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Contra espionagem, Alemanha quer fronteira europeia para tráfego de dados

Jeanette Seiffert (kg)20 de fevereiro de 2014

Novo sistema de tráfego de dados seria inspirado no Acordo Schengen, que limita circulação de mercadorias e pessoas. Para especialistas, restrição do tráfego online ao território europeu será ineficiente.

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Foto: picture-alliance/dpa/Google

Além de fragilizar as relações do governo de Angela Merkel com os Estados Unidos, as revelações sobre os atos de espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) levaram a Alemanha a discutir formas de limitar o tráfego de dados na internet.

Merkel anunciou que planos concretos para a criação de um sistema de roteamento Schengen estão em andamento, restrito aos países-membros da União Europeia (UE). A ideia é criar uma rede de comunicações configurada para que fique fora do alcance das autoridades de segurança norte-americanas.

Bloco dividido

A Deutsche Telekom, uma das maiores empresas de telecomunicações da Europa, divulgou recentemente a intenção de criar uma rede de dados restrita ao bloco. O sistema funcionaria com base no Acordo de Schengen, que permite a livre circulação de pessoas e mercadorias na UE.

A convenção, no entanto, não compreende todos os países-membros do bloco. A adoção de um sistema de roteamento baseado em Schengen seria uma desculpa elegante, por exemplo, para deixar o Reino Unido de fora, já que o serviço de inteligência do país, conhecida como GCHQ (Government Communications Headquarters), também foi acusado de espionar dados da EU.

Na Alemanha, em fóruns online, ativistas da internet já zombam do que chamam "Schlandnet", abreviação para "Deutschland Internet" (Internet da Alemanha). Dominique Petersen, especialista em tecnologia da informação, duvida que seja possível criar fronteiras nacionais para a internet, já que, desde o início, ela tem uma estrutura global.

"Os grandes servidores das empresas de internet ficam geralmente no exterior, e os provedores do serviço enviam pacotes de dados para diferentes países", explica Petersen. Segundo ele, o tráfego de dados dentro da Europa restrito aos canais da UE é apenas uma parte do que os europeus fazem no ambiente online.

"Se eu, por exemplo, navegar no Facebook, fazer compras na Amazon ou utilizar outros grandes portais, os dados vão deixar de trafegar apenas na zona alemã e europeia de uma forma ou de outra", argumenta.

Caro e desnecessário

Philipp Blank, porta-voz da Deutsche Telekom para segurança na internet e proteção de dados, defende a ideia do "sistema de roteamento Schengen". A medida não teria nada a ver com a limitação do tráfego de informações na internet dentro das fronteiras nacionais.

"Nós simplesmente perguntamos: por que um e-mail enviado de Bonn para Berlim deve passar por Nova York e Londres?", questiona. "Nos Estados Unidos, as mensagens trocadas entre um remetente e um destinatário dentro do país não são redirecionadas para fora."

Petersen, no entanto, não acredita que uma rede de comunicações europeia garantiria uma segurança efetiva de dados. "Pode ser que a medida dificulte a espionagem para serviços de inteligência que não têm as mesmas capacidades técnicas das agências norte-americanas ou britânicas. Mas a NSA não teria qualquer problema, por exemplo, para estabelecer algum tipo de estação de vigilância aqui na Europa ou na Alemanha."

Jan Philipp Albrecht, membro do Grupo dos Verdes no Parlamento Europeu, concorda com a opinião do especialista em TI. Em uma recente entrevista à DW, ele afirmou que o estilo do sistema Schengen não deveria ser o foco da discussão.

"Ao contrário, nós precisamos ter um aparato legal que assegure nossos direitos fundamentais no mercado europeu", afirmou o parlamentar, destacando que essa seria uma vantagem para aprimorar o relacionamento com empresas do setor localizadas fora da União Europeia.

Além de inútil, o sistema de dados Schengen sairia caro, pontua Petersen. Segundo ele, no momento, os provedores de internet buscam as formas mais rápidas e baratas para enviar pacotes de dados ao redor do mundo. Se as empresas forem forçadas a restringir o tráfego para a Europa, os clientes terão que pagar mais para navegar na internet.

Mercado vantajoso para empresas europeias

Especialistas avaliam que empresas como a Deutsche Telekom seriam as grandes beneficiadas com a criação de um sistema de dados estrito à União Europeia.

"A Telekom seria certamente a grande vencedora nesse processo", argumenta Petersen. Para ele, essa é a chance de empresas de internet europeias competirem com grandes companhias americanas do setor e obterem grandes lucros.

Já o porta-voz da Telekom tem algumas ressalvas. "Para nós, não haveria qualquer receita adicional", explica Blank. A empresa estaria apenas interessada em ganhar de volta a confiança dos usuários da internet, perdida devido aos escândalos de espionagem.

Para isso, é necessário que os usuários se informem sobre as brechas de segurança na internet. "Os e-mails são uma espécie de cartão-postal: podem ser lidos por qualquer pessoa que 'coloque os dedos neles’. Isso também vale para as mensagens que sejam enviadas e recebidas dentro da própria Alemanha, por exemplo", observa.

A única forma de evitar o acesso de terceiros é criptografar as informações. "Se essa medida é tomada, não importa o caminho que os pacotes de dados vão tomar ou o que é feito com eles nesse trajeto", explica o especialista em TI.

O sistema de dados europeu está longe de ser criptografado de forma padronizada. Quem quer enviar e-mail com segurança ainda precisa agir por contra própria. A solução é utilizar um software que faça a criptografia e que depois a desfaça, para que as mensagens possam ser lidas quando chegarem a seus destinatários.