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ONU em Nova York

24 de junho de 2009

Representantes dos 192 membros da ONU se reúnem em conferência de três dias em Nova York para tratar dos efeitos da crise para países em desenvolvimento. Mas Alemanha e organizações de ajuda se mostram céticas.

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Sede da ONU em Nova YorkFoto: AP

De todas as Metas do Milênio das Nações Unidas, a principal delas – a redução da pobreza pela metade até 2015 – parece já não ser mais realizável. De acordo com dados recentes da ONU, a fome afeta diariamente mais de 1 bilhão de pessoas.

Nesta quarta-feira (24/06), a ONU inaugurou em Nova York a Conferência das Nações Unidas sobre a Crise Financeira e Econômica Mundial e o seu Impacto no Desenvolvimento. Afinal, quem mais duramente sofre com os efeitos da crise são os países em desenvolvimento, cuja dependência da economia mundial é maior.

No entanto, ninguém em Nova York parece contar de fato com uma reviravolta na luta contra a pobreza. Mesmo a ministra alemã do Desenvolvimento, Heidemarie Wieczorek-Zeul, demonstra um ceticismo incomum.

Pensamento econômico independente

Recentemente comemorou-se os dez anos da iniciativa de anulação da dívida externa, quando os países do G7, reunidos para um encontro de cúpula em Colônia, em 1999, concordaram em perdoar cerca de 70 bilhões de dólares da dívida dos países mais pobres. Na época, a ministra alemã chamou de "globalização da solidariedade" a iniciativa, impulsionada por uma campanha mundial sem precedentes que havia colhido 17 milhões de assinaturas.

Heidemarie Wieczorek Zeul
A ministra Wieczorek-Zeul: há onze anos no cargoFoto: picture-alliance/ dpa

De fato, a decisão beneficiou em grande medida os 41 países mais pobres. No entanto, em 2007, países em desenvolvimento e emergentes ainda tinham dívidas da ordem de 3,3 bilhões de dólares, segundo o Banco Mundial. Não é à toa que a ministra, que está no cargo há 11 anos, adverte para os riscos de uma nova espiral do endividamento e exige a criação de um conselho econômico mundial independente.

"Algo como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas [IPCC], que analisa os riscos sistêmicos, econômicos e financeiros e ainda faz sugestões práticas de ação", explica Wieczorek-Zeul. "Pois, apesar de todas as vantagens que o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional [FMI] oferecem, é preciso dizer a verdade: os maiores alertas não vieram deles. Trata-se de permitir que um pensamento econômico independente possa se expressar."

Menos transferências internacionais

Diversas organizações de ajuda ao desenvolvimento advertem para os riscos de a conferência fracassar. A católica Caritas International se junta ao coro dos que cobram uma nova arquitetura financeira mundial, já que a crise financeira e econômica intensificou ainda mais o problema da fuga de capitais, argumenta seu presidente Oliver Müller.

"A cada ano, os países em desenvolvimento perdem de 500 bilhões a 800 bilhões de dólares", adverte. "É preciso urgentemente criar medidas contra isso. E a conferência de Nova York poderia desempenhar um papel importante."

Müller alerta ainda para as consequências alarmantes que a forte redução das transferências de dinheiro feitas por imigrantes a familiares em seus países de origem tem para os países em desenvolvimento. No mundo todo, elas somavam, segundo ele, 300 bilhões de dólares anuais, ou seja, mais que o dobro da clássica ajuda estatal ao desenvolvimento.

A crise fez com que muitos imigrantes perdessem o emprego e retornassem à terra natal. Segundo a Caritas International, só para Bangladesh retornam atualmente 5 mil pessoas por dia. E, no Tadjiquistão, a metade do Produto Nacional Bruto (PNB) é gerada por migrantes que vivem na Rússia ou no Casaquistão.

"Também diversos países africanos, como a Etiópia, são muito sensíveis nesse sentido e, em caso de crise, não tem como tomar as medidas necessárias por força própria", conta Müller.

Pacotes conjunturais: 1% ao desenvolvimento?

A Caritas International e organizações semelhantes apelam à comunidade internacional que reserve 1% dos pacotes nacionais de incentivo à conjuntura lançados em resposta à crise mundial para países em desenvolvimento – um volume que a Alemanha também não conseguiu levantar, apesar de haver destinado 100 milhões de euros.

Müller gostaria que a soma fosse ainda maior, mas admite que se trata de "um montante considerável". "Acho que foi um bom sinal para que outros países industrializados fizessem igual. Mas, quando se vê a dimensão da crise e se compara esses 100 milhões de euros com o que foi investido no resgate de bancos e empresas, me parece muito pouco", diz.

No mundo todo, foram investidos cerca de 7,6 trilhões de dólares em programas conjunturais e de resgate de bancos. Diante desse total, até mesmo a geralmente otimista ministra alemã Wieczorek-Zeul mantém um certo ceticismo. Para ela, seria bom que a conferência da ONU pudesse enviar um sinal aos países em desenvolvimento.

Um sinal "de que, mesmo nesta situação difícil, eles continuam no foco da comunidade internacional. De que têm o nosso apoio e tentamos evitar que caiam novamente na espiral do endividamento. Isso é o que tem que ser feito". Mas nem a ministra disse acreditar que durante o evento sejam anunciados números concretos ou mesmo um novo sistema financeiro mundial.

Autor: Marcel Fürstenau

Revisão: Alexandre Schossler