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Crise no Japão

18 de março de 2011

Após terremoto e tsunami, economistas descartavam efeitos duradouros para a economia mundial. Um possível agravamento na crise nuclear japonesa leva analistas a preverem um impacto maior na economia.

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Catástrofe no Japão deixa mercados nervososFoto: DW

Pouco depois do terremoto e do tsunami, a maioria dos economistas alemães esboçou um "cenário básico" para o Japão: interrupção da produção, a interrupção da cadeia de abastecimento e a queda do consumo. Perdas estas, que seriam compensadas depois de três meses pela reconstrução do país. A Alemanha e a economia mundial escapariam dessa apenas com pequenas perdas.

Mas as explosões na usina nuclear de Fukushima e a nuvem radioativa que ameaça se deslocar para Tóquio fazem com que os economistas se tornem mais cautelosos em suas declarações. O economista Jürgen Matthes, do Instituto da Economia Alemã (IW), por exemplo, vê o risco de que cadeias de abastecimento sejam interrompidas se a produção for paralisada por muito tempo.

"Sabemos que o Japão é um fornecedor de dispositivos eletrônicos de importância internacional, e muitos Estados dependem dessas peças, que não podem ser substituídas tão rapidamente". Isso se aplica, certamente, à indústria alemã de eletroeletrônicos.

Exportações chinesas mais atingidas

Andreas Rees Chefvolkswirt von Unicredit
Andreas Rees, do UnicreditFoto: Unicredit

No entanto, os chineses devem ser muito mais afetados, diz Matthes. Segundo ele, o Japão exporta 20% de suas mercadorias para a China, onde são processadas e depois vendidas para diversas partes do mundo. Estes efeitos adversos afetam a locomotiva de crescimento que é a China num momento particularmente inoportuno.

"Já estamos verificando uma certa desaceleração, particularmente pelo aumento dos preços dos alimentos", diz o economista-chefe do Unicredit, Andreas Rees. "O banco central da China já aumentou significativamente as taxas de juro, taxas de compulsório e taxas de juros para empréstimos foram aumentadas e, agora, ainda tem o Japão", observa. "E a China é uma chave para a economia real", opina o especialista.

Enquanto os efeitos concretos sobre a economia real podem ser detectados, os efeitos psicológicos só podem ser sentidos. Rees os chama de "efeito CNN". O clima entre empresas e consumidores no mundo todo se ressente, devido às terríveis imagens televisivas vindas do Japão. Esse efeito pode passar rapidamente para a economia real se as empresas deixarem de investir e os consumidores decidirem ser mais cautelosos.

As flutuações nos mercados de ações e financeiros também podem ter repercussões sobre a economia real, de acordo com Matthes. "As perdas na bolsa podem destruir patrimônios, o que pode ter efeito negativo sobre o consumo e também sobre investimentos, e reduzir a demanda", explica. As turbulências nos mercados financeiros atingem principalmente os EUA , onde muitos patrimônios são mantidos em forma de ações.

Efeito-dominó poderá chegar à UE

Jürgen Matthes
Jürgen Matthes, do Instituto da Economia AlemãFoto: IW Köln

Outro efeito-dominó poderá logo atingir a zona do euro. As seguradoras e outros investidores do Japão investiram muito no exterior. Somente na UE, 800 bilhões de euros em títulos estão nas mãos de japoneses. E eles logo vão precisar de muito dinheiro para a reconstrução do país.

"Esse capital poder vir a ser repatriado, e uma parcela substancial dele está investido na União Europeia e em países periféricos", lembra Andreas Rees. Se esse dinheiro for retirado, pode ser que os juros da dívida do país em questão voltem a crescer. "Na pior das hipóteses, a crise de endividamento desse país vai piorar", antecipa Rees.

Uma espécie de antecipação desse tipo de desenvolvimento fez com que o iene japonês subisse a níveis recordes, o que é ruim para um país dependente das exportações, como o Japão.

A alta do iene ocorreu após investidores japoneses terem trazido de volta ao Japão capitais investidos fora, para financiar a reconstrução do país e a crise nuclear. Negócios de câmbio altamente especulativos financiados com ienes também contribuíram para a alta. Porém intervenções do banco central do Japão e de outros países do G7, aumentando a oferta de ienes no mercado, fizeram com que cotação da moeda baixasse novamente.

No momento, o Japão e o mundo olham para Fukushima e esperam que o temido desastre nuclear possa ser evitado. Mesmo que o pior ocorra, os especialistas não acreditam isso acarretará em uma recessão global. Pois o Japão é um exportador líquido, não um importador líquido. Em outras palavras, se cai a demanda doméstica no Japão, suas próprias empresas são as principais afetadas.

Autoria: Zhang Danhong (md)
Revisão: Augusto Valente