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Crise venezuelana chega ao setor da aviação

Astrid Prange (cn)25 de março de 2014

Entre as empresas aéreas cresce a insatisfação com o governo do país, que retém valores obtidos com a venda de passagens. Dívida com o setor chega a 3,7 bilhões de dólares.

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Foto: picture-alliance/dpa

"É lamentável que companhias aéreas não consigam mais voar para a Venezuela. Nós pedimos ao governo que apresente um cronograma do pagamento das dívidas", afirma Jason Sinclair, porta-voz da Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata). Segundo ele, a Venezuela precisa cumprir suas obrigações contratuais e liberar, às empresas do setor de aviação, as receitas por elas obtidas no país.

A Iata congrega 240 companhias aéreas e corresponde a 84% da aviação mundial. Segundo a associação, a Venezuela está devendo cerca de 3,7 bilhões de dólares para as 24 companhias aéreas estrangeiras que operam no país. Há meses o governo em Caracas se nega a trocar os bolívares obtidos com a venda de passagens e fretes aéreos por dólares.

A situação está causando irritação na Iata. Em dezembro e janeiro, o chefe da associação, Tony Tyler, enviou correspondência ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, pedindo uma solução para o problema. Até agora não recebeu resposta.

Assim, a Iata optou por elevar ainda mais a pressão sobre o governo venezuelano. O porta-voz da associação falou à DW que comunicou o problema à Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), uma agência das Nações Unidas à qual pertencem 191 países.

Crise econômica e política

Para o economista Frederico Foders, do instituto econômico IfW, de Kiel, as dívidas com as companhias internacionais são somente a ponta do iceberg. "A Venezuela empurra cerca de 10 bilhões de dólares em dívidas com fornecedores", afirma Foders, acrescentando que o país se isola cada vez mais.

Venezuela Präsident Nicolas Maduro
Maduro se recusa a liberar dinheiro de empresas aéreasFoto: Reuters

A fuga de capitais e a escassez de divisas estão por trás da dívida venezuelana. Justamente o país que possui a maior reserva de petróleo do mundo luta contra a rápida queda de suas reservas cambiais. Além disso, a exploração de petróleo está diminuindo, diminuindo ainda mais a receita com a exportação da matéria prima. A inflação anual subiu para 56%, e cada vez mais produtos desaparecem das prateleiras das lojas.

O país também está politicamente divido. O conflito entre oposição e seguidores do ex-presidente Hugo Chávez e seu sucessor Maduro se agravou perigosamente. Há meses milhares de venezuelanos protestam contra a crescente corrupção, a crise econômica e a criminalidade. Durante os protestos, 29 pessoas morreram.

Punição para as companhias

Diante da insegurança e das grandes perdas financeiras, algumas companhias aéreas reduziram as conexões para a Venezuela. A Air Canada anunciou a suspensão de todos os voos para o país. A empresa equatoriana Tame também não tem mais rotas para o país vizinho. A colombiana Avianca planeja cortar 75% de seus voos. A Air Europa e Aeroméxico também diminuíram a frequência de seus voos.

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Lufthansa voa para o país com aviões menoresFoto: Reuters

A Lufthansa também se adaptou à nova situação. Em vez de voar com o Airbus A340 para Caracas, o trecho é feito com um avião menor, o modelo A330. "Nós não queremos desistir facilmente desse mercado, mas em algum momento vamos chegar ao nosso limite", disse o porta-voz da empresa, Boris Ogursky. Segundo fontes do setor, a companhia alemã perdeu 100 milhões de dólares nesse impasse.

Já o governo venezuelano ameaçou punir severamente as companhias aéreas que reduzirem ou cancelarem voos de e para a Venezuela. Após o anúncio feito pela Air Canada, Maduro declarou que quem deixar o país não voltará durante o seu mandato.

"Muitas venezuelanos altamente qualificados estão no Canadá, e eles voavam com a Air Canada. Caracas sabe disso", comenta Foders. O especialista em América Latina prevê uma aterrissagem forçada da economia venezuelana durante o governo de Maduro. "A Venezuela está gastando suas reservas cambiais para comprar alimentos no exterior. Nem Cuba se encontra nessa situação", argumenta Foders.