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Nobel da Paz

8 de dezembro de 2010

China diz que "grande maioria" dos países vai boicotar cerimônia de entrega do Nobel da Paz ao dissidente Liu Xiaobo. Comitê afirma, por sua vez, que dois terços dos convidados já confirmaram presença.

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China lança ofensas contra Comitê Nobel pela escolha de Liu Xiaobo (foto)Foto: AP

A poucos dias da cerimônia de entrega do Prêmio Nobel da Paz ao ativista de direitos humanos chinês Liu Xiaobo, que cumpre pena de 11 anos de prisão por seu engajamento em defesa dos direitos humanos, o governo da China anunciou que tem amplo apoio da comunidade internacional em seu boicote ao evento.

"Até onde eu sei, mais de cem países e organizações expressaram apoio explícito à oposição da China ao Prêmio Nobel da Paz, o que mostra claramente que a comunidade internacional não aceita a decisão do Comitê Nobel”, disse Jiang Yu, porta-voz do Ministério chinês das Relações Exteriores, em um comunicado à imprensa.

Geir Lundestad, secretário-executivo do Comitê Nobel, considera no mínimo "curiosa" a informação propagada pela China, já que apenas 65 países com embaixada na Noruega foram convidados, dos quais 44 teriam confirmado presença na cerimônia.

A China denunciou a premiação do ativista pró-democracia como uma "obscenidade", apelando por um boicote internacional à cerimônia a ser realizada sexta-feira na capital norueguesa. "Não vamos mudar por causa da interferência de alguns palhaços anti-China”, acrescentou Jiang Yu.

Pressão política e econômica

Bürgerrechtler Liu Xiaobo China
Liu Xiaobo cumpre pena de 11 anos de prisão por ativismo em prol dos direitos humanosFoto: picture alliance/dpa

De acordo com o Comitê Nobel, a China está fazendo uma campanha inédita para dissuadir os convidados de participar da cerimônia. Para Corinna-Barbara Francis, especialista da Anistia Internacional para China, essa não deveria ser a atitude de um país de importância global. "É realmente lamentável que a China esteja usando sua influência política e econômica para forçar os diplomatas a não comparecer", disse ela.

Segundo o Comitê Nobel, além da China, os outros 18 países que recusaram o convite para a cerimônia são Afeganistão, Arábia Saudita, Cazaquistão, Colômbia, Cuba, Egito, Filipinas, Irã, Iraque, Marrocos, Paquistão, Rússia, Sérvia, Sudão, Tunísia, Ucrânia, Venezuela e Vietnã. Chama a atenção, nessa lista, a presença de tradicionais aliados dos Estados Unidos, como a Arábia Saudita e o Egito.

Entre os 44 países que aceitaram o convite para a cerimônia estão Coreia do Sul, Japão e Indonésia, além de grandes nações emergentes como Brasil, Índia e África do Sul. Argélia e Sri Lanka ainda não enviaram resposta.

O Comitê Nobel decidiu representar o laureado com uma cadeira vazia durante a cerimônia, como um símbolo da política chinesa de isolar e reprimir dissidentes. A esposa de Liu Xiaobo está em prisão domiciliar e não pode receber o prêmio pelo marido preso.

Amigos e simpatizantes de Liu também não têm permissão para sair de casa. Na semana passada, as autoridades chinesas indeferiram o pedido de autorização para viagem ao exterior apresentado pelo advogado do premiado e que teve o apoio de outros juristas, intelectuais e artistas.

Chineses exilados vão à Noruega

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Cerimônia vai atrair ativistas chineses no exteriorFoto: picture alliance/dpa

Enquanto dissidentes e críticos são impedidos de deixar o país, cerca de 40 chineses que vivem no exílio pretendem participar da cerimônia. Antigos líderes do movimento democrático de 1989 e outros ativistas estão a caminho de Oslo.

"Vou participar por todos aqueles que foram impedidos de vir", diz o ativista de direitos humanos Harry Wu, que vive atualmente nos Estados Unidos. Ele passou 20 anos preso na China e mais tarde revelou os abusos sofridos nos campos de trabalhos forçados.

Tradicionalmente, a cerimônia de entrega do Prêmio Nobel da Paz é realizada no dia 10 de dezembro, aniversário da morte do fundador Alfred Nobel. Esta é a primeira vez em 75 anos que o evento ocorrerá na ausência do premiado ou de um representante oficial. Em 1935, o regime nazista da Alemanha impediu o pacifista Carl von Ossietzky de participar da cerimônia.

FF/dpa/rtr
Revisão: Simone Lopes