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Brasil-Alemanha

5 de maio de 2009

A cidade de Vitória será a sede da 27ª edição do Encontro Econômico Brasil-Alemanha em 2009. A Deutsche Welle falou com seu coorganizador, Marco Aurélio Marçal, sobre relações bilaterais em tempos de crise.

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Capital capixaba quer ser sede do 'melhor encontro de todos os tempos'Foto: Thiago Guimarães

Na última edição do Encontro Econômico Brasil-Alemanha, realizado em Colônia em outubro passado, a cidade de Vitória, capital do Espírito Santo, foi escolhida para sediar a 27ª edição do evento, de 30 de agosto a 1º de setembro de 2009.

Para preparar o evento, Marco Aurélio Marçal, que é coorganizador do encontro e responsável pela Área Internacional da Federação das Indústrias do Espírito Santo, esteve recentemente na Alemanha. A Deutsche Welle falou com o professor de Relações Internacionais sobre o evento e as relações bilaterais em tempos de crise.

Deutsche Welle: O que distingue o Encontro Econômico Brasil-Alemanha 2009 das edições passadas?

Marco Aurélio Marçal: Os empresários alemães e brasileiros reclamam que os simpósios são eventos muito bonitos, de grande peso, mas que não geram diretamente negócios. Por isso, haverá um site na internet no qual os inscritos podem optar pela participação em rodadas de negócio, definindo quais os parceiros que desejam encontrar. Por exemplo, fornecedores ou possíveis clientes em determinadas áreas.

O que vai permitir que o empresário perceba que do outro lado ele tem um brasileiro ou um alemão com quem pode vir a conversar e que daí pode resultar um negócio. Lembro que, em Colônia, o nosso governador, Paulo Hartung, disse enfaticamente que o encontro em Vitória seria o melhor de todos até agora. Então ficou para nós uma responsabilidade muito grande e estamos trabalhando fortemente com o objetivo de fazer o melhor encontro.

Em Colônia, ainda não se previa a dimensão que iria assumir a crise econômica, que, entretanto, atingiu também o Brasil. Que repercussões tem a crise sobre as relações bilaterais econômicas Alemanha-Brasil?

A principal repercussão é em função da grande redução da demanda dos países mais desenvolvidos. A nossa produção teve que ser reduzida, tanto na siderurgia, como na mineração, como no fabrico de celulose. Há menos produtos em estoque. Uma retomada terá que ser muito relativa, para que estas empresas brasileiras possam retornar à operação e não sintam tanto a fase de transição.

Mas, obviamente, essa fase vai ser sentida, por causa dos grandes projetos, cuja demanda maior está no mundo desenvolvido. Não é o Brasil, não são os países em desenvolvimento que estão comandando a crise. Infelizmente ela está sendo comandada pela redução da demanda dos grandes países desenvolvidos. Como fornecedores que somos, sem dúvida sofreremos as consequências disso.

Receia também um desinvestimento alemão no Brasil?

Não, porque o Brasil é a terra do futuro. O Brasil tem recursos naturais fantásticos. A Amazônia é maior do que a Europa excetuando a Rússia. É um pulmão da natureza, que coloca o Brasil como uma potência para o futuro. Afora isso, o Brasil hoje já se desenvolve em alguns campos tecnológicos, por exemplo em aviões regionais até 80 lugares.

Há outros segmentos: na indústria metal-mecânica, na indústria eletrônica, o Brasil está se ombreando com o topo de linha. A siderurgia brasileira – especificamente a ArcelorMetall, em Tubarão, em Vitória – tem o menor custo operacional do mundo, menor inclusive do que as indústrias japonesas. Isso é realmente um atrativo muito grande para os investimentos.

Inicialmente, o governo brasileiro não quis admitir que a crise viesse a afetar também o Brasil. Foi um erro?

Por ser carismático, o presidente Lula da Silva usa de muitas bravatas, aquilo que a gente grita para o mundo apesar de às vezes não ser verdade. Mas a verdade é que o povo às vezes precisa que o seu líder carismático fale para ele: olhe, siga comigo, vá em frente, que não existe crise. Apesar disso ser mentira, é mais um incentivo para o povo se manter forte.

É assim que eu entendo as palavras do presidente. Mas a gente tem que ter um cuidado muito grande ao interpretar palavras otimistas. A realidade não é tão bonita. Ela requer muito cuidado e muita habilidade na condução dos negócios.

A contrariar estas palavras otimistas estão os programas de grandes dimensões de fomento conjuntural, lançados quase de imediato pelo governo em Brasília.

A rapidez com que são tomadas as medidas é um dos aspectos positivos deste governo. As medidas do governo Lula foram tomadas na proporção certa, na hora certa e no ponto certo. Espero que continue tomando outras medidas que se tornem necessárias para que o Brasil se recupere.

O que não podemos ter é uma alta do desemprego. Porque os grandes projetos diminuíram a produção, de modo que vai sobrar emprego. Esse é o grande temor que pessoalmente tenho.

Há uma contradição na política econômica brasileira: por um lado, procura-se uma maior internacionalização. Pelo outro, são erguidas barreiras ao comércio, por exemplo, na forma de tarifas alfandegárias. Não apenas para produtos europeus, mas até para os países da América Latina, que viram os impostos de importação brasileiros aumentar em consequência da crise. Como se resolve esta contradição?

A globalização traz a regionalização do mundo. Por isso, a relação comercial mais certa é aquela que se estabelece entre blocos econômicos. Desde o governo de Fernando Henrique Cardoso, estamos estudando um acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul.

Na minha opinião pessoal – e isso eu defendo até para os meus alunos – a grande saída para o mundo é a regionalização da economia e do comércio internacional, não importa se mediante acordos de livre comércio bilaterais, ou multilaterais entre blocos econômicos.

E como vê o futuro das relações econômicas bilaterais entre a Alemanha e o Brasil?

As previsões indicam que lá para 2030 a China, a Índia e o Brasil estarão entre as grandes potências internacionais, enquanto algumas grandes potências europeias cairão da lista. Mas a Alemanha está lá firme. Isso porque sua economia é forte, o que faz dela um país forte. Por isso, será sempre um parceiro forte.

Acredito intensamente no aumento constante das trocas comerciais e da economia como um tudo do Brasil, como um dos países em desenvolvimento que estão projetados como uma das grandes potências a partir de 2030, e das grandes potências de hoje que manterão seu patamar, como é o caso da Alemanha.

A crise vai passar dentro de dois, três ou cinco anos, não sei. Mas, de qualquer maneira, a Alemanha está acima da crise e se mantém como uma grande potência. Entre as grandes potências, a corrente de comércio tem que ser otimizada, aumentada sempre. Eu sou extremamente otimista quanto à relação comercial Brasil-Alemanha.

Autora: Cristina Krippahl

Revisão: Rodrigo Abdelmalack