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China parabeniza Biden pela vitória nos EUA

13 de novembro de 2020

Com a divulgação de mensagem de Pequim, apenas um punhado de países, como Brasil, Rússia e Coreia do Norte, ainda evita reconhecer democrata como presidente eleito americano.

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China | Präsident Xi Jinping und Joe Biden
Biden e o líder chinês Xi Jinping em 2013, quando democrata ocupava a vice-presidência durante o governo ObamaFoto: Lintao Zhang/AP Images/picture alliance

Após seis dias evitando se posicionar publicamente sobre o resultado das eleições americanas, o governo chinês parabenizou nesta sexta-feira (13/11) o democrata Joe Biden pela vitória no pleito.

"Estamos seguindo a resposta da comunidade nacional e internacional a esta eleição presidencial dos EUA. Respeitamos a escolha do povo norte-americano e parabenizamos o sr. Biden e a sra. Harris", afirmou Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, em entrevista coletiva, citando a vice de Biden, Kamala Harris.

Na última segunda-feira, Wenbin havia se limitado a afirmar: "Entendemos que o resultado das eleições presidenciais americanas será determinado de acordo com as leis e procedimentos dos EUA".

Biden conquistou a Presidência no último sábado, após superar a marca de 270 votos no colégio eleitoral americano, conforme apontaram projeções. No entanto, o presidente Donald Trump continua a não reconhecer a derrota e já se movimenta para contestar o resultado nos tribunais, alegando, sem apresentar provas, que é vítima de fraude.

Pouco após o anúncio da vitória de Biden, dezenas de líderes mundiais parabenizaram o democrata. As primeiras reações vieram de aliados próximos dos EUA, como Canadá, Alemanha, Japão, França e Reino Unido. Praticamente todos os países da América Latina também parabenizaram a chapa democrata. Biden inclusive já iniciou conversas com vários desses líderes nos últimos dias, para tratar sobre como pretende travar a diplomacia do seu governo. Nos últimos dias, até mesmo líderes que se mantiveram inicialmente em silêncio, como o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, acabaram parabenizando Biden.

Com a divulgação da posição do governo Xi Jinping nesta sexta-feira, só restam agora um punhado de países que ainda não reconheceram Biden como vencedor do pleito. Entre eles estão Brasil, México, Rússia e Coreia do Norte.

O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, disse no sábado que preferia aguardar o resultado de eventuais ações de Trump nos tribunais antes de se poscionar. "Não queremos ser imprudentes, não queremos agir levianamente e queremos respeitar a autodeterminação dos povos", disse. AMLO, como também é conhecido, mantém no momento uma relação relativamente tranquila com Trump, após um início difícil. O mexicano também tem um histórico de contestar resultados eleitorais alegando fraude. Antes de conquistar a Presidência em 2018, AMLO foi derrotado nas eleições mexicanas de 2006 e 2012. Nas duas ocasiões, as autoridades eleitorais não viram fundamento nas acusações.

Outro líder que continua em silêncio é o presidente da Rússia, Vladimir Putin. Em 2016, ele parabenizou Trump pela vitória poucas horas depois da divulgação das projeções, em 9 de novembro. Desta vez, o Kremlin tem afirmado que pretende esperar "resultados oficiais". Analistas apontam que a Rússia não vê a vitória de Biden com otimismo, já que o democrata deve adotar um posicionamento mais duro em relação a Moscou, em contraste com Trump, que elogiou publicamente Putin em diversas ocasiões e deixou que a Rússia expandisse livremente sua influência no Oriente Médio. Num sinal de como Moscou encara o resultado do pleito, parte da mídia russa vem divulgando com entusiasmo as acusações de Trump de que as eleições foram fraudadas.

O silêncio da Coreia do Norte também vem sendo explicado pela desconfiança em relação a um governo democrata. O ditador Kim Jong-un e Trump desenvolveram um relacionamento pouco convencional. Inicialmente, eles trocaram ofensas públicas, mas depois se encontraram pessoalmente duas vezes, o que aumentou o status internacional do isolado regime totalitário de Pyongyang. No entanto, apesar da aproximação, Trump colheu poucos resultados e o país asiático ainda mantém suas armas nucleares. Sob Biden, analistas apontam que os EUA devem voltar a adotar uma abordagem mais tradicional de contenção em relação aos norte-coreanos.

Também quieto sobre os resultados do pleito americano, o brasileiro Jair Bolsonaro fez questão durante a campanha eleitoral de afirmar publicamente que torcia pela reeleição de Trump. Apelidado de "Trump dos trópicos" pela seu estilo radical e afinidade com o homólogo americano, Bolsonaro promoveu durante seu governo um alinhamento incondicional com os EUA. Apesar de se manter em silêncio sobre a disputa, ele já vem mostrando sinais de que não está nada contente com a vitória de Biden.

Na quinta-feira, seis dias após o anúncio do resultado, ele disse: "Mas já acabou, já acabaram as eleições?", sinalizando que espera que recontagens ou processos ainda possam reverter o resultado. Redes ligadas à família Bolsonaro na internet também vêm espalhando que a eleição americana não acabou e que o vencedor só é oficializado em dezembro. Em 2016, quando ainda era deputado, Bolsonaro parabenizou Trump pelo Twitter poucas horas depois do anúncio da primeira projeção que apontou a vitória de Trump, sem esperar pela oficialização em dezembro. 

Na terça-feira, ele também demonstrou sua contrariedade com um governo Biden ao insinuar que pode ter que recorrer a uma demonstração de força militar para driblar eventuais sanções econômicas impostas pelo futuro democrata em resposta ao desmatamento desenfreado da Amazônia.

Seu ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, outro fã declarado de Trump, também não fez nenhum comentário sobre a derrota do republicano. Em 2017, Araújo escreveu um artigo intitulado Trump e o Ocidente, no qual teceu elogios ao mandatário americano, apontando que o via como uma espécie de cruzador que poderia resgatar o Ocidente.

"Os Estados Unidos iam entrando no barco da decadência ocidental, entregando-se ao niilismo, pela desidentificação de si mesmo, pela desaculturação, pela substituição da história viva pelos valores abstratos, absolutos, inquestionáveis. Iam entrando, até Trump", escreveu Araújo.

Oficialmente, o vencedor da eleição só é anunciado em 14 de dezembro, quando os delegados de todos os 50 estados se reúnem em Washington no Colégio Eleitoral para confirmar os resultados estaduais. Não há nos EUA um órgão central que compile os resultados estaduais. Normalmente, o resultado é projetado logo após o pleito pela imprensa. O anúncio do desfecho da eleição é facilitado quando um dos lados concede a derrota – o que não vem sendo o caso com Trump. 

JPS/ots