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Poder e Política

Hans Christoph von Bock (sm)6 de fevereiro de 2008

Todos os filmes são políticos, segundo o cineasta grego Costa-Gavras, presidente do júri da Berlinale deste ano. Em entrevista à DW-TV, ele fala da relação entre política e poder, uma questão que marca seus filmes.

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Cineasta grego Constantin Gavras
Constantin Gavras, mais conhecido como Costa-Gavras, foi nomeado presidente do júri do Festival de Cinema de Berlim, a ser realizado entre 7 e 17 de fevereiro. Nascido na Grécia em 1933, ele se tornou conhecido em 1969, com o filme Z. DW-TV: Costa-Gavras, evidentemente você verá muitos filmes durante o festival... Daria para dizer, no mais, em que consiste a tarefa de presidente do júri? Costa-Gavras: Assisto aos filmes, para depois discutir com o júri. E assim tentaremos premiar o melhor filme. Só isso. Vou tentar participar como um espectador, não como um técnico ou alguém que conhece cinema – algo não muito fácil, com certeza. Vou tentar me comportar como um espectador qualquer, livre de idéias estéticas ou predisposições ideológicas. O prêmio tem que ser dado ao melhor filme. O Festival de Cinema de Berlim se considera mais um festival político, à medida que dá bastante atenção ao cinema político. Isso corresponde à sua noção de como fazer cinema?
Amen Frankreich 2002 Regie Costa Gavras Darsteller Ulrich Tukur
Cena de 'Amém' (2002), um dos filmes de Costa-Gavras sobre o poderFoto: presse
Acho que todos os festivais são políticos de alguma forma. O Festival de Berlim é um pouco mais, porque pretende definir uma direção, algo de que o cinema realmente precisa, acho eu. A idéia geral é que os festivais deveriam promover filmes com um conteúdo social, não apenas filmes de entretenimento. Se recapitularmos a história do cinema, o filmes mais importantes sempre tiveram um teor mais sócio-político. Seus filmes já foram apreciados como uma liberação da ditadura de Hollywood. Mas onde se encontra o cinema político de hoje? Depende do dinheiro. Neste momento, depende dos Estados Unidos. Depende das estrelas. Nos últimos três ou quatro anos, vimos os mais diferentes filmes sobre problemas no Iraque e sobre questões do petróleo, porque as grandes estrelas resolveram tratar disso. As grandes empresas não pretendiam, mas se sentiram obrigadas, porque queriam agradar às estrelas – agradá-las significa poder continuar trabalhando com elas. Essa é uma grande novidade no cinema. Antes, eram os diretores ou até mesmo a situação política mundial que costumavam incitar as companhias e os produtores a fazer filmes com forte teor político. Então daria para dizer que passou a existir um cinema mais político em Hollywood... Sim, no momento há mais cinema político em Hollywood e também na Europa, acho, pois surgem cada vez mais problemas grandes. Penso que existe uma espécie de movimento. Esses filmes têm uma espécie de efeito social sobre o espectador jovem e sobre o público em geral. Isso também é político. O que o cinema pode atingir num mundo onde testemunhamos um aumento de violência e uma crescente falta de consciência política? Acho que o cinema tem que trazer emoções ao espectador e abordar diretamente os problemas, deixando a cargo do público decidir o que fazer. O público tem que ser livre e independente. Não acredito que o cinema deva impor idéias rejeitadas pelo público. Penso que o cinema é entretenimento, mas necessariamente tem que ter um certo conteúdo também. Será que o cinema político exclui entretenimento e humor ou ambos podem trabalhar juntos? Com toda certeza. Veja Molière, por exemplo. Ambos trabalham juntos. Em Shakespeare, você encontra a mesma coisa, ou em Brecht, por exemplo. Todo teatro de relevância realizou isso. O mesmo se poderia dizer do cinema. Todos os grandes diretores – Fritz Lang, Renoir, John Ford, Kazan – realizam essas duas coisas em seus filmes. E funciona. Em seus filmes, você investigou os mecanismos de poder durante as ditaduras e outras épocas de repressão, como o Holocausto, por exemplo. Quais questões mais despertam seu interesse hoje?
Rote Berlinale-Fahne Filmfestspiele
Bandeira da Berlinale 2008Foto: AP
Em nossa sociedade, a principal questão é o poder – quem tem poder de fazer coisas boas e más. Acho que todos nós temos poder. Temos poder sobre pessoas abaixo de nós e outras pessoas têm poder sobre nós, porque são mais fortes. A pirâmide de poder – isso é que é a política. Veja uma empresa como a Nokia, por exemplo, que resolve sair de um país e deixar milhares de pessoas na rua sem emprego – isso é poder. A principal questão na nossa sociedade é o poder que temos e como o usamos. Então, poder é a sua questão principal. É a única questão, na minha opinião. Voltando ao Festival de Cinema de Berlim, sua função como presidente do júri começa no dia 7 de fevereiro. O que você mais espera que aconteça? Sabe, quando vou ao cinema, sento e digo: agora me faça feliz, me deixe furioso, me faça rir, me faça chorar. Esses sentimentos são os melhores momentos num filme. Depois do festival, você vai começar a rodar seu próximo filme. Você poderia nos dizer do que trata Eden is West? É muito difícil de explicar um filme em poucos segundos. É um filme sobre hoje, um road movie. É sobre um jovem que gosta de ir a festas porque considera o mundo ocidental um paraíso e, no final, acaba descobrindo que também não é aquele paraíso que ele imaginava. Seu aniversário, dia 13 de fevereiro, cai durante o festival. Você pretende comemorar? Qual seu desejo de aniversário? Sabe, acho que – a partir de uma certa idade – não é necessário comemorar a idade ou os aniversários. Mas acontece; o que fazer? Então você não tem planos nem desejos? Sim, só um: não comemorar. OK, mas talvez você assista a um bom filme naquele dia. Essa seria uma boa comemoração – um bom presente.