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"Caça não beneficia o povo do Zimbábue"

Mark Caldwell (lpf)31 de julho de 2015

Em entrevista, especialista Johnny Rodrigues diz que atividades como a que resultou na morte do leão Cecil não trazem vantagens aos zimbabuenses. Proprietários de terra e operadoras de safári são as que mais lucram.

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Symbolbild - Löwe in Afrika
Foto: picture-alliance/dpa/Anka Agency International

Após a revelação de que um dentista americano pagou 50 mil dólares para caçar e matar o leão Cecil nas imediações de um parque nacional no Zimbábue, muitas pessoas se perguntaram nas redes sociais nos últimos dias por que a prática é considerada ilegal.

Apesar de a legalidade dessa caça específica estar sendo questionada, é legal caçar e matar um leão com as devidas licenças e dentro de áreas permitidas. As taxas pagas por tais licenças podem trazer quantidades significativas de dinheiro às agências do governo responsáveis pelos parques nacionais e pela preservação das espécies.

No entanto, Johnny Rodrigues, presidente da Força-Tarefa para Preservação do Zimbábue, afirma m entrevista à DW não acreditar que a caça esportiva ofereça qualquer benefício ao povo, aos animais ou aos parques nacionais. Ele diz que, na realidade, a prática prejudica a única coisa que traz renda ao país: o turismo.

DW:Se visitantes estrangeiros querem caçar animais selvagens no Zimbábue, por que tipo de formalidades eles têm que passar e que tipo de taxas têm que pagar?

Johnny Rodrigues: Isso varia. Há uma cota para a área em que você deve caçar. Você vai à administração dos parques nacionais, e eles dizem qual é a cota e se há uma autorização ou licença para a área. Feito isso, você pode caçar. Mas em 90% das vezes, nas áreas em que se caça, a maioria dos animais já foi morta, e agora o único lugar onde há esse tipo de "animal-troféu" é dentro do parque. Então, eles atraem os animais para fora do parque e atiram neles. Se não há uma cota ou autorização para caçar nessa área, você está praticando caça furtiva.

E que tipo de taxas os caçadores têm que pagar?

Eles compram a concessão para a área. Essas taxas podem variar de 2 mil a 9 mil dólares.

Então se trata de um grande negócio no Zimbábue?

Sim. E muita gente acha que é sustentável, mas não é. As comunidades não estão ganhando nenhuma percentagem ou royalties sobre a caça. Algumas pessoas dizem que a prática contribui para a conservação através das taxas pagas aos parques nacionais, mas não é verdade. As pessoas que mais se beneficiam são os proprietários de terra e as operadoras de safári.

E quanto ao retorno financeiro? O governo do Zimbábue recebe alguma parte do dinheiro?

Bem, eles recebem as taxas que cobram pelas autorizações e licenças.

E isso é significativo?

Não.

E o povo do país? Tem algum benefício com a caça?

Não. Muitas pessoas dão a carne das carcaças à população local e dizem que estão ajudando os zimbabuanos. Depois de dois dias, os que comeram a carne estão passando fome outra vez. Há maneiras mais construtivas de caçar onde é sustentável. Mas a caça de animais sob risco de extinção deveria ser banida e se deveria trabalhar para trazer os turistas de volta. Se os turistas virem os belos animais, isso vai beneficiar mais do que meia dúzia de pessoas.

Quão fácil é para caçadores ilegais, furtivos, entrar e sair do Zimbábue?

É muito fácil. E esse é o problema. Eles [o governo] não têm o dinheiro para pagar funcionários. Precisamos de turistas aqui, e não de caçadores. Se você pratica caça furtiva, você deveria ir para a cadeira ou levar um tiro no local, porque há uma lei que diz que, se você está caçando furtivamente e está portando uma arma, você pode ser morto. Mas essa lei não estão sendo aplicada. Além disso, o governo não tem dinheiro para fiscalização, porque não há receita suficiente vindo do turismo.