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Velhos comunistas

Marcus Bösch (as)22 de janeiro de 2009

Nenhum outro partido na Alemanha desperta tanta polêmica como A Esquerda. E nenhum outro troca tanto de nome. Afinal, quem é e de onde vem A Esquerda?

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Oskar Lafontaine (e) e Lothar Bisky em junho de 2007, na fundação de A EsquerdaFoto: AP

Em dezembro de 1989, a fronteira entre os dois estados alemães já estava aberta havia um mês. O Muro de Berlim caíra, e com ele todo um sistema político-partidário. No início do mês, a Volkskammer – nome pelo qual era conhecido o Parlamento da Alemanha Oriental – riscara da Constituição do país comunista a prerrogativa de liderança do Partido Socialista Unitário (SED).

Reunidos num congresso partidário especial, os filiados discutiam o futuro do SED. Havia duas opções: a dissolução ou uma renovação radical a partir das bases. A primeira opção foi descartada, e o partido foi renomeado e ganhou um novo programa. O SED passou a se chamar SED-PDS, sendo que a segunda parte da sigla significava Partido do Socialismo Democrático. Mas poucos acreditavam no futuro da agremiação. Das cerca de 4 mil pessoas que trabalhavam para o partido na época comunista, restavam apenas 200.

Partido regional

Quase 20 anos depois, o partido, hoje conhecido como A Esquerda, atua em toda a Alemanha e é a quarta maior agremiação partidária do país, atrás apenas de SPD, CDU e Partido Liberal Democrático.

No Leste alemão, disputa a preferência dos eleitores com a CDU e está à frente do SPD em alguns parlamentos estaduais. "Praticamente do nada criou-se um partido que alcança até 10% dos votos nas eleições parlamentares nacionais. Isso é extraordinário", afirma o cientista político Tim Spier, da Universidade de Göttingen.

Oskar Lafontaine, Fraktionsvorsitzender von der Linkspartei, Die Linke
Oskar Lafontaine, ex-SPD, presidente de A EsquerdaFoto: AP

Muitos analistas políticos consideravam o SED-PDS (que a partir de 4 de fevereiro de 1990 passou a se chamar apenas PDS) um fenônemo passageiro. De fato, em dezembro de 1990, nas primeiras eleições parlamentares da Alemanha reunificada, o PDS alcançou 11,1% dos votos no Leste e apenas 2,4% em todo o país. Com a equiparação da situação econômica e das condições de vida entre os dois lados, o "partido regional" perderia importância, afirmavam muitos observadores.

Ascensão em alta velocidade

Mas a ascensão do PDS foi contínua e inabalável. Nas eleições parlamentares de 1990 no estado da Turíngia, o partido alcançou 9,7% dos votos. Quatro anos depois, chegou a 16,6%. Em 1999, passou para 21,3% e, em 2004, já eram 26,2% dos votos. Demais para um partido tido como regional ou de protesto.

Em 1994, na Saxônia-Anhalt, formou-se o primeiro governo regional vermelho-verde numa aliança do SPD com o Partido Verde informalmente apoiada pelo PDS. A primeira coalizão vermelho-vermelha, entre SPD e PDS, foi criada em 1998 em Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental. E desde 2001 a capital Berlim é governada por uma aliança vermelho-vermelha. Para Spier, uma "evolução em alta velocidade".

Mas a participação no governo de Berlim não trouxe apenas flores, como também espinhos. Nas eleições legislativas de 2006, o partido perdeu até 20% dos votos nos seus bastiões no leste da cidade, administrada antigamente pelo regime comunista. Culpa, segundo os analistas políticos, da falta de um perfil definido.

Gregor Gysi während seiner Rede im Bundestag in Berlin
Líder da bancada no Parlamento, Gregor Gysi: ex-PDSFoto: AP

A solução foi se aliar ao pequeno WASG (Alternativa Eleitoral por Trabalho e Justiça Social), uma união de políticos egressos do SPD e sindicalistas que havia criado um partido em 2005, em protesto contra as reformas políticas do então chanceler federal Gerhard Schröder, do SPD. Assim como o PDS, o WASG também defendia o socialismo democrático. Os dois partidos se uniram e passaram a se chamar A Esquerda.

Pequeno, mas consolidado

Em maio de 2007, em Bremen, A Esquerda conseguiu pela primeira vez ingressar num parlamento estadual do lado ocidental do país. Hoje o partido está representado também nos legislativos de Hessen e da Baixa Saxônia.

Para Spier, o partido desenvolveu sensibilidade para falar aos sentimentos de uma parte da população alemã. Aparentemente, A Esquerda supre uma necessidade de justiça social melhor do que o SPD, o tradicional defensor das questões sociais. "Com isso, A Esquerda garantiu sua existência por um certo tempo", avalia Spier.

Sobre nenhum outro partido na Alemanha discute-se de forma tão acalorada e emocional. A Esquerda fez ressurgir velhas tendências anticomunistas dos partidos tradicionais. Mas também estes tiveram de reconhecer: no momento, e aparentemente ainda por muito tempo, o tradicional sistema alemão de quatro partidos políticos ganhou um quinto elemento.

O que ainda não está claro são os objetivos de A Esquerda. Nem o seu programa: membros do partido dizem defender a economia de mercado ao mesmo tempo que pregam o fim do capitalismo.