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Brasil usa reformas e privatizações para atrair investidores

Hyury Potter de Colônia
26 de junho de 2018

Em encontro Brasil-Alemanha, representantes do governo e da indústria brasileira citam mudanças como as implantadas pela reforma trabalhista para dar confiança a empresários e estimular negócios bilaterais.

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Trabalhador de fábrica com máscara
Segundo levantamento da CNI, a reforma trabalhista reduziu em 40% a média mensal de processos trabalhistas nos primeiros meses de 2018Foto: picture-alliance/ dpa

Após o comércio bilateral entre Brasil e Alemanha cair de cerca de 22 bilhões de dólares para 14 bilhões de dólares entre 2013 e 2016, uma leve recuperação no ano passado anima empresários e governos dos dois lados.

No entanto, ainda há um longo caminho pela frente para que a "confiança" nas relações comerciais entre ambos os países seja recuperada, apontaram investidores e representantes de entidades industriais e governamentais durante a 36ª edição do Encontro Econômico Brasil-Alemanha (EEBA), realizada nesta segunda e terça-feira (26/06) na cidade alemã de Colônia.

Entre as pautas consideradas urgentes para estimular os negócios entre os dois países estão polêmicas reformas em discussão no Congresso brasileiro, incluindo a tributária e a da previdência, além de acordos comerciais entre Brasil e Alemanha – como o que evitaria a bitributação, emperrado desde 2006.

No encontro em Colônia, a reforma trabalhista, que, segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), reduziu em 40% a média mensal de processos trabalhistas nos primeiros meses de 2018, e privatizações foram apresentadas como atrativos para investidores.

Apesar dos obstáculos no comércio bilateral, o vice-presidente da CNI, Paulo Tigre, acredita que o histórico das relações Brasil-Alemanha contribuirá para que se fechem novos negócios.

"Temos vários pontos que estão avançando, como a experiência que o Senai tem recebido com consultoria alemã. Este fórum internacional com a Alemanha é o mais antigo de que a CNI participa. A Alemanha é o sétimo principal destino dos produtos da indústria brasileira e o quarto país de quem mais compramos", destaca.

Fábio Lavor, diretor do Departamento de Parcerias do Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil (MTPA), aponta que o setor privado pode atuar em áreas nas quais a União não tem dinheiro em caixa para investir.

"Temos casos recentes de uma empresa alemã ter vencido licitações em dois aeroportos brasileiros [a Fraport obteve concessões dos aeroportos de Porto Alegre e Fortaleza]. Isso é bom, porque o governo brasileiro não tem condições de fazer alguns tipos de investimento, mas tem um quadro organizacional para dar segurança a quem pretende investir", diz.

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As privatizações e reformas do Brasil apresentadas no encontro em Colônia foram elogiadas por empresários alemães.

"O governo brasileiro tem avançado em medidas importantes no setor econômico. Além disso, há investigações sérias contra corrupção que são dolorosas, mas importantes para mudar um país", afirmou Dieter Kempf, presidente da Federação das Indústrias da Alemanha (BDI).

Com experiência em negócios com o Brasil desde a década de 1990, a executiva Angelika Westerwelle, sócia-diretora da empresa alemã de investimentos Lanax Manegement, apontou a reforma trabalhista como um avanço para fortalecer a confiança dos investidores. 

"Para receber investimentos, um país precisa de oportunidades e confiança. O Brasil é diverso e possui um mercado consumidor robusto, então há oportunidades. Mas confiança é mais difícil, pois há uma série de questões que ficaram pendentes nos últimos anos, mas estão sendo enfrentadas", diz a empresária.

"Quando há regras claras a seguir, todos são beneficiados. Mas não podemos esquecer que alguns detalhes dependem também da Alemanha, como o acordo de bitributação", completou, referindo-se às negociações do pacto que evitaria que um empresário que abra uma empresa no outro país ou trabalhadores sejam tributado duas vezes.

Logística ainda assusta

A recente greve dos caminhoneiros, que parou o Brasil em maio deste ano e deixou um rombo bilionário, ainda atormenta empresários e provoca cautela em investidores.

A paralisação evidenciou o peso do transporte rodoviário de carga sobre a produção em um país de dimensões continentais como o Brasil, destacou Andreas Facco Bonetti, diretor da Siemens no Brasil.

"Há regiões no país com até três safras por ano, então, o potencial de investimento logístico é enorme, especialmente quando vemos o que aconteceu com a greve dos caminhoneiros, que parou o país por uma semana. É preciso investir em outros modais para evitar algo parecido", diz Bonetti.

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O setor é agora alvo de uma guerra particular entre federações de indústrias e o governo por causa da tabela nacional do frete do transporte rodoviário de carga, uma das principais reivindicações dos caminhoneiros e que foi atendida pelo governo Temer.

"Minas Gerais é o estado com a maior malha rodoviária do Brasil e entendemos que o mercado deve regular o preço do frete. Como estava sem apoio popular, o governo federal acabou prometendo aos caminhoneiros o que não poderia cumprir", afirmou Flávio Roscoe Nogueira, presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG).

Potencial eólico em Natal

Além da CNI, participaram da organização desta edição do Encontro Econômico Brasil-Alemanha a Federação das Indústrias Alemãs (BDI), com o apoio da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK). Em 2019, o evento será realizado em Natal, que aposta no potencial da energia eólica para atrair parcerias com os alemães.

"O Rio Grande do Norte é o estado com maior número de parques eólicos do Brasil: são 93, que produziram 3,68 mil MW em 2017. Também há possibilidades de parcerias e investimentos em setores como infraestrutura e agricultura", disse Amaro Sales, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Norte (FIERN), no encerramento do encontro em Colônia.

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