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Emprego segue alto apesar de economia fraca

Letícia Camargo von Wissell28 de novembro de 2013

Apesar dos números modestos do PIB nos últimos trimestres, desemprego segue em baixa em todo o Brasil. Economistas divergem: para alguns, situação vai piorar em 2014. Outros dizem que demanda interna garantirá emprego.

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Foto: picture-alliance/ dpa

A taxa de desemprego de outubro, de 5,2%, é uma das mais baixas já registradas no Brasil. Ela caiu 0,2 pontos percentuais em comparação a setembro, quando foi de 5,4%. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa é a menor desde dezembro do ano passado.

A mais recente pesquisa do IBGE também mostrou que houve pouca mudança na taxa de desemprego em relação ao ano anterior, quando ela havia registrado 5,3% em outubro. O índice cobre seis regiões metropolitanas do país: Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. A população desocupada somou 1,3 milhão de pessoas em outubro deste ano.

Ao menos por enquanto, o nível de emprego não foi abalado pelo desaquecimento da economia brasileira nos últimos trimestres. Especialistas consultados pela DW Brasil mostraram opiniões diversas sobre o assunto: alguns afirmam que a situação do mercado de trabalho também tende a piorar, enquanto outros acham que a demanda interna será capaz de manter a taxa de desemprego em níveis baixos.

Desemprego em alta em 2014

O analista Bruno Rovai, do Barclay's Capital em São Paulo, projeta que a expectativa é que a taxa de desemprego comece a subir gradualmente até atingir uma média de 6,5% no final de 2014, por causa da desaceleração da economia. "Pode ser que ela fique estável por um tempo antes de vermos um aumento. Este deve acontecer, provavelmente, a partir de maio do ano que vem", opina.

O analista explica que, embora tenha de fato havido uma queda no número de pessoas desempregadas no país no mês de outubro, não houve um aumento significativo no número de pessoas empregadas. Ele conclui que simplesmente mais pessoas optaram por deixar o mercado de trabalho, uma tendência considerada natural na economia.

A pesquisadora Veronica Escudero, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em Genebra, argumenta que a taxa de desemprego é um indicador retardatário – ela tende a refletir a aceleração ou desaceleração da economia após, em média, quase dois anos, dependendo do país.

Depois de revisar suas expectativas, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), estima que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deva registrar um crescimento de 2,5% em 2013, de 2,2% em 2014 e de 2,5% em 2015. Anteriormente, o PIB do Brasil cresceu 7,5% em 2010, mas desacelerou fortemente para apenas 0,9% em 2012l.

Demanda interna

No entanto, mesmo com a economia desaquecida, o economista Jankiel Santos, do Banco Espírito Santo, disse que a forte demanda interna no Brasil vai ser capaz de manter a taxa de desemprego em níveis baixos. "Embora exista essa perspectiva de alguma acomodação da taxa de crescimento da economia – por volta desse patamar de 2% a 2,5% anuais – há uma expansão da demanda doméstica muito robusta."

Especialistas dizem que há uma possibilidade de que a chamada nova classe média seja responsável pelo crescimento do consumo, estimulando o setor de serviços, mas notam que ainda não há estudos que comprovem essa teoria. Com o aumento de renda de milhares de pessoas, o consumo de serviços, de produtos de varejo e de imóveis cresceu consideravelmente, ajudando a esquentar o mercado de trabalho.

"O fato é que não percebemos uma piora do mercado de trabalho, principalmente devido à demanda do mercado interno, que continua crescendo a um ritmo muito forte no setor de serviços", diz Santos. Ele prevê que a taxa de desemprego continue estável, numa média de 5,5% em 2014. "O setor de serviços de maneira geral continua sendo o grande contratante, contribuindo para essa taxa de desemprego muito baixa."

Na comparação anual da pesquisa do IBGE, por exemplo, o grupo de serviços domésticos representou a maior alta de renda dos trabalhadores, de 8,1% em outubro de 2013, comparado com o mesmo período no ano anterior. "Enquanto o setor de serviços tem mostrado um comportamento muito positivo, a indústria não tem mostrado o mesmo resultado de crescimento em relação à contratação, apesar dos estímulos tributários do governo", diz Rovai.

Natal menos eufórico

Os especialistas concordam que a época de festas de final de ano deve contribuir para manter o desemprego em baixa, mas lembram que essas contratações sazonais não afetam a tendência geral do índice. "Agora no final do ano, com a contratação de temporários, a taxa tende a ficar ainda abaixo de 5,2%. Mas, em geral, ela deve se manter ao redor de 5,5%, com o ajuste sazonal", disse Santos.

Na opinião de Rovai, "o Natal deste ano não deve ser tão eufórico devido à recente queda na confiança do consumidor, que mostrou números desanimadores. Em outubro houve uma queda bem forte e parece que ainda não melhorou".

Em novembro, o Índice de Confiança do Consumidor, publicado pela Fundação Getúlio Vargas, avançou 1% comparado ao mês de outubro. De acordo com a FGV, a evolução favorável no mês é, no entanto, insuficiente para compensar a perda observada em outubro (queda de 2,2%), mantendo o índice abaixo da média histórica de 115,5 pontos pelo nono mês consecutivo.

Mas mesmo menos confiantes, os brasileiros estão, em média, ganhando mais. Desde meados do ano, os salários continuam subindo e o rendimento médio dos trabalhadores foi de R$ 1.917,30 em outubro, 2,7% a mais do que no mesmo mês de 2012. Funcionários com carteira assinada no setor privado ganharam em média R$ 1.769,50 em outubro. No mesmo mês, militares e funcionários públicos tiveram um rendimento médio de R$ 3.256,40.