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China acusa Ocidente por revolta em Hong Kong

10 de junho de 2019

Mídia oficial chinesa atribui protestos do fim de semana a interferência estrangeira. Governo local diz que levará adiante controverso projeto de lei visando permitir extradições de acusados para serem julgados na China.

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Multidão nas ruas de Hong Kong. Um dos ativistas porta uma bandeira arco-íris
Segundo manifestantes, mais de um milhão de pessoas foram às ruas de Hong KongFoto: picture-alliance/Zumapress/J. Russel

A imprensa chinesa culpou nesta segunda-feira (10/06) a "interferência estrangeira" pelos protestos deste fim de semana em Hong Kong contra a proposta de lei que permite extradições para a China, acusando os organizadores de "conluio com o Ocidente".

Os organizadores da manifestação de domingo afirmaram que mais de um milhão de pessoas desfilaram pelas ruas da cidade, enquanto a polícia da antiga colônia britânica indicou que o protesto juntou 240 mil participantes.

O governo considera a proposta um instrumento vital para combater o crime transnacional e manter o Estado de direito, enquanto os críticos temem que a população fique sujeita a um sistema judicial chinês, tido como sem transparência e influenciados pelo poder central em Pequim.

A chefe do Executivo local, Carrie Lam, afirmou que o projeto de lei é importante e que ajudará Hong Kong a cumprir seus objetivos e obrigações internacionais. As salvaguardas adicionadas em maio garantirão que a legislação proteja os direitos humanos, segundo ela.

Lam disse que o protesto de domingo mostra o compromisso duradouro de Hong Kong
com as liberdades do seu povo. Ela negou que esteja recebendo ordens do governo central de Pequim. "Eu não recebi nenhuma instrução ou mandato de Pequim para fazer este projeto de lei", disse ela. "Nós estávamos fazendo isso – e ainda estamos fazendo isso – a partir de nossa pura consciência e nosso compromisso com Hong Kong."

A marcha aconteceu sem grandes incidentes durante quase dez horas, mas por volta da meia-noite manifestantes invadiram uma zona interditada, e a polícia respondeu com gás pimenta, de acordo com o jornal de Hong Kong, South China Morning Post.

As alterações à lei da extradição já tinham motivado, em abril, a maior manifestação em Hong Kong desde a Revolução dos Guarda-chuvas, em 2014, que reuniu meio milhão de pessoas.

A proposta de lei apresentada pelo Governo de Hong Kong ao Conselho Legislativo (Parlamento local) autoriza a extradição de condenados em fuga para vários países com os quais o território não tem atualmente acordos de extradição, incluindo a China continental.

Nas últimas semanas, várias petições circularam contra a proposta de lei, milhares de advogados organizaram uma marcha silenciosa e várias câmaras de comércio manifestaram preocupação. 

A controversa proposta vai começar a ser debatida nesta quarta-feira pelo Parlamento. Em editorial, o jornal oficial Global Times minimizou o protesto de domingo, um dos maiores da região semiautônoma, desde sua devolução à China, em 1997.

"Deve-se ter atenção que algumas forças internacionais fortaleceram significativamente as suas relações com a oposição de Hong Kong recentemente", afirmou o jornal, acusando os opositores de "conluio com o Ocidente".

O jornal cita reuniões entre membros da oposição de Hong Kong com o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e com a presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi.

O jornal chinês China Daily afirma ainda que 700 mil pessoas assinaram uma petição online em apoio ao projeto de lei, e que acredita que muitos manifestantes "foram enganados pela oposição e os seus aliados estrangeiros".

Imagens aéreas das ruas de Hong Kong, cheias de manifestantes, percorreram o mundo neste fim de semana. Na China continental, porém, os acontecimentos não foram noticiados.

A transferência de Hong Kong e Macau para a República Popular da China, em 1997 e 1999, respectivamente, decorreu sob o princípio "um país, dois sistemas".

Para as duas regiões administrativas especiais da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, sendo o governo central chinês responsável pelas relações externas e defesa.

Entretanto, o governo do Partido Comunista da China tem impulsionado uma série de mudanças legislativas que são vistas como tentativas de violar este acordo.

MD/lusa/afp/ap

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