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Crise grega

10 de junho de 2011

Alemanha impõe condições a uma nova liberação de recursos para a Grécia, como a participação do FMI e do setor privado, além de um grande programa de privatização e reformas estruturais no país.

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Reestruturar a dívida não é opção, diz FMI
Crise grega afeta a zona do euroFoto: picture alliance / dpa

Aproveitando o fato de deter a maioria no Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão, a coalizão de governo da Alemanha, composta por conservadores e liberais, aprovou nesta sexta-feira (10/06) em Berlim uma nova ajuda financeira à endividada Grécia, sob algumas condições.

Na moção aprovada nesta sexta-feira, os empréstimos da Alemanha à Grécia ficam condicionados a uma maior participação do Fundo Monetário Internacional (FMI), à participação de credores privados, a um "ambicioso" programa de privatização por parte do governo grego, a reformas estruturais que promovam o crescimento no país e a uma participação do Bundestag em todas as decisões e acordos com consequências financeiras.

Na quinta-feira, o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, havia defendido na Comissão de Orçamento do Bundestag uma reestruturação "branda" da dívida grega, com a participação de credores privados, ou seja, bancos e seguradoras.

A oposição no Bundestag votou contra a moção. Uma pesquisa divulgada nesta sexta-feira pela emissora alemã ZDF apontou que 60% dos alemães são contra uma nova ajuda à Grécia sob forma de empréstimos. Ao mesmo tempo, a pesquisa assinalou que 80% dos entrevistados estão preocupados com a estabilidade do euro devido às dificuldades financeiras de alguns países da União Europeia (UE).

"Poço sem fundo"

Está cada vez mais claro que os 110 de bilhões de euros prometidos à Grécia há um ano sob forma de empréstimo emergencial não serão suficientes. Schäuble estima que o país necessite ajuda adicional no valor de 90 bilhões de euros para evitar a inadimplência estatal.

Diversos economistas de renome já haviam advertido que a crise da Grécia seria "um poço sem fundo". O diretor do Instituto de Pesquisas Econômicas (Ifo) de Munique, Hans-Werner Sinn, disse que mesmo uma prorrogação no vencimento dos atuais títulos da dívida pública não seria suficiente para salvar a Grécia da falência.

Para o caso de um reescalonamento da dívida – não importa como ele venha a acontecer –, os bancos e seguradoras já tomaram precauções e se livraram de parte dos títulos gregos, segundo reportagens de jornais que citam os mais novos números divulgados pelo Banco Central da Alemanha (Bundesbank).

Reestruturação "dura"

Os títulos do governo grego se encontram agora em mãos sobretudo de instituições públicas – como bancos nacionais e o Banco Central Europeu (BCE). Não é de se estranhar, portanto, que o BCE seja contra um reestruturação da dívida grega, principalmente da chamada reestruturação "dura", na qual os credores teriam de abdicar de parte de seu dinheiro.

Nesta quinta-feira, o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, voltou a se posicionar contra a reestruturação da dívida grega. Ele disse em Frankfurt ser veementemente contrário a "tudo que não acontece de forma voluntária".

O BCE, grande credor de todos os Estados endividados, vem comprando títulos das dívidas soberanas de Portugal, Irlanda e Grécia desde maio de 2010. Além disso, o BCE fornece dinheiro aos bancos comerciais desses países.

Corte da dívida

Isso significa que, no caso de reestruturação da dívida, o BCE teria um prejuízo bilionário. Na prática, disse à Deutsche Welle o professor de Economia da Universidade de Ciências Aplicadas de Worms, Max Otte, o BCE se tornou uma espécie de bad bank na perspectiva dos países endividados, devido à compra de títulos desses países.

"A Grécia está inadimplente e o BCE comprou esses títulos. Eles nunca poderão ser saldados", assegurou Otte. Para o professor de Economia, é necessário que haja uma redução no valor nominal da dívida. "Se realizamos um corte da dívida, o chamado haircut, teremos ao menos a esperança de sair dessa espiral". Para Otte, a Grécia não é mais capaz de conseguir se erguer sozinha.

Rejeição internacional

Para a chanceler federal alemã, Angela Merkel, a chamada reestruturação "dura", na qual os credores renunciam a parte do dinheiro aplicado, não seria uma solução. Segundo Merkel, não se podem prever as consequências que tal passo teria para outros países europeus, como Espanha e Bélgica. Merkel apoia assim as sugestões de seu ministro de Finanças, Wolfgang Schäuble, aprovadas pelo Bundestag nesta sexta-feira.

A iniciativa alemã pela reestruturação da dívida grega é rejeitada em nível internacional. Uma porta-voz do FMI assinalou nesta quinta-feira em Washington que o que está em jogo é um conceito de financiamento e não a "eventualidade de uma reestruturação".

Segundo o FMI, todas as partes envolvidas nas discussões sobre a ajuda financeira recusam uma reestruturação à força. A porta-voz Caroline Atkinson disse que "todos concordam que qualquer tipo de reestruturação ou empréstimos impostos não são desejados."

CA/afp/dapd/dpa/dw
Revisão: Roselaine Wandscheer

Trichet recusa qualquer reestruturação involuntária
Trichet recusa qualquer reestruturação involuntáriaFoto: dapd
Ministro Schäuble defende reescalonamento 'suave'
Ministro Schäuble defende reescalonamento 'suave'Foto: AP