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Presidente alemão no Brasil

Geraldo Hoffmann2 de março de 2007

A globalização justa será tema da visita do presidente alemão, Horst Köhler, ao Brasil. Em entrevista à DW-WORLD, cientista político Jürgen Turek fala sobre o papel da UE e da América Latina no mundo globalizado.

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Protestos contra a globalização durante o Fórum Social Mundial no QuêniaFoto: AP

Quando felicitou Lula por sua reeleição, em outubro passado, o presidente alemão, Horst Köhler, disse que o Brasil e a Alemanha podem “prestar uma importante contribuição aos esforços por uma globalização que beneficie a todos”.

Este é um dos assuntos que Köhler pretende abordar com seus colegas de pasta do Paraguai, do Brasil e da Colômbia, em sua primeira visita oficial à América Latina, de 4 a 16 de março. DW-WORLD conversou com o cientista político Jürgen Turek, da Universidade de Munique, sobre a posição da Europa e da América Latina no mundo globalizado.

DW-WORLD: Quem são os vencedores e quem os perdedores da globalização? E como o senhor a União Européia – especialmente a Alemanha – nesse quadro?

Jürgen Turek
Jürgen TurekFoto: Turek

Jürgen Turek: De um modo geral, os vencedores da globalização são os países e as sociedades que se adaptam com sucesso à internacionalização dos desenvolvimentos socioeconômicos. Isto significa: o setor econômico e as instituições regulatórias estatais precisam compreender como podem se tornar ou se manter funcionais e competitivos na divisão internacional do trabalho. Isso precisa ser desdobrado de forma bem prática para as estruturas empresariais, as regras das políticas social e trabalhista ou para megatemas como a migração.

Os países da UE, inclusive a Alemanha, resolveram isso com sucessos diferentes. Países como a Suécia ou a Finlândia têm hoje uma posição melhor do que a Alemanha ou a França. Mas, quando se aponta o dedo para a Alemanha, não se deve esquecer a unificação alemã. Essa problemática só o nosso país tem. Perdedores são os países que ignoram ou demonizam a globalização e fazem de conta que a vida continua como nos tempos do conflito Leste-Oeste.

E como está a América Latina, especialmente o Brasil, nesse contexto?

Considerando a integração econômica da América Latina no âmbito do Mercosul e os esforços nacionais, também aí, como na Europa, vejo diferentes graus de avanço nos processos de adaptação. Olhando os dados fundamentais do crescimento econômico, da inflação, do déficit público e da balança comercial, o Brasil pelo menos economicamente se apresenta mais robusto do que outros países.

Como a América Latina e o Brasil podem ganhar com a globalização?

Os países latino-americanos ganham com a globalização exatamente como o resto do mundo, se se adaptarem socioeconomicamente de forma hábil e não se fecharem. Para o Brasil vale: o país é hoje a décima maior economia do mundo. Junto com a Rússia, Índia e China, é considerado um player emergente no mercado mundial. Com conceitos inovadores, por exemplo, na área de combustíveis e no setor nuclear, o país decola. Os índices relativamente bons de crescimento dos últimos anos, a expansão das exportações nos mercados de matérias-primas e o aumento das reservas de divisas indicam que a economia brasileira se movimenta de forma ágil na economia mundial.

Persistem problemas sociais. Apesar dos programas sociais, cerca de 35% da população vive abaixo da linha da pobreza. Aqui vale dizer: a adaptação à globalização implica também que não só o setor econômico, mas também a população precisa ser inserida neste processo, através da educação e da inclusão social. Isso só pode acontecer em médio e longo prazo, mas precisa ser feito sistematicamente por qualquer país, assim também pelo Brasil.

Durante décadas, os países industrializados ocidentais, entre eles também a Alemanha, pressionaram pelo avanço da globalização. Nos últimos tempos, tem-se a impressão de que a UE e a Alemanha estão pisando no freio, por exemplo nas negociações da OMC. Por que houve essa mudança?

A paralisação das negociações da OMC [Organização Mundial do Comércio], na minha opinião, tem pouco a ver com a globalização e, sim, precisa ser vista como resultado da pressão de poderosos grupos de interesse, especialmente no setor agrário. Mas mesmo que se tenha de considerar fracassada a Rodada Doha, tenho esperanças de que as negociações serão retomadas. Um mercado mundial liberalizado, afinal, serve a todos, especialmente aos países em desenvolvimento e emergentes. A impressão de que nesse sentido a globalização está emperrando vem apenas do reconhecimento de que ainda não há clareza ou consenso sobre determinadas conseqüências de regulamentações desse processo.

Uma globalização justa, como a defendem os presidentes Köhler e Lula, é possível?

Sim, por que não? Mas isso significa, no caso das negociações da OMC, que é preciso dar e receber de forma equilibrada. Em termos de desenvolvimento econômico, a China, a Índia e o Brasil já nos mostram como, a partir da própria força, se pode ganhar com a globalização. Trata-se de países que não só podem mobilizar uma extraordinária dinâmica econômica, mas também defendem seus interesses com autoconfiança nos grêmios internacionais e não dependem da boa vontade de outros.

Os adversários da globalização, como a ONG Attac, realmente podem influenciar este processo?

De fato, esses grupos têm uma certa influência. Veja só quão forte foi, por exemplo, a resistência dos adversários da globalização ao encontro dos ministros da OMC, no final de 1999 em Seatle [EUA]. Na ocasião, divergências entre os ministros coincidiram com os protestos desses grupos, organizados principalmente através da internet, e com a pressão de uma opinião pública fortemente mobilizada. O encontro fracassou.

Jürgen Turek, 47, é diretor-executivo e coordenador do Grupo de Pesquisa sobre Questões do Futuro, do Centro de Pesquisa Política Aplicada da Universidade de Munique. Eles escreveu, entre outras obras, três livros sobre a competitividade e a transformação social na Europa.