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De Wilson a Trump, um século de liderança dos Estados Unidos

Michael Knigge sc
11 de novembro de 2018

Quando os EUA abandonaram sua neutralidade, a Primeira Guerra Mundial foi decidida. Há cem anos o presidente Wilson lançou as bases para uma ordem mundial liberal sob liderança americana. Trump a está destruindo.

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Woodrow Wilson governou Estados Unidos de 1913 a 1921
Woodrow Wilson governou Estados Unidos de 1913 a 1921Foto: Getty Images

No início de janeiro de 1918, o então presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, compareceu perante ambas as câmaras do Congresso para apresentar um programa de 14 pontos. As hoje famosas teses indicavam os objetivos de guerra dos EUA na Europa e no Oriente Médio. Foi esboçada sobretudo uma reorganização das nações, baseada no direito de autodeterminação dos povos.

Mas os 14 pontos de Wilson não paravam aí: o líder democrata reivindicava a liberdade de comércio, o fim da diplomacia secreta e a criação de uma Liga das Nações. Assim, em linhas gerais, já em 1918 era possível perceber a ordem mundial liberal que, após a Segunda Guerra, foi constituída sob liderança americana. Uma ordem mundial que se impôs devido à adesão de um número sempre maior de países.

Agora ela está sendo ameaçada, note-se, justamente por um presidente americano. Donald Trump é um solitário. Nos últimos cem anos, nenhum chefe de Estado americano questionou tão profundamente os pilares da política externa do país como o atual, o 45º presidente.

Claro que sempre houve forças tendencialmente isolacionistas no país. Wilson também fracassou internamente com seu projeto por uma ordem de paz mundial. Seu programa de 14 pontos foi rejeitado por um Congresso predominantemente isolacionista, e não pela Casa Branca.

Por isso Wilson é, ainda hoje, considerado um pioneiro do internacionalismo americano. Até a polêmica entrada do país na Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos tradicionalmente procuravam se manter fora dos conflitos internacionais, especialmente na Europa.

Dos horrores da guerra, Wilson tirou a conclusão de que os EUA deveriam perseguir uma política externa multilateral e baseada na cooperação. Isso fica bem claro também em seu famoso discurso de guerra de 1917, no qual enfatizava ser necessário o mundo se tornar seguro para a democracia.

Muitas vezes ele é citado erroneamente, como se os Estados Unidos devessem tornar o mundo seguro para a democracia. Uma diferença pequena, mas significativa. Pois Wilson não acreditava que seu país pudesse alcançar sozinho tal objetivo e que isso só seria possível em conjunto, sob liderança americana.

Uma Liga das Nações deveria criar as condições para essa política cooperativa internacional. Wilson queria criar uma organização que só pudesse agir com o consentimento de todos, onde cada nação integrante tivesse o direito de veto. O fato de a Liga das Nações ter durado menos de três décadas e de os próprios Estados Unidos nunca terem aderido a ela mostra como a ideia de Wilson era controversa.

Presidente Wilson na Conferência de Paz de Paris, 18/01/1919
Presidente Wilson na Conferência de Paz de Paris, 18/01/1919Foto: picture-alliance/akg-images

Durante a presidência de Trump, os EUA já se retiraram de numerosos tratados sancionados pelas Nações Unidas e abandonaram diversas organizações da ONU. Por sua postura de cunho nacionalista, Trump pode ser perfeitamente encarado como um antípoda de Wilson, afirma John Cooper, professor emérito da Universidade de Wisconsin e autor de vários livros sobre o 28º presidente americano.

Sobre Trump, Cooper comenta: "Ele quer agir completamente sozinho no mundo, deixar a marca do homem forte e decidir unilateralmente a seu bel prazer." Trump e Wilson são polos opostos não apenas na forma de ver o papel internacional dos EUA: também a atitude deles em relação à imigração, uma questão altamente polêmica tanto na época como hoje em dia, não poderia ser mais diferente.

Wilson se posicionou claramente diante da xenofobia que se propagara nos EUA durante a Primeira Guerra Mundial contra os imigrantes, sobretudo os possíveis refugiados de guerra europeus. Quando o Congresso americano aprovou em 1917 uma lei para restringir a imigração, ela foi vetada por Wilson. O Congresso, no entanto, conseguiu rejeitar o veto com dois terços da maioria. Um sinal de como era forte o preconceito contra os imigrantes na época.

Também aqui os paralelos com o presente são óbvios. A diferença é que hoje, com Trump, os Estados Unidos têm no poder um presidente que não se opõe à xenofobia crescente, mas que a vem incitando desde o primeiro dia de sua candidatura presidencial.

Mais ainda: Trump não apenas agride verbalmente, como usa todo o poder de seu cargo contra os imigrantes ilegais, separando famílias e deportando. Fora isso, também pretende restringir a imigração legal para os EUA, reduzindo a um mínimo histórico o número de refugiados a serem acolhidos.

Ainda é cedo para julgar como vai acabar o curso de confrontação de Trump com a política do internacionalismo. Para Cooper, no entanto, dois anos de sua presidência são suficientes para determinar o que Woodrow Wilson acharia do seu sucessor: "Ele veria Trump com inquietude e horror."

Pois, afirma o especialista no 28º presidente dos Estados Unidos, "Trump quer sempre apenas provocar, e Wilson odiava os demagogos". Isso também é uma diferença significativa entre os dois chefes de Estado que marcam o século americano entre 1918 e 2018.

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