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Para 56% no Brasil, política e religião devem andar juntas

3 de setembro de 2022

Ideia é apoiada sobretudo por eleitores de Bolsonaro e evangélicos, aponta pesquisa Datafolha. Para 60% dos eleitores, valores da família importam mais do que boas propostas para a economia.

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Mulher com faixa escrito "Deus" na cabeça reza durante a Marcha para Jesus, em junho de 2019
No Brasil, 50% do eleitorado se declara católico, e 27%, evangélico, segundo o DatafolhaFoto: Getty Images/AFP/M. Schincariol

Mais da metade dos eleitores brasileiros consideram que política e valores religiosos devem andar sempre juntos para que o Brasil possa prosperar, apontam dados de uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha nesta semana.

No total, 40% dos entrevistados disseram concordar totalmente com tal afirmação, e 16%, em parte, somando 56%. Outros 30% afirmaram discordar totalmente da ideia, e 11%, em parte. Apenas 1% não concorda nem discorda, e 1% não sabe, segundo o levantamento.

A ligação entre política e religião tem o aval sobretudo de eleitores do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (74%), evangélicos (69%) e dos mais pobres (61%), com renda até dois salários mínimos.

Entre eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 50% concordam com a afirmação. Dos católicos, 57% estão de acordo, e dos eleitores mais ricos, 41%, aponta o Datafolha.

Valores da família x economia

O instituto também questionou se os eleitores concordam com a seguinte afirmação: "É mais importante um candidato defender os valores da família do que ter boas propostas para a economia". A maioria (60%) se disse a favor da ideia – 38% concordam totalmente, e 22%, em parte. Outros 36% discordam – totalmente ou em parte.

Entre os eleitores bolsonaristas, 71% colocam os valores da família à frente da economia. Entre os de Lula, são 59%.

O Datafolha ouviu 5.734 pessoas de 16 anos ou mais em 285 municípios nos dias 30 de agosto e 1º de setembro. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

Lula segue à frente na corrida

A mesma pesquisa apontou que Lula (PT) lidera a corrida presidencial com 45% dos votos, contra 32% de Bolsonaro (PL). Em terceiro lugar aparece o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), com 9%, seguido da senadora Simone Tebet (MDB), com 5%.

Considerando apenas os votos válidos – cálculo que exclui brancos e nulos –, Lula teria 48%, contra 34% de Bolsonaro.

No caso de um eventual segundo turno, Lula aparece novamente como favorito na disputa direta com Bolsonaro. De acordo com o Datafolha, o petista venceria com 53% dos votos, e Bolsonaro ficaria com 38%.

Bolsonaro lidera entre evangélicos

A pesquisa feita pelo Datafolha nesta semana também apontou que Bolsonaro segue liderando com folga entre eleitores evangélicos. O presidente tem 48% das intenções de voto do segmento, contra 32% de Lula.

O petista, por sua vez, é o favorito entre os católicos, com 51% das intenções de voto, contra 28% de Bolsonaro.

Enquanto a margem de erro total da pesquisa é de dois pontos percentuais, o Datafolha considera uma margem de três pontos somente entre os evangélicos.

No Brasil, 50% do eleitorado se declara católico, e 27%, evangélico, segundo o instituto.

Religião na campanha

Uma das apostas de Bolsonaro para tentar aumentar suas chances de ir ao segundo turno e vencer Lula é exatamente o eleitorado evangélico, o que se reflete na sua retórica e agenda de campanha. No final de julho, em seu discurso de lançamento da candidatura, Bolsonaro fez sete menções a Deus – sua esposa, a protestante Michelle Bolsonaro, o invocou outras 27 vezes no palanque.

Na ocasião, Michelle apresentou o marido como um "escolhido de Deus" que tem um "projeto de libertação para a nossa nação", aconselhou a plateia a não negociar com o mal e foi festejada aos gritos de "aleluia".

Nos últimos meses, Bolsonaro tem ido a eventos evangélicos com frequência quase semanal. Só em julho, esteve em diversos encontros com fiéis no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, São Paulo, Maranhão, Ceará, Espírito Santo e Rio Grande do Norte. Ao longo da corrida ao Planalto, o presidente seguirá participando presencialmente e por vídeo de cultos organizados por lideranças evangélicas – assim como outros candidatos.

Lula também vem tentando ampliar seu apoio entre os evangélicos – o PT criou neste ano núcleos evangélicos em 21 estados –, enquanto busca diferenciar sua abordagem sobre a interface entre política e religião em relação à de Bolsonaro.

No lançamento de sua campanha, Lula afirmou que o presidente tenta manipular a boa-fé de evangélicos, mas disse que ele era "possuído pelo demônio". Dias depois, ele afirmou em suas redes sociais: "Eu sou candidato do povo brasileiro, e quero tratar todas as religiões com respeito. Religião é para cuidar da fé, não para fazer política. Eu faço campanha eleitoral respeitando religião, e não uso o nome de Deus em vão."

lf/le (DW, ots)