1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Complexo do Alemão: "Massacre chamado de operação policial"

22 de julho de 2022

Defensoria Pública vê "indícios de situações de grave violação de direitos" na ação que deixou ao menos 18 mortos no Rio. Moradores e ativistas denunciam violência policial e política de segurança pública "desastrosa".

https://p.dw.com/p/4EVmk
Pessoas portam faixa com dizer "Fora das favelas, polícias assassinas!"
Moradores protestaram após ação policial no Complexo do AlemãoFoto: Silvia Izquierdo/AP

A operação policial desta quinta-feira (21/07) no Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro, que deixou pelo menos 18 mortos, segundo números da Polícia Militar (PM) fluminense, provocou mais uma vez críticas à violência policial.

Segundo a PM, ao menos 400 agentes atuaram na ação, que tinha como objetivo combater o roubo de carros, carga e bancos. Foi a quarta operação policial mais letal da história do Rio, depois das que ocorreram no Jacarezinho em maio de 2021, quando 28 pessoas morreram, e na Vila Cruzeiro, em maio deste ano, que deixou 25 mortos – ambas na gestão do atual governador Cláudio Castro (PL) –, e de uma operação em 2007, também no Complexo do Alemão, com 19 mortos.

Entre os mortos, está um policial militar de 38 anos, atingido no pescoço, e uma mulher de 50 anos baleada no peito dentro do carro onde estava com o namorado. O homem afirmou à imprensa que um policial atirou contra seu carro quando ele parou no sinal de trânsito. A PM disse que os outros 16 mortos seriam suspeitos de crimes.

A operação foi deflagrada no início da manhã e durou cerca de 12 horas. Moradores foram acordados pelo barulho de rajadas de tiros e de rasantes de helicópteros da polícia.

"Massacre" 

A Defensoria Pública do Rio afirmou, em nota divulgada na noite desta quinta-feira, haver "indícios de situações de grave violação de direitos" durante a operação no Complexo do Alemão, "com possibilidade desta ser uma das operações com maior índice de mortos no Rio de Janeiro".

Moradores da favela acusaram policiais de atacarem civis e invadirem residências, fazendo batidas policiais e levando objetos pessoais em meio a intenso tiroteio.

"É um massacre lá dentro, que a polícia está chamando de operação", disse à agência de notícias AP uma mulher em condição de anonimato, por temer represálias das autoridades. "Eles não estão deixando a gente ajudar (as vítimas)", acrescentou, afirmando ter visto um homem sendo preso por tentar socorrer feridos.

Após a operação, moradores foram vistos agrupando pessoas feridas na parte de trás de veículos para levarem ao hospital, enquanto a polícia assistia.

Gilberto Santiago Lopes, da Comissão de Direitos Humanos da Associação Nacional da Advocacia Crimina (Anacrim), disse que a polícia se recusava a ajudar. "Tivemos que carregá-los em um carrinho de bebidas e depois pedir a um morador local para levá-los em seu carro ao hospital", ele disse. "[A polícia] não visa prendê-los, eles visam matá-los, então se eles estão feridos, pensam que não merecem ajuda."

Os moradores ficaram furiosos e gritaram com a polícia. "Estamos com medo de viver aqui", gritou um morador após a operação. "Onde estamos? Afeganistão? Em uma guerra? No Iraque? Se eles querem uma guerra, mandem-nos para o Iraque."

"Liderança fracassada"

A Anistia Internacional afirmou no Twitter que "o Ministério Público tem o dever constitucional de fazer o controle externo da polícia" e diz ser "inaceitável que ações mal planejadas q violam os direitos humanos de tantas pessoas continuem ocorrendo no Rio de Janeiro sem que nada seja feito pelos orgãos de competência".

"QUEM VAI PARAR o governador @ClaudioCastroRJ e sua política de segurança pública desastrosa e violadora de direitos no Rio de Janeiro !?? Basta de tanta brutalidade! A FAVELA QUER VIVER!", afirmou a ONG.

Robert Muggah, especialista em segurança e cofundador e diretor de pesquisa do Instituto Igarapé, disse que a operação de quinta-feira é "um sintoma de liderança fracassada e uma cultura institucional que tolera força excessiva.''

"As mortes resultantes de operações policiais em grande escala são um lembrete sombrio de que o policiamento militarizado não é apenas ineficaz, é contraproducente'', disse Muggah em mensagem de texto citada pela AP, acrescentando essas invasões geram "violência extrema afetando predominantemente pessoas de baixa renda e populações negras ao mesmo tempo em que corrói a confiança entre os moradores e aplicação da lei."

Em um vídeo compartilhado pelo portal Voz das Comunidades, moradores podem ser vistos clamando por paz e agitando panos brancos de suas janelas e telhados.

NÃO DÁ MAIS! A chacina do Complexo do Alemão já é a 5ª mais letal da história do Rio de Janeiro, com 18 mortos até o momento, entre civis e um policial. É a máquina de moer gente que @claudiocastroRJ e o bolsonarismo vangloriam. Não há segurança efetiva com esse modelo genocida!", escreveu no Twitter a deputada federal Talíria Perone (PSOL).

md/lf (ots)