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SaúdeÍndia

Estados da Índia recontam mortos por covid após críticas

Roshni Majumdar Nova Déli
25 de junho de 2021

Após críticas, governos estaduais iniciaram auditoria e acrescentaram óbitos pela doença aos registros. Autoridades negam que omissões tenham sido propositais e apontam que problema nos registros precede a pandemia.

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Corpos são cremados na Índia
Índia registra 393 mil mortos pela doença, mas especialistas estimam que o número real seria muito maiorFoto: Manjunath Kiran/AFP/Getty Images

Alguns estados indianos começaram a revisar seus números oficiais de mortos por covid-19 depois que autoridades do governo nacional da Índia e tribunais estaduais intervieram nas últimas semanas, em meio a um intenso questionamento nacional e mundial sobre a subnotificação de óbitos no país durante a pandemia.

O número total de mortos pela doença na Índia ultrapassou recentemente a marca dos 393 mil, o terceiro país com mais mortes do mundo, atrás do Brasil, com cerca de 509 mil mortes, e dos Estados Unidos, com 603 mil. Mas especialistas estimam que o número real de óbitos na Índia seria muito maior.

Estados que alteraram o número de mortos

O estado de Maharashtra, onde está localizada Mumbai, a maior metrópole indiana, iniciou uma investigação em meados de maio e acrescentou mais de 10 mil mortes por covid-19 em 11 de junho.

O estado de Bihar, na região leste, que apareceu nas manchetes após cadáveres terem aparecido boiando nas margens do rio Ganges, acrescentou quase 4 mil mortes no dia 9 de junho.

Corpos de vítimas de covid-19 flutuam no rio Ganges

Os estados de Rajasthan e Uttarakhand, na região norte, também iniciaram recentemente a revisão de sua contagem de mortos por covid-19.

Já Uttar Pradesh, na região norte e com mais de 200 milhões de habitantes, população quase igual à do Brasil, que foi alvo de diversas críticas pela subnotificação de mortes causadas pela covid-19, ainda não iniciou uma revisão oficial.

"Não se trata de esconder números", diz autoridade

Rajesh Tope, secretário da saúde de Maharashtra, escreveu no Twitter que o governo de seu estado estava trabalhando de forma transparente e que não havia "nenhuma questão de esconder estatísticas". Ele disse que as informações relacionadas às mortes por covid-19 estavam pendentes somente por conta de "dificuldades técnicas".

Pratyaya Amrit, secretário de saúde de Bihar, disse que o acréscimo de 4 mil mortes em apenas um dia estava relacionado a pessoas que morreram em hospitais privados, em isolamento domiciliar ou por complicações posteriores à covid-19.

Após a revisão dos números por alguns estados, o Ministério da Saúde da Índia pediu que todos os governos realizassem a recontagem "de forma adequada".

A autoridade nacional também defendeu a Índia de uma reportagem da revista The Economist publicada em junho, que afirmava que o verdadeiro número de óbitos por covid-19 no país poderia ser de cinco a sete vezes maior do que o informado, classificando o artigo como "especulativo".

Qualidade dos registros é problema, dizem especialistas

Os epidemiologistas concordam que a má qualidade do registro de dados tem sido um grande obstáculo para rastrear as mortes durante a segunda onda de covid-19 na Índia.

Swapneil Parikh, autor do livro The Coronavirus: What you Need to Know about the Global Pandemic (O Coronavírus: O que você precisa saber sobre a pandemia global, em tradução livre), disse à DW que um dos motivos da subnotificação se deve ao fato de os sistemas não serem robustos o suficiente para agregar e informar dados em tempo real.

Ele disse que os números de mortes por covid-19 poderiam ser escondidos no curto prazo, mas que seria muito difícil fazer isso no longo prazo.

O matemático Murad Banaji, que tem acompanhado de perto a segunda onda da covid-19 na Índia, afirmou que a qualidade dos dados varia de acordo com a região do país, e que alguns estados já eram melhores do que outros na tarefa de registrar as mortes mesmo antes da pandemia.

Por exemplo, Bihar, um grande estado rural, já tinha um histórico ruim no registro de mortes, e havia registrado oficialmente apenas 35% das mortes ocorridas no estado em 2018. Além disso, os dados do sistema que registra os nascimentos e mortes não estão disponíveis para consulta pública.

Já o estado central de Madhya Pradesh registrou 79% das mortes em 2018, e os dados de mortalidade estão amplamente disponíveis online, disse Banaji.

Esses dados de mortalidade têm sido usados para estimar a quantidade de "mortes em excesso" causadas pela covid-19, mas as diferentes práticas de registro faz com que a a quantidade real de mortes em excesso não possa ser calculada com precisão em alguns estados.

Outro fator que atrapalha a contagem de mortes por covid-19 na Índia é que muitas das "mortes em excesso" ainda não foram oficialmente confirmadas. 

O médico epidemiologista Chandrakant Lahariya disse à DW que, mesmo antes da pandemia, apenas 25% das mortes registradas no país eram acompanhadas de um atestado clínico sobre a causa da morte.

Contagem prossegue

Apesar das dificuldades, alguns cidadãos indianos estão determinados a vencer essa dificuldade e contar cada morte por covid-19 no país.

A ativista Kavita Krishnan, secretária da All India Progressive Women's Association, lançou recentemente a campanha "Conte Cada Morte", em conjunto com outras organizações. Os voluntários já começaram a documentar as mortes de forma independente, em uma tentativa para chegar a um número verdadeiro.