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Consternação

(ns)13 de março de 2003

O assassinato do premiê sérvio Zoran Djindjic chocou os políticos alemães que o conheciam e o apreciavam pela coragem de ter entregue o ex-presidente Milosevic ao Tribunal de Haia e lutar pela democracia e por reformas.

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Zoran Djindjic (e) com Schröder em uma de suas visitas à AlemanhaFoto: AP

"Com a morte do primeiro-ministro sérvio não perdemos apenas um político muito ligado à Alemanha, como também um amigo pessoal", disse o chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, que manifestou-se profundamente consternado pela morte do político de 50 anos, nesta quarta-feira (12/03), vítima de um atentado em Belgrado. Foi graças a Djindjic que a Sérvia retornou à comunidade de nações democráticas.

Reformas como alvo do crime

Também o ministro das Relações Exteriores, Joschka Fischer, conhecia pessoalmente o político que estudou na Alemanha e falava fluentemente o alemão. "Foi um crime que claramente teve por alvo não apenas a pessoa de Zoran Djindjic, como também a continuidade das reformas e da democratização, que ele defendeu como nenhum outro político", analisou Fischer. A Alemanha continuará apoiando o processo de democratização na Sérvia, frisou.

O secretário-geral do Partido Social Democrático, Olaf Scholz, lembrou o importante papel de Zoran Djindjic no afastamento do ex-presidente iugoslavo Slobodan Milosevic, na sua prisão e entrega em 28 de junho de 2001 ao Tribunal Penal Internacional das Nações Unidas, criado para julgar crimes de guerra na ex-Iugoslávia.

A máfia ou os nacionalistas?

Essa atuação resoluta contra Milosevic e seu clã valeu ao premiê sérvio a hostilidade das forças retrógradas e dos ultranacionalistas. Isso certamente se intensificou mais ainda a partir de sua posição em prol de uma divisão do Kosovo em uma parte sérvia e outra albanesa. A transformação do que restava da antiga Iugoslávia em uma liga de dois estados, Sérvia e Montenegro, respeitando os anseios de autonomia na antiga província sérvia de Montenegro, também pode ter contribuído para a assinatura de sua sentença de morte, se os autores do crime tiveram sobretudo motivos políticos.

As suspeitas também recaem sobre o crime organizado, a poderosa máfia que se formara em torno de Milosevic. Ela poderia estar por trás do assassinato, ao ver seus interesses ameaçados pelo combate sem trégua de Djindjic. O premier sérvio já escapara de um atentado em fevereiro deste ano. "Fui ingênuo. Achei que não seria mais possível atentados ao estilo de Slobodan Milosevic", disse o político assassinado ao escapar ileso da primeira tentativa de matá-lo.

Apoio de Bruxelas não satisfez expectativas

Em Bruxelas a consternação é igualmente grande, pois o Ocidente e especialmente a União Européia apostaram em Zoran Djindjic como o político que conseguiria construir uma Sérvia democrática. Sua morte repentina cria um vácuo no poder e o temor é que as forças que gostariam de voltar atrás a roda da história queiram se aproveitar agora para retomar o poder.

Nenhum outro país recebeu tanta ajuda da UE, afirmam círculos ligados ao encarregado de Política Externa e de Segurança Javier Solana, que conversou com o primeiro-ministro sérvio, na véspera de sua morte, sobre a situação no Kosovo. O comissário de Política Externa Chris Patten, que tinha encontro marcado com Djindjic nesta quinta-feira (13/03), mostrou-se profundamente consternado. Para o secretário-geral da OTAN, George Robertson, sua morte é uma tragédia.

Erhard Busek, coordenador do Pacto de Estabilidade para os Bálcãs, cuja criação se deve, em grande parte, à Alemanha, condenou o assassinato como um ato covarde e um grave retrocesso na democratização do país. Djindjic teve a coragem de romper com o passado da política sérvia, que isolou a Iugoslávia nos anos 90, afirmou Busek. Bruxelas concedeu uma ajuda total de dois bilhões de euros à região nos últimos dois anos.

No entanto, o premiê sérvio se sentiu abandonado pela UE. Em 2001, após a grande conferência do Pacto de Estabilidade dos Balcãs, com os países dispostos a doar recursos, Zoran Djindjic queixou-se de que o Ocidente não estaria cumprindo suas promessas e os bilhões esperados não teriam chegado a Belgrado. Na época ele já estava sob fortes pressões internas e pretendia usar os recursos da UE para pagar os salários do funcionalismo. A ajuda européia, contudo, estava atrelada a projetos, não podendo ser empregada para reforçar o orçamento.