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Conferência em Berlim visa impulsionar cessar-fogo na Líbia

18 de janeiro de 2020

Depois de negociações em Moscou terem fracassado, nova rodada na capital alemã tenta encerrar o conflito entre governo internacionalmente reconhecido de Trípoli e general Haftar, que representa o Parlamento no leste.

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Ministro alemão do Exterior, Heiko Maas, e general líbio Khalifa Haftar
Ministro alemão do Exterior, Heiko Maas, durante recente encontro com o general líbio Khalifa HaftarFoto: imago images/photothek/X. Heinl

Depois de Moscou, Berlim: as negociações internacionais para tentar pôr fim à guerra civil na Líbia entram numa nova rodada. No próximo domingo (19/01), a Alemanha, em comum acordo com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, sediará uma conferência internacional para, segundo o governo alemão, apoiar os esforços das Nações Unidas em prol de uma Líbia soberana e um processo de reconciliação nacional.

Na segunda semana de janeiro, o governo russo convidara os dois principais oponentes líbios, o chefe do governo internacionalmente reconhecido em Trípoli, Fayez al-Sarraj, e o general Khalifa Haftar, que é ligado ao Parlamento eleito em 2014 e sediado em Tobruque, para um encontro semelhante.

Haftar, que controla o leste da Líbia, abandonou Moscou no último domingo sem assinar qualquer acordo de intenção sobre um cessar-fogo, ao contrário de Al-Sarraj. Os dois se encontraram com negociadores russos e turcos, mas rejeitaram um encontro direto.

O general pode ter considerado que seu oponente não teria condições de manter a palavra, pois o Governo de Acordo Nacional (GNA) de Trípoli não tem controle sobre os combatentes a ele ligados, comenta o especialista em Líbia Andreas Dittmann, da Universidade de Giessen. "Em grande parte esses combatentes são formados por milícias totalmente díspares, entre as quais movimentos islamistas, como a Irmandade Muçulmana."

Se Haftar tivesse contido os combatentes liderados por ele, a Turquia teria uma oportunidade para fornecer mais armamento às milícias que apoiam o governo em Trípoli. "Haftar deve ter concluído que, com sua assinatura, apenas perderia tempo", diz Dittmann.

Desde algumas semanas, o governo da Turquia está apoiando militarmente o Governo de Acordo Nacional, liderado por al-Sarraj. Este é reconhecido pela maioria dos países e também pelas Nações Unidas, mas não foi eleito pelos líbios. "A comunidade internacional apostou em Al-Sarraj por acreditar que ele conseguiria se impor na luta interna de poder. Por esse raciocínio, eleições ordenadas poderiam ser realizadas mais tarde."

Hoje, porém, a situação é outra. Haftar e seus combatentes controlam grande parte da Líbia, com exceção da região Tripolitânia, no oeste, onde fica a capital do país e onde vive a maior parte a população.

Haftar está numa posição muito forte, avalia o especialista britânico Tim Eaton, da Chatham House. O governo em Trípoli recebe apoio militar apenas da Turquia: "Por isso é tão difícil, para o governo, recusar as exigências da Turquia. Já Haftar, que é apoiado por vários países – Rússia, Emirados Árabes Unidos, Egito e França –, tem um campo de manobra bem maior e melhores condições de recusar exigências vindas de países isolados."

Moscou sempre viu em Haftar uma garantia para os interesses russos na Líbia. Na época do ditador Muammar Kadafi, o Kremlin era um dos principais parceiros do país do norte da África, lembra Dittmann. "Tanto a União Soviética como, mais tarde, a Rússia, tinham relações estreitas com Trípoli." Aí, porém, as lideranças em Moscou perceberam que a Líbia pendia cada vez mais para a influência europeia. Isso ninguém em Moscou queria aceitar – e Haftar passou a receber apoio russo.

Mas, depois de Haftar ter se recusado a assinar um acordo de cessar-fogo, Moscou pode rever sua posição, avalia Eaton. Afinal, "Haftar colocou em xeque, em público, a capacidade de negociação de Putin".

Depois da Rússia, será a vez de o governo alemão tentar convencer os dois oponentes a assinarem um acordo de cessar-fogo. Os presidentes russo, Vladimir Putin, e turco, Recep Tayyip Erdogan, já confirmaram presença, assim como representantes dos outros quatro membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, Reino Unido, França e China) e da Alemanha, Itália, Egito, Emirados Árabes Unidos, União Europeia, Liga Árabe, União Africana, Argélia e República do Congo.

Haftar e Al-Sarraj igualmente foram convidados a participar da conferência e confirmaram suas presenças. Dittmann diz que as chances de a conferência ser bem-sucedida não são ruins. Segundo ele, a comunidade internacional aprendeu com os erros do passado, como não convidar todos os países envolvidos para as negociações. Em Berlim, ninguém ficou de fora.

"Mas isso não significa que todas as cartas estejam sobre a mesa. Não é só a Rússia que tem interesses na Líbia. Os países ocidentais também perseguem objetivos bem concretos", diz Dittmann. Esses, porém, são muito diferentes entre si: França e Itália concorrem pelas exportações de petróleo líbiaa. A França apoia Haftar, e a Itália apoia o governo em Trípoli.

"No fundo, o que acontece na Líbia é também uma guerra europeia por procuração", avalia Dittmann. Porém o principal objetivo dos europeus não é o petróleo, mas controlar a migração. Os europeus temem que a Líbia se transforme numa nova Síria. Desde a queda de Kadafi, o país está mergulhado no caos, e traficantes de pessoas usam a Líbia como corredor de passagem para migrantes que desejam chegar à Europa.

O cenário tornou-se ainda mais crítico desde o início da ofensiva militar das forças de Haftar, que avançou em abril de 2019 contra Trípoli, a sede do Governo de Acordo Nacional estabelecido em 2015 e reconhecido pela ONU.

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Kersten Knipp
Kersten Knipp Jornalista especializado em assuntos políticos, com foco em Oriente Médio.