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Delegação brasileira na ONU ataca Jean Wyllys após bate-boca

16 de março de 2019

Missão em Genebra acusa no Twitter ex-deputado de não aceitar resultado das urnas e disseminar fake news, após embaixadora interromper evento e discursar afirmando que ele "abandonou eleitores para viajar pelo mundo".

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Ex-deputado federal Jean Wyllys
Ex-deputado federal Jean Wyllys Foto: DW/C. Neher

A representação do Brasil junto à Organização das Nações Unidas (ONU) em Genebra, na Suíça, publicou no Twitter críticas ao ex-deputado federal Jean Wyllys após uma discussão ocorrida na sexta-feira (15/03) entre ele e a chefe da delegação brasileira, embaixadora Maria Nazareth Farani Azevêdo, durante um evento na sede europeia do órgão.

"Na mesa, ex-deputado, vestido de vermelho, mostra sua incapacidade de aceitar o resultado das urnas", diz uma postagem na conta oficial da delegação no Twitter, acompanhada de uma foto mostrando Wyllys entre os participantes de mesa-redonda realizada na ONU.

Também foram publicados vídeos do momento em que a embaixadora faz um discurso da plateia, num painel sobre novas formas de autoritarismo e suas implicações para os direitos humanos no mundo, do qual Wyllys era um dos palestrantes.

A postagem destaca que a fala da diplomata foi um ato "contra acusações despropositadas e fake news" e pela "defesa do Brasil e de suas instituições".

Azevêdo pediu a palavra nos últimos minutos da mesa-redonda, e leu um discurso em inglês previamente preparado, defendendo o presidente Jair Bolsonaro e criticando Wyllys, sem citá-lo nominalmente.

"O presidente Bolsonaro não fugiu do Brasil mesmo após uma tentativa real de tirar a sua vida ter sido perpetrada", afirmou a diplomata.

A embaixadora frisou também que o governo Bolsonaro "não é uma organização criminosa, nem o presidente Bolsonaro é racista, fascista ou autoritário" e que ele "não cuspiu na cara da democracia" – referência velada à votação do impeachment de Dilma Rousseff, quando Wyllys, então deputado pelo PSOL, cuspiu em direção a Bolsonaro.

Farani Azevêdo disse ainda que "parlamentares que abandonaram seus eleitores para viajar pelo mundo para disseminar fake news, com discurso de intolerância e ódio, não têm credenciais para falar pela democracia. Muito menos pelo povo brasileiro", se referindo indiretamente à Wyllys, que desistiu de assumir seu terceiro mandato de deputado federal e deixou o Brasil, após receber ameaças de morte.

O texto do discurso também foi divulgado na conta da delegação brasileira no Twitter, sendo também retuitado pela conta do Ministério das Relações Exteriores.

Após a fala, mediadores do evento deram a palavra ao ex-deputado e pediram que a embaixadora permanecesse na sala. Ela, entretanto, optou por abandonar o evento ainda durante a resposta de Wyllys, após dizer que só ficaria se tivesse direito à tréplica, o que lhe foi negado.

"Por favor, embaixadora, ouça a minha resposta", apelou Wyllys. "Se a senhora gosta de debate, a senhora deveria ouvir a minha resposta", acrescentou. "O fato de a senhora ter saído do seu lugar e vir com um discurso pronto para esta sala é um sintoma mesmo de que a minha presença aqui amedronta a senhora e o seu governo", frisou.

"Sua presença aqui envergonha o Brasil", acusou a embaixadora, antes de sair da sala.

A discussão foi registrada num vídeo gravado pelo jornalista Jamil Chade, correspondente em Genebra.

"Em 20 anos cobrindo a ONU, jamais vi o Brasil protagonizar uma cena tão triste como a que a embaixadora do governo Bolsonaro promoveu hoje. O Itamaraty, contaminado por um vírus extremamente perigoso: o da intolerância", lamentou Chade, em sua conta no Twitter.

Em texto publicado no portal UOL, Chade aponta que, em sua fala no debate em Genebra, Wyllys alertou para a suposta relação entre o crime organizado e o governo brasileiro, fazendo referência ao assassinato da vereadora carioca Marielle Franco.

Chade também destaca que o ex-deputado afirmou que a campanha eleitoral que garantiu a vitória de Bolsonaro "havia sido baseada na disseminação de fake news e no discurso de ódio". 

Segundo o jornalista, a embaixadora não estava na sala no momento do discurso de Wyllys. "E, em toda a semana, não apareceu em nenhum dos eventos organizados por ONGs para tratar da situação no Brasil. Mas, nesta sexta-feira, ela entrou no local, depois de o evento já ter sido iniciado."

O jornalista afirma que, quando Azevêdo disse que o governo Bolsonaro prometia defender os direitos humanos, "a sala composta por ONGs e ativistas não segurou o riso".

Após o ocorrido, Wyllys também publicou no UOL uma coluna intitulada A descompostura da embaixadora. No texto, ele classifica a atitude da diplomata após a fala dele de "inacreditável" e "constrangedora".

"Sem ter ouvido minha fala, pediu direito de réplica. Uma 'réplica' estranha, já que ela trouxe um discurso escrito, que seria lido independentemente do que eu tivesse falado", afirma. "Um discurso mais estranho ainda, porque não parecia a intervenção de uma embaixadora, mas a gritaria de uma ativista de ultradireita na rede social."

Para Wyllys, a embaixadora deu a impressão de ter ido ao evento como uma representante da família Bolsonaro, e não do governo brasileiro. "Foi vergonhoso, constrangedor, inédito na história da diplomacia brasileira, que sempre foi mundialmente reconhecida por seu profissionalismo", escreveu o ex-deputado.

Esta notícia foi atualizada em 17/03, detalhando o que afirmaram o jornalista Jamil Chade e o ex-deputado Jean Wyllys sobre o ocorrido durante o debate na ONU.

MD/LPF/ots

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