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Divisão do Sudão

8 de fevereiro de 2011

Uma região depende economicamente da outra: o sul tem as maiores reservas de petróleo, enquanto o norte concentra refinarias, gasodutos e portos. Uma guerra pode começar, caso não haja acordo sobre divisão de riquezas.

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Futuro econômico do sul do Sudão deve ser mais promissorFoto: AP

A separação do sul do Sudão trará amplas consequências para o futuro da economia de todo o Sudão. Afinal, o norte e o sul ainda são interdependentes economicamente. A maior reserva de petróleo está no sul, por outro lado, é o norte que abriga as refinarias, o gasoduto e o porto para escoar o produto.

Com a independência do sul, que abriga em seu solo 70% do petróleo, o norte teme perder a receita proveniente da exploração da matéria-prima. Esse dinheiro representa atualmente a metade do orçamento do Sudão e até 90% da entrada de divisas estrangeiras através da exportação.

Por enquanto, ainda vigora o acordo de paz assinado entre o norte e o sul depois do fim da guerra civil. O acordo estipula que cada uma das regiões tem direito à metade dos ganhos provenientes da exploração do petróleo.

Para Abda Al Mahdi, diretora da empresa de consultoria Unicons, em Cartum, e ex-ministra sudanesa das Finanças, ambos os lados continuam interessados numa divisão amigável das receitas – o norte precisa do petróleo, e o sul da infraestrutura. A construção de um gasoduto alternativo passando pelo Quênia sairia muito caro para o sul, e levaria pelo menos três anos até ser concluído.

Por esses motivos, Al Mahdi defende que "um tratado de divisão dos rendimentos depois da separação é imprescindível. E, caso isso não seja possível, seria uma alternativa ruim, pois poderia levar a uma guerra."

Perda para o norte

Apesar das declarações do presidente sudanês, Omar Al Bashir, ainda é incerto se a separação entre norte e sul ocorrerá de forma pacífica. Somente no fim de 2005 chegou ao fim uma guerra civil que durou 20 anos e deixou aproximadamente dois milhões de mortos.

Symbolbild politische Spaltung im Sudan vor der Präsidentschaftswahl Englisch
Separação deixa Omar Al Bashir em situação delicadaFoto: DW/AP

No entanto, uma separação pacífica também é vista de forma negativa no norte. Adel Abdelaziz, especialista do Centro Internacional de Estudos Africanos, em Cartum, acredita que, sob uma perspectiva econômica, a separação traz certamente desvantagens, porque "um quarto da área do Sudão é separada, juntamente com todos os seus recursos naturais, os já descobertos e os ainda desconhecidos. Isso significa também uma redução da população em cerca de 25%, o que representa um importante potencial de força de trabalho."

Entre 1999 e 2008, segundo dados do Banco Mundial, a economia sudanesa cresceu significativamente – em parte devido à crescente indústria do petróleo. Apesar disso, as duas partes do Sudão estão diante de grandes desafios, argumenta Al Mahdi.

A dependência do petróleo e o abandono do setor agrícola fizeram com que os jovens não encontrassem mais trabalho no campo, estimulando a migração para grandes cidades, como Cartum, explica.

Preparo para o futuro

Por esse motivo, o governo em Cartum quer, nos próximos anos, incentivar a produção agrícola. Após a construção da polêmica barragem de Merowe, estão planejadas a edificação de novas represas. As águas represadas do Nilo poderiam transformar grandes áreas de solo seco em terras cultiváveis.

Muitos investidores estrangeiros já manifestaram interesse. Adel Abdelaziz menciona a cooperação estratégica com o Kuwait, que teria se comprometido recentemente a investir 4 bilhões de dólares no leste do Sudão.

Ainda segundo Abdelaziz, os governos da China e Brasil também estão interessados em cooperações semelhantes. Esses países demonstram confiar no governo do sul do Sudão, especialmente em sua capacidade de garantir, futuramente, um ambiente seguro para os investimentos, diz o especialista.

No entanto, de uma maneira geral, a confiança no futuro ainda é tímida frente às consequências da separação. Por isso, a libra sudanesa se desvalorizou fortemente no contexto do referendo. O fato repercutiu de forma negativa entre os investidores, diz John Ashworth, observador de longa data do Sudão.

Segundo Ashworth, o norte do Sudão não é atraente para investimentos, "porque o governo conduz um regime autoritário". E há também o aspecto financeiro: a dívida externa, no final de 2009, chegou a 35,7 bilhões de dólares, ou seja, dois terços do Produto Interno Bruto. Desde meados dos anos de 1980, o Sudão não tem mais honrado a antiga dívida e, nos últimos anos, adquiriu novos empréstimos da China, Índia e países do Golfo.

Chance de desenvolvimento

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Construção da hidrelétrica Merowe, no norte do Sudão, foi polêmicaFoto: AP

Ao contrário do governo em Cartum, o sul do Sudão tem pouco a perder, já que a região também foi bastante negligenciada no passado. O sul ainda sofre com os efeitos da guerra civil: quase não há ruas asfaltadas, as escolas e hospitais estão em más condições, a infraestrutura é precária e falta mão-de-obra qualificada.

Ainda assim, Manfred van Eckart, da Sociedade Alemã de Cooperação Internacional (GIZ), acredita que o sul do Sudão possui condições favoráveis. "O sul do Sudão dispõe de muita matéria-prima e, além do petróleo, existem muitas reservas minerais ainda desconhecidas."

Além disso, há um grande potencial agrícola. Portanto, não há obstáculos para o desenvolvimento do sul do Sudão, desde que o novo país invista sua receita com responsabilidade e com vista ao progresso.

Através do apoio dos Estados Unidos, o primeiro passo para a independência foi bem-sucedido: a criação de uma instituição financeira para o sul do Sudão. O Banco de Juba tem agora seu próprio código bancário internacional. Isso possibilita que investidores estrangeiros efetuem transações financeiras no sul do Sudão, sem ter que passar pelos bancos de Cartum.

Apesar de a separação trazer desvantagens para o norte, há também vozes otimistas. Para o especialista Adel Abdelaziz, a divisão também pode ser uma chance para os dois países utilizarem melhor as suas riquezas – sozinhos ou como parceiros econômicos.

Autora: Lina Hoffmann (np)
Revisão: Carlos Albuquerque