Tem uma cena de drogados aqui desde que construíram a estação, e eles tentaram várias iniciativas para dar conta disso." Nos mais de 30 anos em que vive no bairro de Neukölln, ela nunca se sentiu pessoalmente ameaçada. "Não acho que se possa fazer nada a respeito, e mesmo que se faça, você só expulsa as pessoas para outro lugar. O que eu acho interessante é o que é essa música atonal, e como ela vai afetar todos os passageiros."

Sara Berg, que trabalha num quiosque na entrada da estação, também convive pacificamente com os consumidores de drogas. "Claro que você sempre vê uns junkies, mas eles sempre são removidos." A polícia e o pessoal de segurança vigiam de perto quem esteja consumindo abertamente, "porque se um se senta, em meia hora você tem uns 20 deles".

Outros, como Shafik Hamuda, estão mais otimistas com os planos da DB. Ele tem uma pequena padaria na plataforma do metrô e é constantemente importunado pelos narcodependentes, sobretudo tarde da noite. "Eles estão sempre tentando roubar bebidas da geladeira, e às vezes são perigosos, especialmente os alcoólatras."

É possível que o plano da DB saia pela culatra. Não é fácil encontrar a medida certa para implementá-lo, admitiu Kessler ao Tagesspiegel. Há também o risco de irritar os passageiros, portanto a música não será tocada nas plataformas, mas só nas áreas de entrada, e a DB vai "experimentar com volumes diversos", aumentando pouco a pouco. Mas "temos que tentar alguma coisa, em vez de capitular", reforçou o diretor.

AV/dw,ots

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