1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Era Blair

Irene Quaile-Kersken (ca)2 de maio de 2007

Há dez anos, Tony Blair, o então jovem presidente do Partido Trabalhista britânico, era eleito primeiro-ministro do Reino Unido. A DW-WORLD faz um balanço da era Blair, que pode chegar ao fim por estes dias.

https://p.dw.com/p/AL3v
Tony Blair: lembranças não somente positivasFoto: AP

A noite da eleição de 1997 foi histórica. Relativamente pouco após o fechamento das urnas, estava claro que, depois de 18 anos de domínio conservador, as portas se abriam para uma "terceira via".

Jovem, dinâmico e carismático

Tony Blair mit Parlamentarierinnen 1997
Blair com parlamentares em maio de 1997Foto: AP

O jovem, dinâmico e carismático Tony Blair conseguira libertar o Partido Trabalhista britânico da imagem de uma facção de trabalhadores e sindicatos, angariando também a simpatia da classe média. Um ato conciliador, pois Blair manteve, ao mesmo tempo, os votos do eleitorado do seu partido. Com 43 anos de idade, ele se tornou o mais jovem premiê britânico desde 1812.

Dez anos mais tarde e depois de ganhar três eleições, o novo Partido Trabalhista britânico de Tony Blair ainda está no poder. Após ficar mais tempo no governo do que qualquer outro primeiro-ministro trabalhista, o próprio Blair prepara sua saída.

Não se sabe se Gordon Brown, indicado para ser seu sucessor, conseguirá vencer as próximas eleições. As pesquisas indicam que os conservadores, sob o comando do jovem David Cameron, estão novamente à frente.

Parceria Pública Privada

Nos anos que se passaram, muita coisa aconteceu. Blair preparou o Reino Unido para o século 21. Suas reformas trabalhistas – que, sem dúvidas, muito têm a agradecer à era Thatcher – trouxeram ao país trabalho e bem-estar. Através do programa welfare to work (bem-estar para o trabalho), uma combinação de incentivo e cobrança, o desemprego foi reduzido a níveis recordes.

Um salário-mínimo foi introduzido no país. Bilhões foram investidos na educação e na saúde. As dificuldades com gastos públicos, como a construção de prisões e estradas, foram superadas com a cooperação do setor privado através das chamadas PPPs, sigla em inglês para parceria público-privada – algo que o eleitorado tradicional do Partido Trabalhista britânico recusara veementemente, mas que repercutiu bem em grupos mais conservadores.

Britannia cool e Lady Di

Tony Blair und Cherie Blair vor Downing Street 10
Tony e Cherie Blair em frente à Downing Street 10Foto: AP

Blair permitiu que escoceses e galeses formassem suas próprias assembléias nacionais. O término do conflito da Irlanda do Norte também está entre seus maiores méritos. Há algumas semanas, seu governo conseguiu terminar com o marasmo na Irlanda do Norte e fazer com que os antigos inimigos iniciassem os trabalhos conjuntos. Além disso, Blair afastou-se da imagem empoeirada do político chato.

Contatos com ídolos pop transformaram o premiê em um representante da Britannia cool, a campanha publicitária de uma imagem moderna do Estado insular. Após a morte da princesa Diana, foi Blair também quem advertiu a Casa Real britânica a assumir um perfil mais próximo da realidade, preservando-a do desastre.

"Teflon Tony"

A eficiente máquina publicitária de Tony Blair apresentou, no entanto, um lado reverso. O conceito do spin, a arte de reverter qualquer história a seu favor, colocou em dúvida a credibilidade de seu governo. Blair ganhou de seus opositores o apelido de "Teflon Tony", porque não ficou ligado a nenhum escândalo que envolveu seu governo. Nas mãos de Blair, a política recaiu em uma eficiente encenação midiática. Por isto, o conteúdo de verdade das declarações políticas foi questionado, muitas vezes, pelos eleitores.

George W. Bush und Tony Blair
Bush desacreditou BlairFoto: AP

Quando as armas de extermínio em massa, que deveriam justificar a Guerra do Iraque, não foram encontradas, a desconfiança dos eleitores atingiu seu ponto máximo. O desastre tomou conta de Blair. Pesquisas apontam que 60% dos britânicos consideram a Guerra do Iraque como seu maior erro. Seu apoio a George Bush, visto como cada vez mais incompetente, terminou em escárnio e na fama de "cão mandado" dos norte-americanos.

Também na política interna, a credibilidade do governo Blair acabou ferida. Por exemplo, através dos assim chamados cash for honours (dinheiro por honras), acusações de corrupção. Contribuições partidárias foram desviadas para assentos e condecorações na câmara alta.

Não há tempo certo

Na quinta-feira (03/05), realizam-se eleições para as assembléias nacionais escocesas e galesas, como também eleições municipais na Inglaterra. Apesar de normalmente a política externa não ser decisiva neste nível de eleição, parece que desta vez os eleitores também querem, aqui, punir Blair por sua estratégia no Iraque.

Na Escócia, o partido nacionalista SNP ameaça desbancar os trabalhistas da atual coalizão de governo como os liberal-democratas. O ponto certo para a renúncia de Blair? Na verdade, não há mais tempo certo para Blair. Mesmo que ele anuncie sua renúncia após a bem-sucedida posse do governo da Irlanda do Norte, em 8 de maio próximo, seus méritos ficam questionáveis para muitos britânicos.

Como Margaret Thatcher, Tony Blair se segurou por muito tempo no poder. Ele entrará na história como modernizador do Partido Trabalhista e da política britânica. No entanto, não serão somente os efeitos de sua política para o Iraque que garantirão, ainda por muito tempo, que sua lembrança não seja somente positiva.