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Desperdício natalino

16 de dezembro de 2019

Por ano, quase 30 milhões de pinheiros são vendidos na Alemanha no Natal. Em janeiro, essas árvores perdem seu encanto e vão parar no lixo. Há quem defendam tradição apesar de impactos ecológicos.

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Pinheirinho jogado no lixo na Alemanha
Depois de algumas semanas decorados, pinheirinhos que levaram 10 anos para crescer vão parar no lixoFoto: picture-alliance/dpa/M. Kusch

Há um fenômeno que até hoje me chama a atenção e causa certa tristeza no período de Natal na Alemanha: com o fim das festas, centenas de pinheirinhos aparecem jogados nas ruas de Berlim. Do dia para noite, as árvores que decoraram lares por algumas semanas são transformadas em lixo esperando para serem recolhidas.

Assim como no Brasil, o pinheirinho é peça fundamental na tradição natalina alemã. O ritual de decorá-lo é um dos primeiros passos para se entrar no clima deste período. A sua presença em lojas, espaços públicos e lares é um sinal de que o Natal se aproxima. Existe, porém, uma diferença marcante em relação à árvore de Natal brasileira e a alemã.

No Brasil, os pinheirinhos artificiais costumam sair de suas caixas em dezembro para onde voltam em janeiro e hibernam até o próximo natal. E esse ritual se repete por anos com a arvorezinha conhecida da família.

Já na Alemanha, todo o ano, famílias escolhem um pinheirinho novo. Há várias espécies e tamanhos, assim como preços, que começam a partir de 6 euros (um valor, a meu ver, surreal para uma árvore que levou anos para ser cortada e gerou trabalho para muitas pessoas.)

Em 2018, foram vendidas no país quase 30 milhões (isso mesmo, 30 milhões!) de árvores de Natal, sendo que mais de 2 milhões delas foram importadas, principalmente da Dinamarca, Suíça, França, Áustria e Polônia. E no fim do período de festas, esses milhões de árvores vão literalmente parar no lixo. Seu destino final varia de cidade. Em Berlim, os 350 mil pinheiros recolhidos anualmente são usados para gerar energia e calor suficientes para abastecer 500 casas por um ano. Em Munique, parte delas vira MDP, e em Leipzig, húmus.

As árvores vendidas costumam vir de plantações, que ocupam entre 30 mil e 50 mil hectares do território alemão. Cada uma delas leva quase dez anos para alcançar o tamanho ideal de corte.

Nos últimos anos, geralmente nesta época, surgem diversas reportagens sobre a problemática desta produção. Algumas tratam da grande quantidade de agrotóxicos utilizada neste cultivo. Outras abordam as condições de trabalho de coletores das sementes, cuja maior parte vem da Geórgia. Feita no topo de pinheiros que medem até 50 metros, essa colheita envolve riscos e nem sempre os trabalhadores usam material de segurança.

Diante destes dilemas, alternativas ao tradicional mercado de árvores de Natal vêm surgindo. Entre elas, pinheiros orgânicos e também o aluguel de árvores plantadas em vasos que podem ser utilizadas por anos. Neste modelo, o cliente paga entre 40 e 50 euros por pinheirinho, que deve ser devolvido depois das festas. Há também aqueles que passaram a adotar os modelos artificiais.

Apesar das reportagens e do lento surgimento destas alternativas, parece que a grande maioria dos alemães está tão acostumada com os milhões de pinheirinhos desperdiçados anualmente que poucos se indignam com a situação, até mesmo entre aqueles que se preocupam mais do que a média com os problemas ambientais.

Já os defensores dos pinheiros reais alegam que esse modelo é mais ecológico do que o artificial. De acordo com a Associação de Proteção da Floresta Alemã, um hectare de cultivo de pinheiro absorve 145 toneladas de dióxido de carbono em dez anos. No fim da sua vida, ele se torna ainda húmus ou gera energia. Enquanto isso os pinheirinhos feitos de plásticos seriam o grande vilão, devido à sua forma de produção, transporte, por vir geralmente da China, e eliminação de resíduo extremamente poluente. Por outro lado, árvores artificiais podem ser decoradas por muitos e muitos anos.

Apesar destas supostas vantagens, para mim, continua sendo estranho ver esse desperdício da natureza com aquele monte de pinheirinho jogado nas ruas no início de janeiro.

Clarissa Neher é jornalista da DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.

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