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Craque se torna centro do debate sobre vacinação na Alemanha

26 de outubro de 2021

Kimmich, do Bayern e da seleção alemã, admitiu que não se vacinou contra covid-19 por temer “efeitos de longo prazo” dos imunizantes. Declaração gera enorme repercussão e é contestada por especialistas.

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Jogador de futebol da Alemanha, Joshua Kimmich, leva a mão à cabeça durante uma partida com expressão de assustado. Ele diz que está "pensando no caso" e que "provavelmente" vai se vacinar
Joshua Kimmich diz que está "pensando no caso" e que "provavelmente" vai se vacinarFoto: Alex Grimm/Getty Images

Joshua Kimmich, uma das maiores de estrelas da equipe do Bayern de Munique e da seleção de futebol alemã, se viu inesperadamente no centro do debate em torno da vacinação contra a covid-19.

O atleta de 26 anos, cotado para ser o capitão de sua equipe por suas qualidades de liderança, confirmo que ainda não se vacinou contra a covid-19. Ele disse que se preocupa com a falta de um estudo sobre os "efeitos de longo prazo” dos imunizantes. Ainda está considerando no caso, mas é "bem possível” que se vacine.

O partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD), que se opõe publicamente às medidas para conter a doença na Alemanha, saudou a fala de Kimmich. Já os que apoiam a vacinação como um caminho para o retorno à normalidade expressaram consternação, num momento em que os números da covid-19 voltam a subir na Alemanha.

A especialista médica Alena Buyx, presidente do Conselho de Ética da Alemanha, disse que Kimmich foi "pego pela desinformação”. "Ele está muito mal orientado. Isso é algo que agora se espalha, e seria ótimo se ele utilizasse essa plataforma para receber melhores conselhos sobre como ser um exemplo nessa questão. É importante esclarecer que esse tipo de efeitos de longo prazo não existe.”

"Quanto mais gente estiver vacinada, menos perigoso se torna o vírus”, afirmou  o técnico do RB Leipzig, o americano Jesse Marsch.

O porta-voz do governo alemão Steffen Seibert disse nesta segunda-feira (25/10) que existem "respostas claras e convincentes” aos questionamentos feitos por Kimmich por parte de especialistas nacionais e internacionais, e que espera que o jogador "deixe essa informação chegar até ele, e assim, talvez se decida a favor da vacinação”.

Segundo as autoridades de saúde alemãs, pouco mais de 55 milhões – 66,2% da população alemã – completaram o esquema vacinal. As crianças com menos de 12 anos ainda não estão sendo imunizadas.

Craque lamenta "polarização" do debate

A relutância do atleta em se vacinar surpreendeu a muitos, devido ao seu envolvimento na criação da campanha de arrecadação de fundos We Kick Corona ("Nós chutamos o corona”), que iniciou juntamente em março de 2020 com o Bayern de Munique e com seu companheiro de equipe Leon Goretzka.

A iniciativa conseguiu arrecadar milhões de euros para que organizações de caridade pudessem continuar trabalhando durante a pandemia. Uma parte do dinheiro também foi para organizações médicas.

"Também doamos ao Unicef, que disponibilizou vacinas. A questão era que há países sem acesso a vacinas”, disse Kimmich no último sábado, após a vitória do Bayern sobre o Hoffenheim pelo campeonato alemão.

"Acho que cada um deve tomar essa decisão por si próprio, e não pode ocorrer de alguém não ter acesso. Mas, se você tomar a decisão de fazê-lo, então devemos fazer todo o possível para assegurar que consiga a vacina”, explicou o jogador.

Kimmich negou ser contra a vacinação. "Acho lamentável nesse debate, que seja apenas sobre se você é vacinado ou não é vacinado, e caso não seja, é automaticamente um negacionista da covid ou  opositor da vacina”.

"Mas, há outros, em suas casas, que, acho eu, estão simplesmente pensando a respeito, qualquer que seja o motivo. Acho que eles devem ser respeitados, especialmente se obedecem as diretrizes.” Ele acrescentou que é testado regularmente, e que os testes são pagos pelo Bayern.

Acesso limitado aos estádios

A liga alemã de futebol, assim como as equipes, não divulgam quais jogadores estão ou não vacinados. Desde o início da pandemia, vários contraíram o coronavírus.

Kimmich, certamente, não é o único jogador não vacinado, mas sua posição como líder no Bayern e na seleção – recentemente, foi o capitão da seleção, na ausência do goleiro Manuel Neuer – significa que suas declarações têm um certo peso.

"Como exemplo, mas também por razões práticas, seria melhor se ele se vacinasse” afirmou o ex-jogador e ex-CEO do Bayern Karl-Heinz Rummenigge. Seu sucessor, o ex-goleiro Oliver Kahn, disse que a posição do clube é somente "recomendar que todos se vacinem”, mas que também deve-se respeitar quem tem "uma ou outra opinião”.

O técnico do Bayern, Julian Nagelsmann, está atualmente em isolamento após ser diagnosticado com covid-19. Com o ciclo vacinal completo, ele se recupera bem da doença. Nos últimos dois jogos, comunicou-se com o auxiliar técnico através de mensagens.

Na maior parte da temporada passada, as partidas ocorreram sem público. Recentemente os torcedores puderam voltar aos estádios, ainda que sob condições rígidas. A maioria das equipes exige que os espectadores estejam vacinados, recuperados ou que apresentem testes recentes com resultado negativo, para poder assistir as partidas ao vivo.

Entretanto, alguns clubes passaram a permitir o acesso somente de vacinados ou recuperados. Se essa regra se aplicasse também aos jogadores, Kimmich não poderia comparecer a essas partidas, assim como outros jogadores não vacinados.

Especialistas contradizem jogador

O presidente da Comissão Permanente de Vacinação (Stiko) da Alemanha, Thomas Mertens, avalia a discussão em torno do episódio Joshua Kimmich como um "absurdo sem limites”. Ele avalia que o debate sobre o caso de um jogador de futebol é "excessivo”.

Mertens diz que a decisão de Kimmich é pessoal, e assim deveria permanecer. Porém lembrou que os efeitos de longo prazo das vacinas "ou não ocorrem, ou são extremamente raros”. "O fato de que hoje serei vacinado e que haverá efeitos colaterais no ano que vem não existe, nunca ocorreu e não ocorrerá.”

Ingo Fröbose, cientista esportivo e professor de prevenção e reabilitação no esporte na Universidade Esportiva de Colônia, alerta para os efeitos de longo prazo da covid-19. O risco que Kimmich corre seria bastante grande, já que "os maiores problemas com atletas não vacinados são associados à covid longa”. O especialista ressalta que as sequelas de uma infecção com o novo coronavírus podem resultar no fim de carreiras esportivas.

rc/av (AP, ots)