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Entrevista

4 de junho de 2010

Jogador da seleção brasileira avalia chances do Brasil e da Alemanha na Copa. Atacante fala ainda das dificuldades que enfrentou na carreira tardia e destaca Felix Magath como personalidade alemã.

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Grafite está na Alemanha desde 2007Foto: AP

Em entrevista exclusiva à Deutsche Welle, o jogador da seleção brasileira fala sobre sua carreira, iniciada tardiamente, e faz previsões para a Copa do Mundo. Segundo ele, a Espanha está em alta, mas o Brasil levará o título. Grafite conta ainda sua experiência na Alemanha, país que, apesar do frio, o recebeu de braços abertos.

DW-WORLD

: Para quem você vai torcer na Copa da África do Sul?

Grafite: Pelo Brasil. A Espanha está jogando um futebol muito bom nos últimos três anos, mas acho que o Brasil será campeão por sua qualidade.

O que acha do grupo da Alemanha?

Acho que é possível ter uma surpresa por parte de algum time africano, como Gana. A Sérvia se classificou em primeiro lugar, em um grupo teoricamente forte, que tinha a França como uma das favoritas. Creio que será uma surpresa essa primeira fase e, para a próxima, pode dar trabalho. Mas nem sempre a melhor equipe nas eliminatórias vai bem na Copa.

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Com o troféu de artilheiro do campeonato alemão em 2009Foto: picture alliance / dpa

A Alemanha tem muita tradição em Copa do Mundo. A equipe passa por um momento conturbado, Joachim Löw teve dificuldades para definir o grupo, mas o time é sempre forte quando chega ao Mundial. A Austrália é sempre favorita na Oceania, tanto que esteve presente nas últimas Copas. Não creio que possa dar trabalho para a Alemanha e para a Sérvia, que, acho, são as duas favoritas nesse grupo.

Qual é o ponto forte da seleção alemã?

Disciplina tática. O jogador alemão é muito disciplinado e acho que o conjunto da equipe alemã pode fazer diferença nesse momento conturbado por que vem passando. O Joachim Löw [técnico] fez muitas experiências nesses três últimos anos. Ele está tendo um pouco de dificuldade para firmar o grupo, mas acho que o conjunto da Alemanha pode fazer diferença.

Há problemas no ataque e na defesa?

Tudo é questão de entrosamento. Há jogadores de muita qualidade no setor defensivo, é difícil passar por eles. Tem também goleiros excelentes.

No ataque, ele está encontrando um pouco de dificuldade, até pela cobrança da mídia. Os jogadores que estão aí - o Cacau, o Gomes - são de excelente qualidade e estão em um bom momento.

Qual o principal jogador da seleção alemã?

Hoje, o Özil está em um grande momento. Tem também o Mário Gomez. Mas a Alemanha não tem aquele destaque. Hoje, a principal estrela alemã é o conjunto. Não tem jogador em si que desequilibra todo o jogo, como é caso da Argentina, que tem o Messi.

O que tem de interessante no futebol da seleção espanhola?

Acho que tudo, tem jogadores de qualidade, como o Fernando Torres, o Puyol, o goleiro Casillas. Todos os setores da equipe da Espanha são fortes, porque jogam juntos há vários anos.

É o atual campeão da Europa e tem tudo para fazer uma grande copa. E acho que a maioria dos palpites hoje para uma final da Copa do Mundo vai para Brasil e Espanha. Acho que esses dois são os favoritos, mas o Brasil vai ser campeão.

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Carinho da torcidaFoto: AP

Uma equipe africana pode chegar a uma semifinal?

Creio que sim, sempre há uma surpresa. E este ano as equipes africanas estão trabalhando, se concentrando para essa Copa do Mundo. Acho que a Costa do Marfim ou Gana podem chegar. Chances existem pelo fato de jogarem em casa, isso pesa bastante.

Diz-se que os africanos são bons no ataque, que têm bons artilheiros, mas na defesa e principalmente no gol eles têm problemas. Não há bons goleiros africanos?

Acho que a gente tem essa opinião porque os maiores destaques africanos são atacantes. A gente não ouve falar de jogadores africanos que se destaquem na defesa ou no gol. É mais no meio campo e no ataque, como o Drogba, da Costa do Marfim, e Eto'o, de Camarões.

O conjunto das seleções é bom. O fato de uma equipe estar jogando a Copa do Mundo quer dizer que ela tem qualidade. E, hoje em dia, um jogador só não faz a diferença. O futebol está em um nível muito alto, em que é o conjunto que importa.

Por que os técnicos europeus são tão bem vistos? É por causa da disciplina?

Por causa da disciplina, do método de trabalho. Boa parte das equipes que vai para a Copa tem treinadores estrangeiros, principalmente as africanas. Eles tendem a procurar treinadores europeus e brasileiros também.

