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Com recorde de casos, Alemanha planeja relaxar restrições

16 de março de 2022

País registrou nesta quarta-feira maior incidência de covid-19 desde o começo da pandemia. Parlamento debate novas regras e planeja abolir o uso de máscaras na maior parte dos lugares.

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Pessoas caminham em uma rua. O fundo está desfocado. Em primeiro plano, um cartaz orientando o uso de máscara
Obrigatoriedade de máscara em vários locais pode deixar de valer no domingoFoto: Andreas Rentz/Getty Images

A Alemanha voltou a registrar nesta quarta-feira (16/03) um novo recorde na incidência de casos de coronavírus e ultrapassou pela primeira vez a marca de 1.600 novas infeções a cada 100 mil habitantes em sete dias, segundo dados do Instituto Robert Koch (RKI), a agência governamental para o controle e prevenção de doenças.

Autoridades de saúde alemãs relataram nesta quarta-feira 262.593 novos casos de covid-19 e 269 mortes em 24 horas. Para comparação, há uma semana, eram 215.854 novas infeções e 314 óbitos.

Apesar da incidência recorde, o Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) começa a debater nesta quarta-feira um projeto de lei que modifica as regras em vigor para conter a pandemia e relaxa diversas medidas. O regulamento atual, que inclui a obrigatoriedade de máscara e a apresentação de passaporte de vacinação em vários lugares, expira no próximo sábado. Portanto, um novo pacote de regras deve ser aprovado até sexta-feira.

O projeto de lei a ser analisado propõe que, a partir de domingo, sejam retiradas a maioria das restrições para conter a covid-19. A proposta é manter apenas medidas básicas de proteção, como o uso de máscara em hospitais, centros de saúde, transporte público, escolas e lares de idosos, por exemplo. Bares, restaurantes e comércio não exigiriam mais a proteção.

Alguns médicos questionaram por que as máscaras ainda seriam necessárias em aviões e trens, por exemplo, mas não em restaurantes ou lojas.

Já o presidente da Associação de Médicos de Seguros de Saúde Estatutários (KBV, na sigla em alemão), Andreas Gassen, está mais otimista. Ele disse que atualmente não há risco de o sistema de saúde na Alemanha ficar sobrecarregado por pacientes com coronavírus.

"Temos que finalmente aprender, como sociedade, a viver com o coronavírus sem que os políticos decidam a cada dois meses restringir severamente a vida cotidiana", disse em entrevista ao jornal Rheinische Post.

Decisão dos estados

Em caso de surtos localizados, o projeto prevê que as restrições mais duras possam ser aplicadas pelos estados, como uso generalizado de máscaras, regras de distanciamento, testagem e apresentação de certificado de vacinação contra a covid-19.

Devido à alta incidência de novos casos, muitos estados querem manter as atuais medidas de proteção em vigor pelo menos até 2 de abril, como um período de transição, no qual as novas regras nacionais ainda não precisariam ser aplicadas. Ao menos seis governadores, entre eles o do estado mais populoso da Alemanha, a Renânia do Norte-Vestfália, já se manifestaram a favor desse período de transição.

O governador da Baixa Saxônia, Stephan Weil, disse em entrevista à emissora pública NDR que uma maior proteção vacinal era necessária para combater no longo prazo o alto número de infecções.

Ele argumentou que, se surgir uma variante nova e mais perigosa do que a ômicron, medidas mais rigorosas provavelmente entrarão em vigor novamente no outono. "Não devemos entrar em um terceiro ano de pandemia sem ter aprendido com isso", disse. 

Muitos governadores também reclamam, em particular, que há atualmente uma discussão menos aberta entre os estados e o governo federal do que ocorria no governo da ex-chanceler federal Angela Merkel.

Posto de vacinação montado dentro de um bar. Uma mulher conversar com um paciente.
Vacinação na Alemanha está estagnada em cerca de 75%Foto: Markus Schreiber/AP/picture alliance

Taxa de vacinação insuficiente 

Atualmente, 75,8% da população da Alemanha (o equivalente a cerca de 63 milhões de pessoas) já receberam duas doses da vacina contra a covid-19, e 58%, a dose de reforço. O índice é considerado baixo para superar de vez a pandemia, mas muitos defendem que seria suficiente para permitir relaxamentos.

No Brasil, algumas cidades, como Rio de Janeiro e São Paulo, estão relaxando as regras e abolindo o uso de máscaras, mesmo em lugares fechados. No entanto, ao contrário da Alemanha, o país vive uma baixa nos casos de covid-19 e está no verão, quando a incidência de doenças respiratórias costuma ser mas baixa.

No Brasil, aproximadamente 73% da população recebeu duas doses da vacina e cerca de 33%, a dose de reforço, segundo dados do site Our World in Data, da Universidade de Oxford.

Ministro reticente

O ministro da Saúde alemão, Karl Lauterbach, que também é médico, é reticente quanto ao afrouxamento das medidas. No entanto, a coalizão governamental formada por social-democratas, verdes e liberais se mostra favorável – sobretudo o Partido Liberal Democrático (FDP).

Como argumentos, os defensores do afrouxamento citam a baixa taxa de casos graves da doença com a variante ômicron e a taxa de vacinação. Outro fator favorável seria a chegada da primavera na Europa, quando as pessoas passam a se reunir mais ao ar livre e apresentar menos problemas respiratórios. 

Mesmo assim, Lauterbach mantém-se cético. "Não podemos ficar satisfeitos com isso. É uma situação que eu gostaria de descrever como crítica. Temos um aumento acentuado no número de casos. Não podemos ficar satisfeitos com uma situação em que entre 200 e 250 pessoas morrem todos os dias", disse na sexta-feira passada em Berlim.

Vacinação obrigatória

Além do relaxamento das regras, a Alemanha discute a possibilidade de vacinação obrigatória. A partir desta semana, pessoas que trabalham em determinadas profissões da área da saúde serão obrigadas a comprovar que estão vacinadas ou que se recuperaram recentemente da doença. A medida vale, por exemplo, para funcionários de lares de idosos.

Segue em debate se a obrigatoriedade deveria ser estendida a outras áreas ou até mesmo a toda a população. 

Em fevereiro, a vizinha Áustria tornou obrigatória a imunização contra a covid-19. No entanto, na semana passada, a medida caiu, antes mesmo de iniciada a fiscalização. 

le/bl (Lusa, dpa, ots)