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Em visita ao Egito, ministro alemão apela por retorno à democracia

Andreas Gorzewski (md)2 de agosto de 2013

Westerwelle evita falar em golpe, mas deixa em aberto se Berlim continuará a ajudar o Cairo financeiramente. Analistas dizem que europeus têm poucos meios de pressão.

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Foto: picture-alliance/dpa

Como encontrar o tom certo no Cairo em relação ao novo governo de transição e à Irmandade Muçulmana, alijada do poder? O ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, ousou fazer uma tentativa, depois de desembarcar no país na noite desta quarta-feira (01/08).

Berlim quer promover um retorno à democracia, depois que os militares depuseram o presidente Mohammed Morsi. Ao mesmo tempo, quer evitar que as tensões entre a Irmandade Muçulmana e o setor laico aumentem.

Durante a visita de Westerwelle, milhares de ativistas muçulmanos protestaram na capital egípcia. E o ministro alemão chegou sem meios de exercer pressão, na opinião dos analistas. "Nós só podemos dar conselhos", admitiu o chefe da diplomacia alemã, após encontro com seu colega egípcio, Nabil Fahmi.

Na avaliação do especialista em Egito Maha Azzam, do think tank britânico Chatham House, a viagem de Westerwelle, mesmo assim, é importante por contribuir para elevar a pressão sobre a liderança egípcia. "Isso faz com que o governo de transição e os generais percebam que o mundo lá fora observa essa situação delicada e não desistiu de suas demandas por democratização", diz Azzam, em entrevista à DW.

Sem falar em golpe

"Este é um sério revés para a democracia no Egito", declarou Westerwelle logo após o golpe de Estado no início de julho, acrescentando ser importante encontrar rapidamente o caminho de volta à ordem constitucional.

No entanto, Berlim não emitiu uma condenação explícita ao golpe militar. No Cairo, Westerwelle evitou a expressão golpe de Estado. "Estes são os primeiros minutos de um momento histórico", disse diplomaticamente, observando que é um novo começo para o país.

Mas ele deixou em aberto se Berlim continuará a prestar assistência financeira ao país, assegurando somente o pagamento dos fundos prometidos para 2013, a serem empregados em projetos sociais, culturais e científicos. "O que for além disso, deve ser avaliado à luz de futuros acontecimentos", desconversou.

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Em acampamentos de protesto, ativistas muçulmanos pedem liberdade de MorsiFoto: picture-alliance/AP

O governo alemão está num dilema por defender ao mesmo tempo valores como democracia, estabilidade e segurança, que parecem conflitantes no Egito atual.

Os militares do país se apresentam, por um lado, como uma garantia contra a ameaça de guerra civil entre as forças islâmicas e o setor laico. Por outro, retiraram do poder um presidente eleito democraticamente.

O Ministério do Exterior da Alemanha tem plena consciência dessa situação difícil, diz o especialista Christian Achrainer, da Sociedade Alemã para Relações Internacionais. "Isso explica por que todas as declarações que ouvimos do governo são aguadas", opina Achrainer. "Não há uma tomada clara de posição."

Críticas no Cairo

Westerwelle abriu mão, no início de sua visita, de repetir a exigência de libertação de Morsi. Essa exigência havia irritado a nova liderança no Cairo e também grupos laicos. "Há muitas vozes críticas no Egito sobre o posicionamento do governo alemão", alerta Stephan Roll, do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança, um centro de estudos.

Ele se diz a favor de que a Alemanha continue a pedir a liberdade de Morsi, apesar das críticas, lembrando que Berlim adotou essa posição antes de Estados Unidos e também de outros países europeus.

Berlim e Cairo cooperaram objetivamente no período em que a Irmandade Muçulmana esteve no poder. Em janeiro de 2013, a chanceler federal Angela Merkel recebera Morsi em Berlim. "Ao cooperar com um governo eleito livremente, o governo alemão fez melhor do que a UE e os Estados Unidos, que lidam com uma liderança que chegou ao poder por meio de um golpe de Estado", critica a especialista da Chatham House, Maha Azzam.

Merkel und Mursi in Berlin PK 30.01.2013
Merkel recebeu Morsi em Berlim em janeiroFoto: dapd

Diálogo com a Irmandade Muçulmana

O ministro alemão também tenta contato com a Irmandade Muçulmana. Isso já tinha sido feito pela chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, alguns dias antes.

Para acalmar a situação no país árabe, é essencial que haja diálogo entre muçulmanos e o governo de transição. Por isso, Westerwelle reiterou seu pedido para que os egípcios iniciem tal diálogo. Na avaliação de Achrainer, a Irmandade Muçulmana aceitaria uma mediação alemã ou europeia.

"A Irmandade Muçulmana está numa situação ruim", diz o especialista em Egito, observando que qualquer mediador que não assuma uma posição contrária à Irmandade Muçulmana é bem-vindo. Entretanto, essa mediação não teria, segundo ele, grandes chances de sucesso.

"No geral, a influência alemã sobre os acontecimentos no Egito é muito reduzida" concorda Roll, ressaltando que a situação no país é complicada. "De fora, não é fácil ter alguma influência, e isso também se aplica ao governo alemão", sublinha.