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Eleição em clima de feira na Rússia

19 de março de 2018

Para garantir legitimidade à reeleição de Vladimir Putin, alta participação nas urnas era meta do governo russo. Em locais de votação, alimentos vendidos a preços baixos ajudaram a atrair eleitores.

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Leite, macarrão, arroz ou batatas: descontos consideráveis para eleitores nas zonas de votação de Kazan
Leite, macarrão, arroz ou batatas: descontos consideráveis para eleitores nas zonas de votação de KazanFoto: DW/M. Soric

Nas eleições presidenciais russas deste domingo (18/03), colégios eleitorais em Kazan, cidade localizada às margens do rio Volga, 820 quilômetros ao leste de Moscou, foram marcados por lembranças de tempos passados. A poucos metros das cabines eleitorais: sacos de batata, macarrão, arroz, sabão em pó e caixas com laranjas – tudo a preços incrivelmente baixos. Exatamente como nas décadas de 1970 e 1980.

Naquela época, os resultados de votações políticas também eram claros desde o início. No entanto, imperava um clima festivo, também por causa das oportunidades de compras a preços baixos. Assim como agora. Na maioria dos colégios eleitorais no centro de Kazan, pechinchas atraíram os residentes para votar neste domingo.

"Uma boa razão para vir aqui", disse um dos poucos jovens que compareceram pela manhã à seção eleitoral 45 – ele aproveitou para encher várias sacolas com mantimentos.

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A maioria das pessoas presentes eram idosos e pensionistas. De mãos dadas, duas senhoras tentavam abrir caminho em meio a empurrões e agitação na antessala do local onde estavam as urnas. Parecia uma feira.

Uma jovem se queixava de que os observadores eleitorais praticamente não tinham espaço para ficar de pé, especialmente quando chegaram ônibus com dezenas de eleitores. Os observadores eleitorais suspeitavam que os eleitores trazidos ao local de votação fossem votar várias vezes. No entanto, não existe uma lei que proíba um chefe de uma autoridade pública de enviar seus funcionários coletivamente às urnas.

"O senhor não pode filmar nesta seção eleitoral", disse a amigável supervisora do posto de votação, Irina Fukina. A credencial expedida pelo Ministério das Relações Exteriores não era suficiente, explicou Fukina, encolhendo os ombros. Obviamente a decisão não veio dela, mas de "lugares mais altos".  

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Seções eleitorais em Kazan: praticamente sem sinais de observadores independentes ou internacionais Foto: DW/M. Soric

Sem problema. A dez minutos de carro estava localizada a seção eleitoral 44. Nesse posto eleitoral, tudo aparentava ser um pouco mais ordenado. Filas longas diante das mesas de votação, onde os eleitores se identificavam e seus registros eram verificados.

O comissário eleitoral Vladimir Vasilevich Astaf'ev nos permitiu filmar, depois de analisar a credencial válida. Astaf'ev é um senhor simpático e prestativo, que passou seus anos de serviço militar na antiga Alemanha Oriental, da qual lembra com carinho. "Nesta região vivem sobretudo intelectuais", disse outro senhor, cheio de orgulho.

Astaf'ev mostrou as mesas que foram reservadas para observadores eleitorais nacionais e internacionais. Por volta do meio-dia, apenas Ilijia Popov, um jovem integrante do partido liberal Jawlinski, permanecia diante ao seu notebook.

"Os observadores eleitorais que vieram do Cazaquistão têm um intervalo de almoço mais longo", disse ele. Ninguém na sala de votação parecia esperar que os convidados do país vizinho voltassem.

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Na seção eleitoral 46, uma situação completamente diferente. A credencial emitida por Moscou foi rejeitada pelo comissário eleitoral Marc Kamilovich Zinnurov, após consulta com a supervisão eleitoral municipal. Em um gesto de boa vontade, ele permitiu apenas fotografias à distância.

Agradecemos, mas recusamos e decidimos visitar o escritório local – também no centro de Kazan – do crítico do Kremlin Alexei Navalny. Cerca de uma dúzia de funcionários e voluntários trabalham no local. Eles mantêm contato com outros observadores eleitorais em Kazan e nos arredores.

A repartição é liderada por Elvira Dimitrieva. Até um ano atrás, ela trabalhava como especialista em marketing da universidade local. Dimitrieva temia que houvesse fraudes eleitorais maciças em áreas rurais. "Quase não há observadores independentes por lá", disse.

E isso, segundo ela, deixa o caminho livre para agências governamentais atuarem. Em eleições recentes, reportou-se que 100% da população de alguns vilarejos foi às urnas, e que 100% votaram no partido de Putin, segundo Dimitrieva. "Algo assim é praticamente impossível, não existia nem nos tempos da União Soviética."

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