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Protestos

11 de janeiro de 2011

Os tumultos na Tunísia aumentam. Na Argélia, os protestos também deixaram mortos. Altos índices de desemprego e falta de perspectivas, além da desigualdade social e repressão política, levam a juventude às ruas.

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Manifestantes na Tunísia: população nas ruasFoto: picture-alliance/dpa

Gás lacrimogêneo e pneus incendiados – as imagens são incomuns para a Tunísia, conhecida entre muitos europeus como destino turístico paradisíaco. Pouco habitual é sobretudo a amplitude dos protestos, que já atingiram várias cidades do país.

Imagens semelhantes chegam, ao mesmo tempo, da Argélia, onde principalmente uma juventude irada vai às ruas. O saldo é de dezenas de mortos e centenas de feridos, num balanço provisório dos protestos mais violentos que os dois países do Magreb já vivenciaram.

Os fatores que desencadearam a violência são diversos, embora as razões sejam idênticas nos dois países vizinhos: o desemprego e a falta de perspectiva dos jovens abaixo de 35 anos são comuns tanto na Tunísia quanto na Argélia. A situação atinge não apenas famílias de baixa renda, mas também pessoas com qualificação profissional, seja em nível técnico ou universitário.

"Quem reclama, vai preso"

Rafik, de 27 anos, natural de Tala, na Tunísia, é um exemplo. Há três anos ele tenta, em vão, encontrar um emprego. "Para achar trabalho é preciso pagar propinas ou ter boas relações", reclama. "Se você não tem dinheiro nem conhecidos, não ganha nada. E, se reclamar, ainda acaba na prisão", completa.

Sem emprego, muita coisa torna-se impossível para os jovens. Eles não encontram moradia, não podem se casar, ficam sem perspectivas. Há muito que nos dois países vale a máxima, também conhecida no vizinho Marrocos: quem pode, emigra para a vizinha Europa – legal ou ilegalmente.

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Manifestantes tentam devolver gás lacrimogêneo atirado pela políciaFoto: picture-alliance/dpa

Mas não apenas o desemprego leva os jovens às ruas no momento, também a repressão política e a chamada hogra – a sensação vergonhosa de ser desprezado pelos poderosos. Na Tunísia, isso começou há poucas semanas.

A sensação de hogra levou um jovem a se queimar em público. Ele havia conseguido sobreviver, por vários anos, vendendo legumes, em uma situação sem qualquer direito legal e constantemente maltratado por autoridades e departamentos públicos. O caso ganhou força simbólica e levou a uma disseminação rápida dos protestos.

Sensação de desprezo

Na Argélia, muita gente também fala de hogra. No país, os protestos se deram em forma de saques de estabelecimentos comerciais e incêndios de símbolos do bem-estar. O país não é, de forma alguma, pobre, pois pertence ao rol dos mais importantes exportadores de petróleo e gás natural do mundo.

Dos estimados 57 bilhões de dólares que o país contabilizou no último ano com exportações, muito pouco chega à população, avaliam especialistas. "A Argélia é um país completamente corrupto", afirma Werner Ruf, cientista político e especialista em questões ligadas à Argélia. "As elites embolsam elas próprias receitas gigantescas. Ou são compradas coisas não produtivas, como armamentos enormes", diz ele.

Uma evolução social perigosa em uma região que, de acordo com as estatísticas oficiais, registra há anos um crescimento econômico admirável. Thomas Schiller, especialista em Magreb da Fundação Konrad Adenauer, não se surpreende com os protestos: "Para qualquer conhecedor da região, as discrepâncias sociais e o abismo entre ricos e pobres nos três países do Magreb – Marrocos, Argélia e Tunísia – são um barril de pólvora", completa.

Outros países em foco

Alguns especialistas não excluem a possibilidade de que os protestos venham a se expandir para outros países, como o Marrocos, por exemplo, que até agora se manteve ileso aos tumultos. A situação na Argélia acalmou-se um pouco depois que o presidente Abdelaziz Bouteflika anunciou uma queda nos preços de alimentos como óleo de cozinha e açúcar.

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Jovens desafiam a polícia na ArgéliaFoto: dapd

Por outro lado, as promessas do presidente tunisiano Zine el Abidine Ben Ali de criar 300 mil novos empregos não levou à esperada redução dos tumultos. Tanto na capital, Túnis, quanto no resto do país, cada vez mais gente vai às ruas protestar contra o desemprego, a repressão, a desigualdade e o cerceamento da liberdade de expressão e de imprensa.

Celular e internet contra a censura

A censura estatal à mídia vem sendo cada vez mais burlada através de celulares e redes sociais como o Facebook, ferramentas com as quais a nova geração cresceu. O bloqueio de notícias por parte do Estado torna-se, assim, obsoleto.

Belgacem Sayhi, professor na cidade de Tala, explica como funciona a disseminação de notícias na era das novas mídias: "Faço fotos dos protestos nas ruas, anoto declarações de testemunhos e coloco tudo no Facebook", diz ele. Além disso, conta Sayhi, ele e seus colegas de protesto mantêm estreito contato com agências internacionais de notícias.

"Temos direito a trabalho, bando de ladrões!" é o slogan dos manifestantes na Tunísia. E tudo isso pode levar a uma mudança de regime? Schiller não acredita nisso, já que "tanto na Argélia quanto na Tunísia não há alternativas para o atual sistema político", diz o especialista alemão. Em sua opinião, os governantes devem fazer mais para que a população tenha acesso ao bem-estar e usufrua do crescimento econômico.

Autores: Chamselassil Ayari, Loay Mudhoon (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer