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Morre aos 84 anos o ex-general Colin Powell

18 de outubro de 2021

Primeiro negro a ocupar topo da diplomacia e da máquina militar americana, ex-general teve papel de destaque na Guerra do Golfo e arranhou sua credibilidade ao apoiar a invasão do Iraque uma década depois.

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Colin Powell
Um "general político": Colin Powelll teve papel de destaque na formulação da doutrina militar pós-Guerra Fria dos EUAFoto: Thos Robinson/Getty Images

Colin Powell, ex-secretário de Estado dos EUA e ex-general cuja carreira militar se estendeu por mais de três décadas, morreu nesta segunda-feira (18/10) aos 84 anos por complicações associadas à covid-19, segundo um comunicado divulgado por sua família.

"Queremos agradecer a todos no Centro Médico Walter Reed pelo tratamento. Perdemos um grande marido, pai, avô e um grande americano", diz o texto.

Mais tarde, em um comunicado divulgado pela Casa Branca, o presidente Joe Biden afirmou que Powell era um “patriota de honra e dignidade incomparáveis”. "Ele será lembrado como um dos nossos grandes americanos", afirmou o presidente democrata. "Colin personificava os mais elevados ideais de guerreiro e diplomata."

Primeiro negro a ocupar tanto o posto de secretário de Estado quanto a chefia do do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas dos EUA, Powell teve papel de destaque em episódios decisivos da recente história militar dos EUA, como a invasão do Panamá (1989), Guerra do Golfo (1990-91) e a "Guerra ao Terror" ( 2001-presente), sob administrações republicanas. Antes disso ele já havia ocupado o cargo de conselheiro de Segurança Nacional no governo de Ronald Reagan.

Filho de imigrantes jamaicanos e criado no bairro nova-iorquino do Harlem, Powell nasceu em 1937 e entrou para o Exército americano em 1958. Ele serviu na Guerra do Vietnã e chegou a ser condecorado por salvar três militares após a queda de um helicóptero em que o grupo viajava.

Depois de servir no conflito, ele recebeu em 1972 uma bolsa da Casa Branca no Office of Management and Budget (OMB) durante o governo de Richard Nixon, entrando em contato pela primeira vez com a política. Nos anos seguintes, ocupou diferentes postos militares na Coreia do Sul e no Pentágono.

"General político"

O empurrão para sua carreira como "general político" ocorreu durante a administração Reagan, quando ele se tornou assessor militar do secretário de Defesa Caspar Weinberger, auxiliando no planejamento da invasão da ilha caribenha de Granada (1983) e dos bombardeios de 1986 na Líbia. Ao final do governo Reagan, ele viria ocupar o cargo de conselheiro de Segurança Nacional.

Aos 52 anos, ele foi finalmente alçado ao posto que o projetaria internacionalmente: a chefia do do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas dos EUA, sob o governo de George H. Bush. Foi nessa posição que Powell chefiou as tropas americanas que atuaram na Operação Tempestade no Deserto, a intervenção americana na Guerra do Golfo, quando os militares do país expulsaram as tropas de Saddam Hussein que ocupavam o Kuwait.

Sua atuação nesse conflito lhe valeu o apelido de "o guerreiro relutante", já que Powell exibia uma postura comedida que só aceitava intervenções militares quando outros recursos, como a diplomacia, estivessem esgotados.

Ele também defendia que os EUA só entrassem em conflitos com o uso máximo de força, incluindo um número gigantesco de soldados, como forma de acelerar fim do conflito e reduzir o número de baixas militares. Tal abordagem ficou conhecida como "doutrina Powell", e analistas apontam que o comedimento de Powell parecia ter sido influenciado por suas experiências negativas na Guerra do Vietnã, na qual os EUA travaram um impopular e interminável conflito no sudoeste asiático.

