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Cinema

30 de outubro de 2007

Alemães dirigem em Hollywood. Enquanto as más línguas dizem que eles apenas alimentam a indústria, os próprios afirmam europeizar produções norte-americanas. Cinema de qualidade, porém, continua sendo feito em casa.

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Diretor Mennan Yapo e atriz Sandra Bullock, em HollywoodFoto: picture-alliance/ dpa

Fato consumado na Alemanha é a tendência ao êxodo de determinados diretores, vistos anteriormente como "promissores" para a cinematografia nacional. Recentemente chegaram às telas os longas de Marco Kreuzpainter, Mennan Yapo e Oliver Hirschbiegel. Todos made in Hollywood, por cineastas alemães.

A discussão gira em torno de o quanto os diretores conseguem – ou não – manter suas "assinaturas" nos filmes que dirigem em Beverly Hills. Hirschbiegel, que se tornou conhecido através de A Queda, filme que retrata os últimos dias de Hitler, rodou The Invasion, Mennan Yapo dirigiu Premonition e Marco Kreuzpainter, Trade.

Mexicanos ontem, alemães hoje

von Donnersmarck erhält Oscar
Florian Henckel von Donnersmarck: Oscar chamou a atenção para a cinematografia alemãFoto: AP

Enquanto alguns dizem que o Oscar de melhor filme estrangeiro para a A Vida dos Outros, de Florian Henckel von Donnersmarck, no ano passado, foi responsável por chamar a atenção dos produtores de Hollywood para o cinema alemão em geral, há quem ache que tudo não passa de uma artimanha da indústria: procurar o novo, com o mero objetivo de vender mais.

Mesmo acreditando que a "verve européia" dos filmes dirigidos por alemães não deva ser subestimada, o alemão de origem turca Yapo afirma que os convites para trabalhar em Hollywood são basicamente uma ferramenta da indústria cinematográfica, "que está atenta para o fato de que não só agora, mas também mais tarde, vai precisar de sangue novo. Há alguns anos, vieram os mexicanos e trouxeram um novo sabor. Agora é a vez dos alemães. Eles oferecem uma perspectiva diferente acerca dos Estados Unidos", acredita o diretor.

No entanto, a crítica alemã vê nos filmes feitos pelos cineastas do país fora de casa uma contribuição apenas pálida à estética de Hollywood. Apoiados por megaprodutores como Roland Emmerich e Wolfgang Petersen, os diretores dirigem de olho no mercado norte-americano e não costumam mudar em nada as regras locais.

Pouca autonomia

Oliver Hirschbiegel, der Regisseur des Films Der Untergang
Oliver Hirschbiegel, diretor de 'A Queda'Foto: dpa

O fato de os diretores alemães estarem chamando a atenção em Hollywood não é de ordem estética, mas meramente pragmática, acredita Andrea Dittgen, da Associação dos Críticos de Cinema Alemães. "Eles são contratados por custarem menos que seus colegas norte-americanos. Com exceção de Hirschbiegel, são também bastante jovens e podem ser 'sugados'", observa Dittgen. Além disso, lembra Yapo, "os alemães são pontuais, geralmente trabalham bem e são aplicados".

A grande dificuldade, porém, é manter a autonomia. "Se eles, por um lado, te fazem se sentir como um rei, por outro, você está gastando o dinheiro deles. Então eles te dizem: você é o rei, pode fazer o que quiser, contanto que nós estejamos felizes com o que você fizer", ironiza o produtor alemão Volker Engel.

O que não é necessariamente uma dificuldade para diretores que já têm uma tendência a fazer filmes de acordo com as normas de Hollywood. "A Alemanha tem uma postura muito amistosa frente aos EUA. Muitos desses diretores jovens cresceram vendo filmes norte-americanos e foram muito influenciados por eles", comenta Dittgen.

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Tradição desde o expressionismo

Friedrich Wilhelm Murnau um 1925 mit Filmstreifen Ausstellung Filmmuseum Berlin
Friedrich Wilhelm Murnau: um dos emigrantes do cinema alemãoFoto: Filmmuseum Berlin

Além disso, há, desde os primórdios do cinema, uma tradição de migração de diretores alemães para os EUA, que inclui nomes como F.W. Murnau, Billy Wilder, Ernst Lubitsch e Douglas Sirk. "As tendências estilísticas do cinema americano noir, que deu origem a alguns dos maiores filmes de todos os tempos em Hollywood, foram indubitavelmente influenciadas pelos filmes expressionistas alemães dos anos 1920", lembra o produtor Michael Ohoven.

A tradição teria sido quebrada no pós-guerra e o limbo cinematográfico se perpetuado até os anos 1970, um período durante o qual não havia diretores alemães significativos em Hollywood, mas nem mesmo na própria Alemanha, analisa o diretor Yapo: "Ninguém que emigrou para os EUA durante o período nazista voltou. Os anos entre 1933 e 1945 esvaziaram a Alemanha artisticamente, de forma que o país demorou um tempo para engrenar de novo".

"Berliner Schule"

Benjamin Heisenberg
Benjamin Heisenberg, um dos expoentes da nova geração de cineastasFoto: Kathrin Eissing

Dos anos 1970-1980 – que trouxe nomes como Rainer Werner Fassbinder, Wim Wenders, Werner Herzog e Volker Schlöndorff – até meados da década de 1990, houve da mesma forma um período de marasmo na cinematografia alemã, quebrado com uma safra de diretores que, sem deixar o país, vêm sendo, nos últimos anos, responsáveis por uma série de filmes reconhecidos internacionalmente.

Entre eles estão Thomas Arslan, Angela Schanelec, Christian Petzold, Benjamin Heisenberg e Valeska Grisebach, representantes da chamada Berliner Schule (Escola de Berlim), uma referência a ex-alunos da Academia Alemã de Cinema e Televisão – DFFB – sediada na capital alemã.

Akin: sutileza e apuro

Fatih Akin erhält Preis in Cannes 2007
Fatih Akin ao ser premiado no último Festival de CannesFoto: AP

Todos eles são autores de filmes que fogem do mainstream, mas primam pelo apuro estético. À margem do sucesso comercial rápido, mas extremamente bem cuidados e distintos de produções mambembes. Vários desses filmes giram em torno de questões que tratam da identidade e questionam conceitos como origem e terra natal (Heimat).

Uma temática, diga-se de passagem, também discutida por um dos principais cineastas atuais no país: Fatih Akin. Auf der anderen Seite (Do outro lado), o último longa do diretor, retrata com tamanha sutileza e detalhismo as fissuras da sociedade alemã, com seus migrantes divididos entre dois universos culturais distintos, que o trabalho do diretor vem sendo comparado ao de Fassbinder no passado.

Não por acaso uma das protagonistas de seu último filme é interpretada pela atriz Hanna Schygulla, a atriz fassbinderiana por excelência, hoje com 63 anos de idade. Tanto sua personagem no filme quanto a do excelente ator Baki Davrak são verdadeiros tratados sobre diferentes gerações de alemães. Uma tarefa que, sem dúvida, lembra Fassbinder. E é exercida com maestria por Akin. (sv/jp)