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Crise financeira mundial

5 de janeiro de 2011

China, que já há muito tempo é a maior credora dos EUA, quer agora financiar as dívidas europeias. Vice-primeiro-ministro Li Keqiang anuncia a compra de mais títulos do governo espanhol para ajudar a estabilizar o euro.

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China sinaliza com ajuda para estabilizar o euroFoto: Bilderbox.com/DW-Montage

No início de sua viagem pela Europa, o vice-primeiro-ministro chinês Li Keqiang anunciou nesta quarta-feira (5/1), em Madri, a compra de mais títulos do governo espanhol. Ambos os países assinaram um contrato de cooperação econômica no valor de 5,6 bilhões de euros. "Somos investidores de confiança e de longo prazo, e por isso nos colocamos no mercado financeiro da Espanha", disse Li.

Para o professor de Relações Internacionais Shi Yinhong, da Universidade Popular em Pequim, as motivações do governo chinês são políticas. "No momento, do ponto de vista econômico, comprar papéis do governo espanhol não faz sentido. A situação está feia no mercado financeiro da Espanha. O governo chinês está menos à procura de lucros do que de proveitos políticos – não apenas em relação à Espanha, mas à toda União Européia", disse Shi Yinhong em Pequim.

Desde a crise financeira mundial que o governo chinês vem tentando ampliar o poder do seu capital. Dona da maior reserva de divisas do mundo (2,6 trilhões de dólares), a China é a maior credora dos Estados Unidos, com mais de 907 bilhões de títulos do governo norte-americano, e atualmente já detém cerca de 10% dos títulos da dívida espanhola, transformando-se no maior credor estrangeiro do país.

Spanien China Li Keqiang bei Jose Luis Rodriguez Zapatero in Madrid
Primeiro-ministro espanhol, Jose Luis Rodriguez Zapatero e vice-primeiro ministro chinês, Li Keqiang, assinam acordo de 5,6 bilhões de eurosFoto: AP

Para os países endividados da Europa, principalmente Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha, a ajuda chinesa é bem-vinda. Ela deve acalmar os mercados e inibir os especuladores. Mas a China não oferece ajuda simplesmente por bondade. Suas exportações precisam naturalmente ser favorecidas.

"A China apoia a União Europeia através de pacotes para estabilidade financeira para ajudar os países em dificuldade a superar sua crise de crédito", escreveu o vice-primeiro-ministro Li em um artigo para o jornal alemão Süddeutsche Zeitung. "Pequim quer contruir, com todos os povos, para coonstruir um mundo harmônico, de paz duradoura e prosperidade comum" disse Li, que é cotado para comandar a República Popular a partir de 2012.

Parceria econômica com a Alemanha

Nesta quinta-feira (06/01), Li vai a Berlim para uma visita de três dias. Estão agendadas reuniões com o presidente alemão Christian Wulff, com a chanceler federal Angela Merkel (CDU), com o ministro das Relações Exteriores Guido Westerwelle e com o ministro da Economia Rainer Brüderle.

O governo chinês pretende atrair mais investimentos de empresas alemãs para seu país. As economias da China e da Alemanha, segundo ele, são "em grande medida complementares", escreveu o vice-primeiro-ministro, que pode vir a assumir o governo em 2012.

Li disse também que as condições para investimentos e para o estabelecimento de empresas chinesas na Alemanha precisam ser melhoradas. A China quer criar incentivos especiais para empresas de alta tecnologia em agricultura, meio ambiente, energia e gestão de materiais.

Aufwertung Währung China
China deve desvalorizar o yuan em 5% em relação ao dólarFoto: AP

Em relação à disputa internacional por causa do desequilíbrio cambial, Pequim dá sinais encorajadores. A China quer valorizar sua moeda em relação ao dólar em 5% este ano. Os Estados Unidos acusaram a China várias vezes de manter o yuan desvalorizado artificialmente frente ao dólar para favorecer suas próprias exportações de forma desleal.

Para Patrick Artus, economista-chefe do banco francês Natixis, as razões com a compra de títulos dos governos europeus por parte do governo chinês são "muito mais geopolíticas e estratégicas do que financeiras". Segundo ele, a China, assim, poderá ganhar em importância global. E também apostar em uma posição mais confortável no contexto de uma série de divergências políticas e econômicas.

Por outro lado, a compra de títulos de países altamente endividados também pode representar um certo risco para a gigante asiática, diz Ken Peng, analista do Citigroup em Pequim. Ainda assim, os lucros políticos podem ser significativamente maiores - principalmente se o país conseguir se estabelecer como fonte de crédito para a Europa e surgir como o "cavaleiro branco", que resgata o continente em momentos difíceis.

FF/dpa/afp

Revisão: Soraia Vilela