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Cresce temor de escalada da violência na Venezuela

Tobias Käufer av
6 de julho de 2017

Em meio ao caos e falência das instituições, confrontos fazem parte do dia a dia do país. Mas ataque de grupo chavista ao Parlamento sinaliza uma gradual transição para o que pode ser o princípio de uma guerra civil.

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Deputado Luis Stefanelli (esq.) segura um dos simpatizantes do governo que invadiram a Assembleia Nacional em Caracas
Deputado Luis Stefanelli (esq.) segura um dos simpatizantes do governo que invadiram a Assembleia NacionalFoto: Reuters/C. G. Rawlins

As imagens são de arrepiar: coberto de sangue, o deputado venezuelano Armando Armas jaz no chão após ser agredido por desconhecidos mascarados que invadiram as dependências da Assembleia Nacional.

Justamente no dia em que a Venezuela comemorava sua independência, cada vez mais fotos perturbadoras eram postadas nas redes sociais: representantes do povo espancados, que, sangrando, lutavam para manter a compostura; uma multidão irada que golpeava tudo o que encontrava pela frente.

Opinião: Um tapa na cara da democracia

A rigor, o órgão legislativo em Caracas é zona protegida, mas nesta quarta-feira (05/07) as forças de segurança governamentais fracassaram totalmente. Não está claro quem permitiu que os agressores entrassem.

O fato, em si, de eles terem ido ao local para promover uma caça humana à oposição que detém a maioria parlamentar, é mais um entre os monstruosos escândalos que se desenrolam nos últimos dias no país. E gerou temor de que a violência chegue a novo patamar no país.

Confronto anunciado

A oposição responsabiliza bandos paramilitares ligados ao governo pela violência: os temidos colectivos – milícias que foram armadas pelo governo socialista, a fim de defender a revolução bolivariana. Há poucos dias, o presidente Nicolás Maduro ameaçou: "O que não conseguimos com votos, fazemos com armas."

Outro incidente recente também despertou atenção: em seu programa de TV intitulado título Con el Mazo Dando (Dando com o maço), o número dois do governista Partido Socialista Unido de Venezuela (PUSV), Diosdado Cabello, celebrou a violência de um militar contra um oposicionista.

Alguns dias antes, depois de o presidente da Assembleia Nacional livremente eleita, Julio Borges, reclamar de agressões contra deputados, o coronel Vladimir Lugo primeiro gritara com ele e depois o empurrara. Quando Cabello saudou o militar no estúdio, o público deu gritos de entusiasmo.

Protesto em Caracas e 1 de julho de 2017
Protestos contra o governo realizados desde abril já deixaram 90 mortos e resultaram em mais de 3 mil prisõesFoto: picture-alliance/AA/C. Becerra

Crise institucional

Testemunhas e oposicionistas agredidos culpam os adeptos do governo Maduro pelo caos e o ataque ao Parlamento nesta quarta-feira, que sinaliza uma gradual transição para o princípio de uma guerra civil na Venezuela. Pois há semanas realizam-se no país protestos contra o governo socialista, que no início de abril tentou retirar por meios jurídicos os poderes do Parlamento, no qual a oposição tem maioria desde as eleições de 2015.

Há anos Maduro governa à revelia do Legislativo, na base de decretos extraordinários e estados de exceção. Em vez de realizar os pleitos regionais e municipais dentro do prazo, ele quis convocar uma Assembleia Constituinte, mas a moção foi rejeitada pela maioria parlamentar.

O ataque contra a Assembleia Nacional veio aparentemente em reação ao voto dos deputados, e o oposicionista Henrique Capriles acusa o governo de ter preparado a investida já na véspera. Segundo ele, o coronel Lugo, responsável pela segurança do órgão, teria deixado passar os agressores.

De início, o ministro da Defesa Vladimir Padrino López mostrou-se ostensivamente neutro: "Nós condenamos toda forma de violência, não importa de que lado venha." Em seguida, conclamou a oposição a se juntar à luta contra a violência.

Balanço da violência

Ainda não há como avaliar os efeitos do ataque da última quarta-feira à representação popular. Maduro insiste em convocar uma Assembleia Constituinte com o fim de reorganizar as relações de poder na Venezuela.

Pesquisas de opinião mostram que a grande maioria da população é contra a proposta, severamente criticada tanto no país como em nível internacional. O diálogo entre governo e a oposição, iniciado há meses pelo Vaticano, fracassou.

O balanço das últimas semanas de protesto é devastador: a ONG Foro Penal registrou mais de 90 mortes nas manifestações contra o governo. Das 3.300 pessoas presas desde o começo de abril, quase 400 foram levas a tribunal militar. Segundo a organização, atualmente há 391 detentos políticos na Venezuela, assim como notícias de torturas pelas forças de segurança.