Ele continuou no posto no início do governo Clinton, mas entrou em conflito com figuras do governo que defendiam o envolvimento americano na Guerra da Bósnia e operações militares na Somália que não seguiam a "doutrina Powell". No final de 1993, deixou o posto.

Powell em 1989, nos tempos da chefia do Estado-Maior Conjunto. Atrás dele está Dick Cheney, futuro falcão da Guerra do Iraque
Powell em 1989, nos tempos da chefia do Estado-Maior Conjunto. Atrás dele está Dick Cheney, futuro falcão da Guerra do IraqueFoto: AFP/B. Pearson

Pelos próximos anos, chegou a ser cogitado como um potencial candidato à Presidência dos EUA, mas nunca tomou o passo decisivo de disputar alguma primária pela indicação da candidatura no Partido Republicano, legenda ao qual se filiou em 1995.

Secretário de Estado 

Em vez da Presidência, voltou ao governo em 2000, sob o governo George W. Bush, no posto de secretário de Estado, sendo o primeiro negro a ocupar o cargo máximo da diplomacia americana.

No posto, Powell foi considerado inicialmente uma força moderada num governo dominado por "falcões". Ele inicialmente se posicionou contra a invasão do Iraque e a deposição do regime de Saddam Hussein - que vinha sendo discutida mesmo antes do 11 de Setembro -, preferindo uma política de contenção.

No entanto, durante o turbulento período pós-atentados de 11 de Setembro, ele gradualmente cedeu e veio a emprestar a sua credibilidade para "vender" a guerra ao público e angariar apoio da comunidade internacional.

Em fevereiro de 2003, Powell compareceu ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para mostrar as "provas" que o Iraque estava construindo armas de destruição em massa. No entanto, o Iraque não possuía tais armas, e o episódio na ONU arranhou a imagem de Powell e voltaria sempre a assombrá-lo.

Powell admitiu mais tarde que a apresentação nas Nações Unidas estava repleta de imprecisões e informações distorcidas fornecidas pelo governo Bush.

Mesmo tendo desempenhado um papel público na defesa da guerra, Powell era considerado moderado demais num grupo dominado por figuras mais "pró-guerra", como o vice-presidente Dick Cheney e o secretário de Defesa Donald Rumsfeld - que enterrou a doutrina Powell ao planejar uma invasão com uma força militar mínima, a qual se revelaria um desastre nos meses seguintes, já que não havia soldados suficientes para ocupar todo o território iraquiano.

Crescentemente isolado, deixou o governo Bush no início de 2005, poucos dias depois de o presidente assumir seu segundo mandato.

Em um comunicado divulgado nesta segunda-feira, Bush chamou Powell de "um grande servidor público, ele era o favorito dos presidentes que ganhou a Medalha Presidencial da Liberdade - duas vezes. Ele era muito respeitado dentro dos EUA e no exterior".

Colin Powell
Powell em 2003, no ponto mais baixo da sua carreira, quando foi à ONU "vender" a invasão do Iraque para a comunidade internacionalFoto: GP/MPI/Capital Pictures/picture alliance

Apoio a Obama

Após deixar o governo Bush, Powell chegou a ser cogitado como um possível candidato a vice do republicano John McCain nas eleições de 2008. Ele posteriormente criticou McCain publicamente pela escolha da ultraconservadora Sarah Palin como vice e fez diversos elogios ao candidato democrata Barack Obama.

No mesmo ano, ele afirmou que chorou de emoção quando o democrata Obama foi eleito, tornando-se o primeiro negro a assumir a Presidência americana. Em 2012, declarou voto à reeleição de Obama.

Powell viria a se distanciar do Partido Republicano nos anos seguintes, especialmente durante a ascensão de Donald Trump, afirmando que não reconhecia mais a legenda e que não se via mais como parte dela. Ele chamou Trump de um "perigo para a democracia" em diversas oportunidades e em 2020 chegou a participar da convenção do Partido Democrata de 2020, que confirmou a candidatura de Joe Biden à Presidência.