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Escolas alemãs se preparam para receber refugiados

17 de março de 2022

Milhares de crianças ucranianas chegaram à Alemanha desde o início da guerra. Integrá-las no sistema de ensino é um desafio a mais para escolas já fragilizadas com a pandemia de covid-19.

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Criança desenha na estação central de Berlim
Centenas de crianças ucranianas chegaram à Alemanha desembarcam em Berlim diariamente Foto: Nikita Jolkver/DW

Todos os dias desembarcam na estação central de Berlim refugiados menores de idades que fugiram sozinhos da Ucrânia. Após a partida do trem, voluntários encontram as crianças e adolescentes em pé em silêncio e paralisados na plataforma, abraçados a um ursinho de pelúcia. "Encontramos de cinco a sete crianças nesta situação todos os dias", contou a porta-voz da organização Missão da Cidade de Berlim, Barbara Breuer, ao jornal alemão Tagesspiegel.

Estima-se que metade dos refugiados ucranianos que chegam a Alemanha seja de crianças em idade escolar, que do dia para a noite tiveram que deixar suas vidas para trás para fugir da guerra.

"Autoridades em todos os estados da Alemanha constataram que o fluxo de crianças refugiadas é muito maior do que o esperado incialmente", afirmou o presidente da associação educacional VEB, Udo Beckmann. Ele contou que agora está sendo verificado quais escolas têm capacidade de receber esses alunos e onde há professores especializados no ensino de alemão para estrangeiros.

Mas depois de dois anos de pandemia, que levou o sistema educacional ao limite de sua capacidade de resistência, muitos professores estão exaustos. Mesmo antes da covid-19, muitas escolas já se queixavam da falta de profissionais. E essa situação só piorou com o coronavírus. Estima que 10% dos professores estão afastados, a maioria de licença médica, segundo uma associação da categoria.

De acordo com Beckmann, agora há um desafio duplo: "crianças refugiadas que precisam ser acolhidas em escolas com poucos funcionários".

Há um outro obstáculo ainda maior: muitas destas crianças estão traumatizadas e precisam de um acompanhamento intensivo. "Eles passaram horas e dias fugindo. Provavelmente tiveram que se despedir do pai. Talvez presenciaram sua casa sendo bombardeada", afirmou Anja Bensinger-Stolze, do Sindicato Educação e Ciência.

Essas experiências podem traumatizar crianças e jovens. "Por isso, elas precisam de apoio psicológico oferecido por psicológicos da escola ou professores treinados para isso", acrescenta Bensinger-Stolze.

Gráfico mostra para onde vão os refugiados ucranianos

Professores ucranianos

Especialistas argumentam que jovens refugiados deveriam ser admitidos em escolas rapidamente sem ter que superar obstáculos burocráticos. A ministra alemã da Educação, Bettina Stark-Watzinger, propôs a contratação de professores ucranianos para trabalharem em escolas e jardins de infância na Alemanha para aliviar a emergência de pessoal.

No entanto, não há estimativas sobre o número de professores entre os refugiados e até que ponto eles seriam empregáveis na Alemanha com base em suas qualificações. O presidente da Associação de Professores Alemães, Heinz-Peter Meidinger, é cético. "Isso é uma gota no oceano e não a chave-mestra", ressaltou. Ele espera uma ajuda maior através de professores aposentados que, com catástrofe humanitária, se dispuseram a voltar para a sala de aula.

Meidinger vê o acompanhamento de crianças refugiadas como um "desafio nacional", que não pode ser enfrentado sem a ajuda do governo federal. Além disso, a Alemanha pode aproveitar a experiência da crise migratória de 2015, quando foram criadas classes especiais para ensinar alemão e fatos básicos sobre o país para as crianças e adolescentes sírios.

"Essas estruturas básicas podem ser reativadas rapidamente", afirmou Beckmann. Berlim, por exemplo, já abriu 50 destas turmas para refugiados maiores de 16 anos que chegaram da Ucrânia.

Quantos e por quanto tempo

Mas ainda há perguntas fundamentais em aberto: quantas crianças refugiadas virão? Quanto tempo elas ficarão na Alemanha? A esperança das famílias de poder retornar rapidamente para a casa será concretizada?

Mas uma coisa é certa: a disposição dos alemães em ajudar. "Tenho a impressão que há muita solidariedade. Muitos protestando contra a guerra. Muitos voluntários em situações concretas", ressaltou Bensinger-Stolze.

"Nosso coração é grande, mas nossas possibilidades finitas", disse o então presidente alemão, Joachim Gauck, no auge da crise migratória de 2015. Essa frase soa novamente atual diante do sistema educacional fragilizado.