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Reator termonuclar internacional

27 de julho de 2010

Com previsão inicial de 5 bilhões de euros, a construção do Iter, reator de fusão nuclear, não sairá por menos de 15 bilhões. Caro e experimental, o reator ainda não é um protótipo funcional de usina de energia.

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Foto: ITER

O mês de novembro de 1991entrou para a história da pesquisa nuclear. Foi então que os pesquisadores europeus do laboratório JET, na Inglaterra, conseguiram pela primeira vez induzir de forma controlada a fusão de hidrogênio em hélio – mesmo que apenas por dois segundos.

O experimento abriu o caminho para uma nova e inesgotável fonte de energia. Estimulados, os pesquisadores planejaram a construção de um reator ainda maior, o Reator Termonuclear Experimental Internacional (Iter, na sigla em inglês).

"O objetivo é mostrar que é possível produzir energia em escala maior", explicou Hartmut Zohm, físico nuclear do Instituto Max-Planck em Garching, no sul da Alemanha. A ideia é que o reator multiplique em dez vezes a energia que recebe.

Nesta terça e quarta-feira (27 e 28/07), membros do conselho do projeto se encontram na cidade francesa de Cadarche para discutir o futuro do reator experimental. Considerando que os custos do projeto hoje são três vezes maiores do que o orçamento inicial, seu futuro voltou a se tornar objeto de discussão política.

Fusionsreaktor Iter wird gebaut in Cadarache
Imagem computadorizada das futuras instalações do IterFoto: AP/CEN

O início do investimento

Em conjunto com Japão, Coreia do Sul, China, Rússia, Índia e Estados Unidos, a União Europeia decidiu, em 2005, construir o laboratório Iter no sul da França. A usina de fusão nuclear vai abrigar o maior reator do tipo Tokamac: uma gigantesca câmara de vácuo em forma de anel na qual uma mistura de hidrogênio é mantida sob confinamento magnético.

Essa mistura de deutério e trítio, dois isótopos de hidrogênio, é aquecida até 150 milhões de graus, transformando-se em um plasma quente o suficiente para fundir o hidrogênio em hélio e liberar energia.

Segundo o projeto inicial, o laboratório custaria 5 bilhões de euros e deveria ficar pronto até 2018. Os primeiros experimentos no reator começariam apenas em 2019.

Problemas no caminho

Contudo, já em 2008 havia sinais de que nem o cronograma nem o orçamento iniciais poderiam ser mantidos. A atual previsão é preocupante: o reator deverá entrar em funcionamento somente em 2026. Além disso, os custos deverão chegar a 15 bilhões de euros.

A razão para essa elevação do orçamento se deve, primeiramente, ao aumento do preço das matérias primas, especialmente dos tipos de aço e metal que o Iter requer. Um segundo fator é o fato de o cálculo inicial do orçamento ter sido apertado demais. "Então constatamos que, em detalhe, as coisas são mais complicadas e podem custar um pouco mais", explicou Hartmut Zohm

Há ainda um terceiro motivo para o aumento dos custos: "Um problema no Iter é o fato de os sete parceiros estarem distribuídos por todo o mundo, o que torna lento o andamento das coisas", justifica Zohm.

Nesse projeto conjunto, cada parceiro quer empregar suas próprias indústrias, o que significa que um mesmo componente é fabricado por várias empresas de países diferentes. "Quando a mesma peça não é construída por um único integrante do projeto, mas sim por vários, sua montagem acaba implicando incompatibilidades que resultam em custos adicionais", exemplifica Zohm.

Schaubild zu Iter, Fusionsreaktor wird in Cadarache gebaut
Modelo do reator IterFoto: AP

Mudanças

Agora o Iter deverá ter uma nova administração e sua estrutura será simplificada. A ministra alemã de Educação, Anettte Schavan, é a favor da continuidade do projeto, mas adverte que ele não deverá receber "um cheque em branco".

Para refinanciar o Iter, a União Europeia, que arca com quase a metade dos custos do reator internacional, vai precisar desviar recursos de outros programas de pesquisa e redirecionar verbas não utilizadas.

"Em termos científicos, é um grande desafio realizar a fusão nuclear. Estamos tentando gerar um plasma que se mantenha por algumas centenas de segundos, a fim de extrair mais energia do que a que foi empregada. Não se pode esquecer a alta complexidade dessa tecnologia. Isso requer o domínio de uma temperatura de 100 milhões de graus. Cientificamente, trata-se de algo realmente fascinante. Mas seria um equívoco apresentar esse projeto como uma contribuição ao fornecimento de energia", ressalva Heinz Smital, especialista do Greenpeace para questões de energia nuclear.

Em suma, o Iter é um experimento científico e não o protótipo funcional de uma usina. Baseado nesse argumento, o especialista do Greenpeace pede o fim do projeto Iter, e que os bilhões de euros destinados ao experimento sejam investidos em fontes renováveis de energia, como – por exemplo – em grandes usinas solares no Saara.

Autor: Klaus Dahmann / Nádia Pontes

Revisão: Simone Lopes