Já que o centro mundial do futebol é a Europa, procuram-se mais os profissionais daqui. Tanto treinadores como jogadores. Acho que o futebol europeu é o mais forte do mundo. O futebol sul-americano tem muitos talentos, mas o europeu tem a maior força.

Quando e como começou a sua carreira no futebol?

Comecei tarde, com 21 anos. Já estava até desistindo do futebol profissional, porque tinha feito testes em algumas equipes - no Paulista de Jundiaí, no Juventus de São Paulo e Guarani - e não havia tido êxito. Em 2000, montaram uma equipe profissional na minha cidade, Campo Limpo Paulista, fiz o teste e passei.

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Grafite com o bósnio Dzeko, seu colega no Wolfsburg (à esquerda)Foto: picture-alliance/ dpa

Depois que me profissionalizei, tive êxito em todos os clubes por que passei. Apenas em um ou dois não consegui desempenhar um bom trabalho, mas sempre fui bem recebido, deixei portas abertas. Fico contente por isso.

Sinto um pouco de dificuldade por não ter aprendido nas categorias de base, mas continuo aprimorando até hoje alguns fundamentos, como finalização e cabeçadas. Sou um caso meio raro no futebol.

Houve algum caso na sua família de alguém que jogou futebol ou foi técnico?

Na minha família nunca teve um profissional ligado ao futebol, eu sou o primeiro. O meu pai jogou futebol, mas só em times amadores de bairro. Meus irmãos chegaram a jogar, mas profissionalmente só eu consegui atingir um nível profissional.

Você chegou a pensar em ser outra coisa?

Quando eu tinha 20 anos, já estava desistindo, porque para conseguir entrar em um clube profissional com essa idade é difícil. Foi a carreira dos meus sonhos. Com esta idade, já estava começando a me preocupar com o que seria da minha vida. Eu vendia saco de lixo pra ajudar no sustento da família e, na época, eu já tinha uma filha de dois anos.

O trabalho estava tomando mais conta da minha vida do que o próprio futebol. E eu estudava na época. Então, já estava começando a desistir. Mas em 2000 surgiu essa oportunidade e eu falei: deve ser a última da minha vida, vou tentar.

O que você aconselha a jovens jogadores no Brasil e na Alemanha?

Acreditar no sonho. Tem que acreditar que tudo é possível, saber que vai haver muita dificuldade, muitas barreiras pela frente e não desistir logo na primeira. E estudar, o que também é importante para o futuro.

Qual foi o momento mais importante da sua carreira?

Ter chegado à seleção brasileira. Jogar com a camisa da seleção e fazer gol, o que é mais importante ainda. E ter realizado todos os meus sonhos como jogador. Conforme você vai conquistando objetivos na carreira, você vai tendo novos sonhos. Mas se eu parar de jogar futebol hoje, vou poder falar para minhas filhas e netos que consegui atingir todos os meus sonhos em nível profissional.

Do que você mais gosta na Alemanha?

Nas folgas, viajamos pela Alemanha e conhecemos outras cidades. O alemão é um povo que me recebeu muito bem, de braços abertos, e com carinho. Me sinto uma pessoa muito querida aqui na Alemanha. Não só pelo que faço, mas pela pessoa que sou.

Bundesliga Hannover gegen Wolfsburg
Com Magath, Wolfsburg foi campeão alemãoFoto: AP

Acho que não tem como não gostar daqui. Não gosto muito do frio, mas me acostumei, já estou há quatro anos na Europa e vou completar três na Alemanha. Aqui a vida é sossegada. Sei que minhas filhas vão crescer com segurança e tranquilidade e vão ter uma boa educação. É um povo muito educado. Sei que minha família está bem instalada.

Tenho mais três anos e meio de contrato e pretendo continuar aqui, trabalhando pelo Wolfsburg ou em outro clube na Alemanha, um país do qual aprendi a gostar muito.

O que você associa em primeiro lugar à Alemanha? Quem é a primeira personalidade que lhe vem à cabeça, sem ser Schumacher, Boris Becker ou Beckenbauer?

Felix Magath. Ele é um ícone alemão pelo que vem fazendo nos últimos anos, pelo que já fez pelo futebol alemão, por sua qualidade. Quando se fala em Alemanha, penso em Magath ou no frio.

Edinaldo Batista Libânio – ou Grafite – nasceu em Jundiaí, São Paulo, em 2 de abril de 1979, e cresceu em Campo Limpo Paulista. Desde 2007, atua na Bundesliga como atacante do Wolfsburg, clube do norte da Alemanha, com o qual foi campeão nacional em 2009. Neste mesmo ano, foi o artilheiro do campeonato, com 28 gols.

Entrevista: Roselaine Wandscheer

Revisão: Soraia Vilela