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Créditos estudantis podem levar EUA a nova crise

Sophie Schimanski Nova York / av
13 de janeiro de 2019

Universitários americanos nunca estiveram tão endividados: créditos para financiar estudos superiores formam a segunda maior montanha de débitos, depois das hipotecas. Observadores veem fortes paralelos com 2008.

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Formatura na Universidade de Harvard, Massachusetts
Felizes por se formar – e endividados até o pescoço: 42% dos americanos contraem dívidas para completar universidadeFoto: picture alliance/epa/Matt Campbell

A americana Toni Vincent concluiu seu mestrado em Saúde Pública três anos atrás. Para tal, teve que contrair dívidas de centenas de milhares de dólares, antes de receber seu primeiro salário. Ela assumiu um crédito estudantil de 100 mil dólares, dos quais 15 mil dólares foram para o bacharelado numa universidade pública, e 85 mil dólares para o mestrado na prestigiada Universidade George Washington.

Atualmente com 32 anos, ela trabalha como diretora de programas numa organização sem fins lucrativos, coordenando projetos no setor de saúde pública. Seu salário não basta para amortizar rapidamente os créditos assumidos. Após três anos em seu primeiro emprego e ainda no início da carreira, ela continua presa a dívidas de 80 mil dólares.

Vincent é apenas uma entre 44 milhões de americanos que estão pagando as despesas do estudo universitário. Ao todo, eles devem ao Estado 1,5 trilhão de dólares, uma quantia recorde, só superada pela representada pelas hipotecas. Quase 7% do total das dívidas nos Estados Unidos são créditos estudantis públicos. A eles acrescentem somam-se 64,2 bilhões de dólares em créditos privados, concedidos por bancos e outras instituições.

Segundo um estudo de junho de 2018 do Fed, o banco central americano, 42% de todos os estudantes tiveram que se endividar para completar sua educação universitária, numa média entre 20 mil e 25 mil dólares. Nesse meio tempo, essa quantia aumentou: quem começou a estudar em 2016 deve ao Estado, em média, 37 mil dólares.

Jon Fansmith é diretor da associação universitária American Council on Education (ACE), a qual representa 1.800 instituições em todo o país. De seu ponto de vista, há mais cidadãos estudando do que antes e, portanto, mais créditos e mais dívidas, o que "não é necessariamente uma tendência ruim".

De fato, no terceiro trimestre de 2018, 20 milhões de estudantes estavam matriculados nas universidades americanas, quase 5 milhões a mais do que no mesmo período de 2000, pois um título de ensino superior nunca foi tão importante.

Um estudo da Universidade de Georgetown, de 2013, mostra que até 2020 cerca de 65% de todas as ofertas de emprego exigirão, no mínimo, um bacharelado. Por isso, para Vincent era impensável não entrar para a universidade, que é o seu "investimento no futuro".

Entretanto esse investimento fica cada vez maior, pois, com o passar do tempo, estudar ficou bem mais caro. Desde 1989 os custos quadruplicaram, dependendo do tipo de instituição e da duração do curso. Frequentar por quatro anos uma instituição pública de ensino superior custa cerca de 20 mil dólares, uma instituição privada chega a 50 mil dólares.

Em média, cada graduado tem que pagar 351 dólares por mês, muitas vezes ao longo de décadas. Cerca de 10% já não conseguem mais pagar depois de dois anos, e declaram inadimplência.

Em 90% dos casos o credor é o Estado, portanto, quem acaba arcando com o prejuízo é o contribuinte. A tendência é preocupante: segundo o Brookings Institute, cada vez mais universitários não conseguirão restituir seus créditos, e até 2023 a cota de inadimplentes poderá chegar a 40%.

Há anos a mídia vem fazendo paralelos com a falência do banco de investimentos Lehman Brothers e a subsequente crise financeira em 2000. A emissora de TV CNBC fala de uma bolha, a Fox News, e o site MarketWatch já detecta uma crise. O temor é que os créditos estudantis desempenhem agora o papel das hipotecas dos americanos com má classificação de risco.

Antes da última crise financeira, de 2008, as hipotecas das unidades residenciais com baixo rating foram revendidas em pacotes como produtos financeiros de alto risco. Os bancos tiveram que ser salvos com o dinheiro dos contribuintes, o que poderá voltar a acontecer. Portanto há paralelos reais.

A montanha de débitos dos estudantes americanos pode também ter consequências para a economia, já que jovens endividados assim compram menos carros, casas e, no geral, consomem menos, advertiu o presidente do Fed, Jerome Powell, falando ao Congresso em março de 2018. Ele vê um risco macroeconômico que "poderá até mesmo desacelerar a economia".

Estudos já mostram que a incapacidade de saldar as dívidas tem efeitos negativos sobre os devedores, por comprometer sua notação de crédito. Por isso, o governo de Barack Obama pretendia ajudar alguns deles com o programa Student Loan Forgiveness, perdoando uma parte da dívida dos que entrassem para o serviço público após o curso universitário.

No entanto, o Ministério da Educação acaba de divulgar que 99,5% dos requerimentos nesse sentido foram indeferidos, e agora a administração de Donald Trump pretende encerrar de vez o programa.

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