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Eduardo Leite se declara gay e confirma que tentará Planalto

2 de julho de 2021

Gaúcho, tucano é o primeiro governador do país a se assumir homossexual. Gesto tem impacto político e fortalece suas diferenças com Jair Bolsonaro, a quem apoiou em 2018 e contra quem pode ser adversário em 2022.

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Eduardo Leite
"Eu sou gay. (...) E tenho orgulho disso", disse Leite em entrevista à TV GloboFoto: Adeleke A. Fote/Pacific Press/picture alliance

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), declarou nesta quinta-feira (1º/06) ser gay. É a primeira vez que o político gaúcho assume sua orientação sexual publicamente, em um gesto de repercussão política num momento em que se começa a debater candidaturas para o Palácio do Planalto no ano que vem.

"Eu sou gay. E sou um governador gay, e não um gay governador, tanto quanto Obama nos Estados Unidos não foi um negro presidente, foi um presidente negro. E tenho orgulho disso", disse Leite em entrevista ao programa Conversa com Bial, da TV Globo.

Pré-candidato pelo PSDB a presidente da República em 2022, Leite é o primeiro governador assumidamente homossexual do Brasil. Se for candidato à Presidência no próximo ano, será também o primeiro presidenciável gay de um partido competitivo. Ele tem 36 anos é o governador em exercício mais jovem do país.

"Como a minha participação nessa política nacional, nesse debate nacional, começa a despertar talvez maiores ataques por conta de adversários, alguns vêm com piadas, ilações, como se eu tivesse algo a esconder. Pois bem, que fique claro, não tenho nada a esconder. Tenho orgulho dessa integridade de poder aqui dizer também sobre a minha orientação sexual, quem eu sou, embora devêssemos viver num país em que isso fosse uma não-questão, mas, se é, está aqui claro", disse Leite.

A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), única mulher governadora no Brasil neste momento, é referida como lésbica por aliados, mas não há registro de que ela tenha se assumido como tal publicamente.

Na entrevista à TV Globo, Leite também reafirmou que disputará prévias no PSDB para ser o candidato do partido ao Planalto. "Fui provocado por lideranças partidárias, deputados do PSDB que me procuraram. Entendem que eu tenho algo a oferecer, apresentar", disse.

Impacto político

A declaração de Leite sobre sua orientação sexual tem desdobramentos políticos e acentua suas diferenças com Bolsonaro, que vai disputar a reeleição em 2022.

Bolsonaro já fez diversas declarações de cunho homofóbico, usou em sua campanha eleitoral histórias falsas  como a do "kit gay" para se conectar com o eleitorado homofóbico e levou o Brasil a se opor a resoluções da Organização das Nações Unidas sobre educação sexual.

O gesto de Leite foi elogiado por políticos aliados e adversários no Twitter, e sua menção expressa a Obama o conecta à estratégia eleitoral do ex-presidente americano, que valorizou sua cor durante a campanha como símbolo de mudança para o governo dos Estados Unidos e foi eleito o primeiro presidente negro da história do país.

Repercussão entre aliados e adversários

O governador paulista, João Doria, que disputará contra Leite a prévia presidencial do PSDB, escreveu no Twitter que tinha "admiração e respeito" pelo governador gaúcho.

Roberto Freire, presidente do Cidadania, disse que o gesto de Leite era "importante e corajoso" e um sinal de compromisso "com os valores do humanismo que nos unem, da esquerda à direita liberal". "Grande quadro político que se credencia no polo democrático pra 2022", escreveu.

A deputada federal Tabata Amaral (SP), afirmou que o governador gaúcho "fez história":

A ex-deputada federal Manuela D'Ávila, do PC do B gaúcho, que ficou em segundo lugar na disputa pela prefeitura de Porto Alegre em 2020 e é adversária do PSDB no estado, elogiou a decisão de Leite e disse que era um "gesto de coragem".Leite agradeceu as postagens de apoio e disse que a reação à sua entrevista o deixavam seguro que "o amor vai vencer o ódio".

Controvérsia na comunidade LGBTQ

A decisão de Leite de se assumir gay não foi comemorada sem um toque crítico em parte da comunidade LGBTQ. Se muitos elogiaram o gesto do governador gaúcho e ressaltaram que ele contribui para a aceitação da diversidade sexual no país, outros lembraram que o tucano apoiou a eleição de Bolsonaro quando ele já fazia discursos abertamente homofóbicos.

Leite havia sido atacado durante a campanha gaúcha de 2018 em posts que circulavam em redes sociais afirmando que ele seria gay, mas preferiu não reconhecer sua orientação sexual à época.

O ex-deputado federal Jean Wyllys (PT-SP) foi um dos críticos à repercussão da declaração de Leite. Ele escreveu no Twitter que o gesto havia sido "apenas bacana e nada mais", e que seria importante questionar o governador gaúcho "por que ele apoiou explícita e alegremente um racista homofóbico que atua contra a comunidade".

"Coragem grande teria o "governador gay” se tivesse se assumido e se colocado ao lado de LGBTQ momento em que seu aliado Bolsonaro disseminava mentiras como "kit gay” e "mamadeira de piroca” que objetivam nos associar à pedofilia. Naquela momento o governador era cúmplice", escreveu Wyllys em outro post.

A vereadora de São Paulo Erika Hilton (PSOL), primeira mulher trans eleita na capital paulista, escreveu que o ato de Leite demandava "coragem" e que por isso ele tinha o seu "respeito", mas lembrou que a luta da comunidade LGBTQ "vai muito além".

bl (ots)