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Enchentes afogam escândalo e coalizão ganha ponto

Estelina Farias19 de agosto de 2002

Com a maior enchente em um século na Alemanha, caiu no esquecimento, de repente, o grande escândalo de vôos particulares de políticos custeados por bônus adquiridos com milhas voadas a serviço do Estado.

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Gerhard Schröder, de capa de chuva e galochas, falando com uma vítima, ganhou mais popularidade com as inundaçõesFoto: AP

A campanha para a eleição do novo Parlamento da Alemanha, que vai eleger o governo, em 22 de setembro, tomou um rumo totalmente inesperado em conseqüência das inundações. Em todo o país, os políticos mudaram o curso de suas campanhas eleitorais e os temas abordados, a fim de sensibilizar o eleitorado, principalmente os 45% de indecisos. Os meios de comunicação deixaram de falar dos dois deputados de centro-esquerda que renunciaram por causa dos bônus de milhas da Lufthansa. Os políticos esqueceram, igualmente, sua acusação de que o jornal mais popular alemão, Bild, estaria fazendo campanha contra a coalizão de governo social-democrata (SPD) e Verde, divulgando apenas nomes dos dois partidos, em vez da lista completa dos envolvidos no escândalo.

O debate político nacional está sendo dominado por propostas de medidas para reparar os danos materiais. Os políticos, tanto de direita quanto de esquerda só excluem um aumento ou criação de imposto, como é natural em campanha eleitoral. Com a exceção dos líderes da antiga República Democrática Alemã (RDA), a região mais pobre e mais castigada pelas inundações. Dadas as proporções gigantescas da destruição, eles não excluem um aumento do imposto de solidariedade, criado após a unificação para garantir a equiparação progressiva das infra-estruturas da ex-RDA comunista às da região ocidental, que sempre foi capitalista. Nas circunstâncias atuais, não existe tema tabu, segundo o ex-governador de Brandemburgo, Manfred Stolpe, e o presidente do Parlamento, Wolfgang Thierse, ambos social-democratas da ex-RDA.

Dividendos eleitorais

O chanceler federal, Gerhard Schröder, foi um dos primeiros políticos a visitar as regiões inundadas. Sua proposta inicial de socorrer o leste alemão com o dinheiro do Pacto de Solidariedade II (105 bilhões de euros) foi rejeitada de forma categórica pela oposição, mas sua reação frente às enchentes lhe rendeu ainda mais popularidade pessoal. Se o chefe de governo fosse eleito diretamente pelo povo, Schröder teria 44% de todos os votos e 51% no leste alemão, mais castigado pelas enchentes. Seu concorrente, Edmund Stoiber, candidato comum da oposição de centro-direita social cristã e democrata-cristã (CSU e CDU) teria apenas 28%.

O resultado das últimas pesquisas sobre intenções de voto mostram, todavia, que os eleitores alemães não se deixam influenciar facilmente. Apesar da grande aprovação de Schröder, o seu SPD só ganhou mais 1%. Seu parceiro de coalizão, o Partido Verde, também ganhou 1%. O trio CDU, CSU e Partido Liberal (FDP) perdeu um ponto percentual, cada um, mas se mantém na dianteira. Se a eleição fosse hoje, os três partidos de oposição de centro-direita resgatariam dos social-democratas e verdes o poder que lhe tomaram nas eleições de 1998. O escândalo de uso indevido de bônus da Lufthansa não chegou a refletir no resultado das pesquisas.

Inundação de propostas

Mas a disputa pelos votos das vítimas das enchentes continua com uma inundação de propostas de medidas para reparar os danos materiais. CDU e CSU propuseram a criação de um fundo especial de 2,4 bilhões de euros por ano. O dinheiro seria garantido com um remanejamento no orçamento federal. O FDP aderiu à idéia e ainda exigiu que as vítimas sejam socorridas com reservas do Banco Central Alemão, o Bundesbank. Dos 12 bilhões de euros de lucro com reservas de divisas, 10 bilhões deveriam ser usados para cobrir os prejuízos causados pela enchente, segundo os liberais.

O Partido Verde resolveu explorar mais o tema proteção do clima em sua campanha eleitoral. "O interesse público no tema ecologia é muito forte no momento", justificou o líder dos verdes no Parlamento, Fritz Kuhn, "e partimos do princípio de que seremos reconhecidos como o partido atuante desde há 20 anos na defesa do clima". Os verdes rejeitam a discussão sobre cobrança de uma taxa de solidariedade para socorrer as vítimas. Eles acham que as subvenções estatais e as doações da população podem bastar. O governo aprovou uma ajuda de 400 milhões de euros, dos quais 100 milhões foram liberados de imediato. O partido governista vê na catástrofe natural uma confirmação de sua política ecológica e, mais particularmente, um acerto da renúncia paulatina à energia atômica e da criação do imposto ecológico, que encareceu os combustíveis com o propósito de incentivar o uso de transportes públicos e reduzir as emissões de gases.