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'Very German'

29 de abril de 2011

Tradicionalistas alemães ainda defendem monarquia parlamentar como modelo, e em nenhum outro país europeu há tanto interesse por fofocas da realeza. No século 19 alemães se introduziram em todas as casas reais europeias.

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Príncipe William: bastante alemãoFoto: AP

O último monarca alemão, Guilherme 2º, abdicou em 1918. Hoje o país não dispõe de uma Casa Real e sua monarquia, assim como a glória da Prússia, passaram à história; outros países europeus são hoje palco de pompa e circunstância.

Deutschland Prinz Georg Friedrich von Preußen
Georg Friedrich da Prússia também se casaFoto: picture-alliance/dpa

Tanto que, para o alemão Knut Wissenbach, o matrimônio do príncipe inglês William com a plebeia Kate Middleton na sexta-feira (29/04) ganha inevitavelmente um sabor nostálgico.

Na qualidade de presidente da associação Tradition und Leben (Tradição e Vida), que desde 1956 se engaja pelo restabelecimento da monarquia no país, ele não tem como esquecer que o príncipe Georg Friedrich da Prússia também vai se casar em agosto próximo. No entanto, sem transmissão ao vivo pela TV: afinal, não há trono para ser herdado e portanto pouco motivo de glamour.

Nobreza é chique

"Queremos coroar a democracia", recita Wissenbach com um sorriso. Seu escritório é abarrotado com retratos a óleo de membros da realeza nas paredes, uniformes prussianos e medalhas de mérito preservados em vitrines.

Diana und Charles - Hochzeit
Charles e Diana: clímax do conto de fadasFoto: picture-alliance/dpa

Para Wissenbach, uma monarquia parlamentar é exatamente do que a Alemanha precisa. O atual presidente federal, Christian Wulff, lhe é discreto e reservado demais. "Precisamos de algo mais chique à frente do Estado", pleiteia o entusiasta da história alemã, que desde a mais tenra idade estuda as dinastias do país.

Segundo ele, à frente de seu Estado os alemães querem uma família que não tenha sido eleita, estando portanto acima da política partidária. Nisso, Knut Wissenbach crê com todas as forças, também como editor da revista Erbe und Auftrag (Herança e missão), dedicada ao fomento do pensamento monárquico.

Assim como seus 200 correligionários, ele não quer saber de política, muito menos da radical de direita. Pelo contrário, durante o regime nazista, os monarquistas foram perseguidos e passaram à resistência. A associação reúne representantes de todas as gerações e quase um terço de seus afiliados conta menos de 30 anos de idade.

O espetacular no quotidiano

Já a historiadora especializada em nobreza Monika Wienfort é mais cética. "Não vejo perspectiva de um retorno da monarquia em democracias estabelecidas como a Alemanha ou a Áustria", declara. Pois, na Europa contemporânea, as casas reais continuam regendo, sobretudo, em nações onde não houve revoluções nem quebras dramáticas.

Este não é o caso da Alemanha, lembra a professora de História. Apenas sete Estados mantiveram reis e rainhas no trono: Bélgica, Dinamarca, Espanha, Holanda, Noruega, Reino Unido e Suécia. E lá onde a monarquia subsiste, ela também conta com o apoio da maioria da população.

O príncipe Charles, eterno herdeiro do trono britânico, certa vez comparou sua família a uma telenovela. Todos os dramas familiares são públicos, e a dinastia faz uso de sua notoriedade para realizar boas ações e representar o país.

"Very German"

Apesar de tudo, é enorme o interesse dos alemães pelas famílias reais e a alta nobreza: o país ostenta o maior número de tabloides de fofocas sobre o tema de todo o continente. "A fascinação tem origem no espetacular dentro do quotidiano", diagnostica Wienfort, recorrendo a um conceito do sociólogo Max Weber.

William und Kate Torte
William e Kate inspiram criações do Café Viktoria, em Eberbach, sudoeste alemãoFoto: picture-alliance/dpa

"Na verdade, esses nobres fazem coisas bem comuns. Eles casam, têm filhos e depois morrem. Tudo isso caberia numa biografia normal. Mas eles o fazem de maneira representativa. Que outra chance se teria de ver uma carruagem? Então as pessoas acompanham os casamentos reais pela televisão, mesmo aqueles que normalmente não possuem veneração pelo sangue azul."

Esse interesse na Alemanha deve-se possivelmente à existência no país de uma série de casas reais célebres, que deixaram suas marcas por toda a Europa. Através de uma astuta política matrimonial, no século 19 os alemães se introduziram em todas as casas reais europeias.

Segundo Monika Wienfort, esta era uma especialidade das casas de Schleswig-Holstein-Sonderung-Glücksburg e Saxônia-Coburg-Gotha – esta última chegou a receber o irreverente apelido de "estábulo de éguas da Europa". Seja como for, o resultado é que, hoje, praticamente todos os reis do continente são aparentados entre si.

Um pouco "german"

O marido da legendária rainha Vitória da Inglaterra provinha de Saxônia-Coburg-Gotha. Vitória, por sua vez, era avó do último imperador alemão. A mãe da rainha Elizabeth 2ª tinha ascendência alemã; o príncipe consorte Phillip também tinha ancestrais alemães. Visto assim, o príncipe William é um pouco "german", admite Wienfort.

"As raízes alemãs são tão profundas na família real britânica que esta decidiu fazer uma clara cisão durante a Primeira Guerra Mundial. Assim o sobrenome da família real foi alterado de Battenberg para Windsor, um nome meramente artificial", conta a historiadora.

Mas hoje em dia os herdeiros não mais se casam dentro de sua classe, suspira o tradicionalista Knut Wissenbach. O sangue azul se dilui, cada vez mais plebeus são desposados.

Monika Wienfort vê aí uma tendência definida: ao unir-se a súditos de seu próprio povo, as monarquias acentuam suas raízes nacionais, elevando o grau de suporte público. Além disso, pelo fato de percorrerem um currículo educacional convencional, é natural que príncipes e princesas encontrem seus potenciais parceiros e parceiras entre a população plebeia, deduz Wienfort, que hoje leciona em Chapel Hill, nos Estados Unidos.

Autor: Bernd Riegert / Augusto Valente
Revisão: Rodrigo Rimon