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PolíticaItália

Draghi aceita tentar formar novo governo na Itália

3 de fevereiro de 2021

Ex-chefe do Banco Central Europeu foi incumbido pelo presidente italiano de buscar apoio para comandar o país em meio à pandemia. Premiê Giuseppe Conte renunciou na semana passada devido à falta de apoio à sua coalizão.

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Mario Draghi discursa no palácio presidencial italiano
Draghi disse que momento é "muito difícil", mas frisou que seu país terá recursos "extraordinários" da UEFoto: Alessandra Tarantino/Pool/AP/picture alliance

O ex-presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi concordou nesta quarta-feira (03/02) em tentar formar um novo governo na Itália, após a coalizão anterior, liderada pelo primeiro-ministro Giuseppe Conte, ter colapsado em meio a disputas partidárias sobre o enfrentamento da pandemia do coronavírus.

Draghi, que tem 73 anos e não é filiado a partido político, foi incumbido da missão pelo presidente da Itália, Sergio Mattarella. Agora, cabe a ele tentar convencer as legendas a apoiarem o seu plano de formar um novo governo, que deve ter um perfil tecnocrático.

O ex-chefe do Banco Central Europeu ficou famoso ao prometer "fazer tudo o que fosse necessário" durante a crise da dívida na zona do euro, e fez um apelo para que os partidos italianos, atualmente conflagrados, concordem em trabalhar com ele neste "momento difícil".

A Itália está sem um governo inteiramente funcional há semanas, desde que a coalizão anterior, liderada por Conte, se esfacelou em meio a brigas a respeito de medidas para lidar com a pandemia. Ele renunciou na semana passada, mas seguirá interinamente cuidando do governo enquanto Draghi tenta construir a sua própria maioria.

"Estou confiante que (…) a unidade irá emergir, e com ela a habilidade de darmos uma resposta responsável e positiva ao apelo do presidente da República", disse Draghi nesta quarta-feira, após conversar com Mattarella na residência oficial do presidente, em Roma.

Draghi afirmou ter aceitado a missão sabendo que a Itália enfrente múltiplos desafios, que incluem crise no sistema de saúde, campanha de vacinação nacional e recessão econômica, mas frisou que o país terá recursos "extraordinários" da União Europeia para tentar reativar a economia.

"É um momento difícil", disse Draghi, que acrescentou: "Temos a chance de fazer muito pelo nosso país."

O governo italiano espera receber mais de 200 bilhões de euros (R$ 1,3 trilhão) do fundo de recuperação da União Europeia para superar a crise, mas tem apenas até abril para enviar a Bruxelas seu plano para o uso dos recursos.

Terceira maior economia da zona do euro, a Itália foi o primeiro país europeu a enfrentar de forma aguda a covid-19 e ainda sofre com a pandemia. Mais de 89 mil pessoas no país morreram no ano passado, enquanto restrições e o colapso do turismo empurraram a sua economia para a pior recessão desde o final da Segunda Guerra Mundial.

Se Draghi conseguir obter apoio suficiente dos partidos para formar um governo estável, ele então montará seu ministério, será confirmado no cargo por Mattarella e assumirá o governo de Conte.

Cenário partidário

A coalizão de centro-esquerda de Conte estava no poder desde setembro de 2019, mas sofreu um golpe mortal em janeiro, quando o ex-premiê Matteo Renzi retirou o apoio ao governo de seu partido, o Itália Viva.

Conte renunciou na semana passada, mas esperava retomar o cargo com uma nova coalizão, que seria composta pelo populista Movimento Cinco Estrelas (M5S) e pelo Partido Democrático (PD), de centro-esquerda.

Mattarella havia dado até esta terça-feira para que Conte se acertasse com Renzi, mas o prazo se esgotou, deixando o presidente com o que ele via como apenas duas opções viáveis.

Ele descartou convocar novas eleições por causa da pandemia, e optou por formar um governo de figuras relevantes sem filiação partidária – um governo de unidade nacional liderado por alguém com uma imagem imparcial.

Draghi, apelidado de "Super Mario" por iniciativas que acalmaram os mercados durante sua gestão no Banco Central Europeu, de 2011 a 2019, já vinha sendo apontado há algum tempo como um potencial salvador para Itália.

A bolsa de Milão subia 3% no meio desta quarta-feira, antecipando a indicação de Draghi, que foi elogiada pelo comissário europeu para Economia, Paolo Gentiloni, ele também ex-primeiro-ministro da Itália. "Obrigado, presidente!", tuitou.

Governo tecnocrático

Lorenzo Castellani, especialista em política na Universidade Luiss, de Roma, disse acreditar que um governo liderado por Draghi seria bastante tecnocrático. "O programa governamental será 99% ocupado pela pandemia e o fundo de recuperação", disse ele à agência AFP.

Até o momento, o PD parece apoiar Draghi, assim como o Itália Viva, mas o M5S, o partido com o maior número de cadeiras no Parlamento, que cresceu com um discurso cético em relação à União Europeia, está dividido.

Um dos lideres do M5S, Vito Crimi, manifestou contrariedade com um governo puramente tecnocrático. "Esse tipo de governo já foi adotado no passado, com consequências muito negativas para os cidadãos italianos", disse.

bl/lf (AFP, AP)